Quais motivos levam as reinternações psiquiátricas?

Gabriela Lemos de Pinho Zanardo, doutoranda do PPG-Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil

Kátia Bones Rocha, professora do PPG-Psicologia Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil

O artigo “Fatores associados às reinternações psiquiátricas: uma revisão sistemática”, publicado no periódico Paidéia (v. 28), teve como objetivo analisar os critérios que definem as Reinternações Psiquiátricas Frequentes (RPF) e fatores associados a elas divididos em três eixos: dados sociodemográficos, clínicos e rede de atenção. A literatura científica indica que as frequentes crises aumentam os riscos de deterioração cognitiva e da cronicidade da doença, além de as internações repetidas serem gatilhos para a quebra dos vínculos familiares e comunitários (BEZERRA; DIMENSTEIN, 2011; DIMENSTEIN et al., 2012; RAMOS et al., 2011).

Assim, o estudo publicado sistematizou 26 pesquisas publicadas entre 2010-2014. Essas pesquisas foram realizadas na Europa (8), Estados Unidos (5), Ásia (3), Austrália (3), Brasil (2), Colômbia (2), Canadá (1) e África do Sul (1). Foi flagrante a escassez de estudos nacionais nessa área já que apenas dois artigos brasileiros foram encontrados, o que demonstra a necessidade de maior investigação e investimento para suprimir lacunas na produção do conhecimento no país