Varia Historia inaugura o Prêmio Ciro Flávio Bandeira de Mello

Maria Thereza Magalhães Gomes de Santana, bolsista no periódico Varia Historia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil

O periódico Varia Historia criou em 2017 o Prêmio Ciro Flávio Bandeira de Mello, distinção interessada em premiar, anualmente, o melhor artigo publicado. A proposta é que o júri seja sempre composto pelo Editor-chefe, um ou mais membros do Comitê Editorial e por um membro externo ao periódico. Os critérios para eleição do melhor artigo foram estabelecidos e são os seguintes: clareza e objetividade do título e abstract; colocação precisa do problema; metodologia; debate com a historiografia pertinente; adequação do tamanho do texto às normas do periódico; adequação de figuras e tabelas (quando for o caso); contribuição para o campo de pesquisa; originalidade; uso de fontes; e qualidade geral (incluindo estilo de escrita).

A premiação carrega o nome de Ciro Flávio Bandeira de Mello — professor que atuou no Departamento de História da UFMG e foi o responsável por idealizar e fundar, em 1985, o periódico, à época chamado “Revista do Departamento de História da Universidade Federal de Minas Gerais”. De acordo com entrevista concedida pela Profa. Dra. Regina Horta Duarte, Ex-editora-chefe do periódico, em ocasião da comemoração dos 30 anos, aquela “era uma época difícil, em que não havia recursos, e o professor Ciro precisou vender rifas para viabilizar o primeiro número. Mas a revista, que começou caseira, ainda fora dos padrões acadêmicos, foi muito importante como forma de estímulo aos alunos de graduação e aos pesquisadores do Departamento de História” (DUARTE, 2017).

Em sua primeira edição, em 2017, o Prêmio Ciro Flávio contou com um júri composto por Regina Horta Duarte, professora titular de História do Brasil na Universidade Federal de Minas Gerais e Editora-chefe de Varia Historia entre 2015 e 2017, Ana Paula Sampaio Caldeira, professora adjunta de Prática de Ensino em História/ Teoria da História da Universidade Federal de Minas Gerais e Editora-chefe do periódico a partir de 2018, e Andrea Lisly Gonçalves, professora titular do Departamento de História da Universidade Federal de Ouro Preto. Foi premiado o artigo “Negócios, ciência e política: O Instituto Behring de Terapêutica Experimental no Rio de Janeiro e o mercado latino-americano de produtos biológicos” (v. 33, n. 63), publicado em português e em inglês por Juliana Manzoni Cavalcanti e Magali Romero Sá.

O artigo vencedor analisa a atuação do Instituto Behring de Terapêutica Experimental do Rio de Janeiro — primeira filial da firma alemã Behringwerke (BW) na América Latina — entre 1932 e 1943, anos, respectivamente, de sua fundação e de seu confisco pelo governo brasileiro. O objetivo do texto era mapear o desenvolvimento da pesquisa e do mercado relativo aos produtos biológicos nos anos 1930 e 1940 no continente. As autoras partem do pressuposto de que “as análises sobre os mercados de medicamentos sintéticos e de origem biológica produzidas pela BW são uma fonte inestimável para compreendermos a relação entre ciência, indústria e política” (CAVALCANTI; SÁ, 2017, p. 660).

A pesquisa vai ao encontro dos esforços recentes da área da história das ciências em superar as abordagens internalistas e externalistas, tratando seu objeto de pesquisa a partir de uma perspectiva “mais questionadora que enxerga a prática científica como uma atividade humana impregnada pelos valores sociais de certa sociedade, localidade e temporalidade” (p. 662). Guardando sua peculiaridade, que é a de se debruçar sobre uma empresa, as autoras reiteram que as organizações de negócios estão mais relacionadas à história nacional do que aos indivíduos que a representam, pois são entidades legais e, por isso, os homens de negócio têm sua ação restrita por procedimentos instituídos pela legislação empresarial — enquanto que a evolução da organização e administração das empresas, no geral, acompanham as mudanças históricas gerais.

Nesse sentido, Cavalcanti e Sá reiteram que “o entendimento dos valores que sustentam as culturas nacionais é um bom caminho para se compreender a história das empresas” (p. 663). — Partindo-se disso, analisam a ação e a expansão da Behringwerk como pertencente a uma sociedade fortemente marcada pelo nacionalismo e pelo expansionismo do período entreguerras. Assim, a inauguração do Instituto Behring de Terapêutica Experimental no Rio de Janeiro foi crucial para o desenrolar do plano de expansão comercial da empresa Behringwerke para a América Latina, que mais tarde contaria com filiais em Buenos Aires (1935), em Bogotá (1939) e na Cidade do México (1939).

Além do artigo vencedor, a premiação também concedeu menção honrosa ao artigo de David Martín Marcos e Rodrigo Bentes Monteiro: “Penachos de ideias. A Guerra de Sucessão da Espanha e a formação de Pedro Miguel de Almeida Portugal, 3º conde de Assumar” (vol. 33, n. 61).

Este artigo aborda a formação de Pedro Miguel de Almeida Portugal (1688-1756) — que viria a ser o 3º conde de Assumar — a partir de sua atuação na Guerra de Sucessão Espanhola (1701-1714) e de sua relação com o pai, João de Almeida Portugal, 2º conde de Assumar. O objetivo dos autores é justamente entender como o itinerário de Pedro Miguel de Almeida Portugal “no exército aliado e a estada em Barcelona propiciaram um incremento político-cultural na formação daquele futuro conde de Assumar” (MARCOS; MONTEIRO, 2017, p. 261).

Passando por uma revisão historiográfica sobre a participação portuguesa na Guerra de Sucessão espanhola, os autores vão ao encontro de outros pesquisadores que buscam entender o conflito como uma conjuntura de especial interesse na promoção do ethos guerreiro da nobreza lusitana. Empreendem, então, nessa chave investigativa, a análise das trajetórias dos dois condes de Assumar, empregando maior atenção à formação de Pedro Miguel — sempre entre as letras e as armas, fato que justifica a divulgação escrita dos seus feitos e os de seu pai. As trajetórias do filho general e do pai embaixador, além do mais, evidenciam os papéis relevantes que estes desempenharam para a monarquia portuguesa, principalmente na representação política e militar desta no além-mar.

Os artigos citados podem ser acessados online e gratuitamente na plataforma SciELO, assim como todos os números e artigos da Varia Historia. Além disso, convidamos os leitores a acessarem nosso canal no Youtube.

Referência

DUARTE, R. H. Trecho de entrevista. In: RIGUEIRA JR., Itamar. Muita história: Revista Varia Historia comemora 30 anos com planos de melhorar indexação e intensificar inserção internacional. Boletim, Nº 1895, ano 41, 16 mar. 2015. Disponível em: https://www.ufmg.br/boletim/bol1895/8.shtml

Para ler os artigos, acesse

CAVALCANTI, J. M. and SA, M. R. Negócios, Ciência e Política: O Instituto Behring de Terapêutica Experimental no Rio de Janeiro e o mercado latino-americano de produtos biológicos. Varia hist. [online]. 2017, vol. 33, no. 63, pp. 659-705, ISSN 0104-8775 [viewed 16 February 2018]. DOI: 10.1590/0104-87752017000300006. Available from: http://ref.scielo.org/5rhvwh

MARCOS, D. M. and MONTEIRO, R. B. Penachos de ideias. A Guerra de Sucessão da Espanha e a formação de Pedro Miguel de Almeida Portugal, 3o conde de Assumar. Varia hist. [online]. 2017, vol. 33, no. 61, pp. 253-284, ISSN 0104-8775 [viewed 16 February 2018]. DOI: 10.1590/0104-87752017000100011. Available from: http://ref.scielo.org/526hrf

Links externos

Varia Historia – VH: www.scielo.br/vh

Site Varia Historia – www.variahistoria.org

Canal Varia Historia – https://www.youtube.com/channel/UCD4EbWEXNyTAirlemvy3UPw

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

Varia Historia inaugura o Prêmio Ciro Flávio Bandeira de Mello [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2018 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2018/03/09/varia-historia-inaugura-o-premio-ciro-flavio-bandeira-de-mello/

 

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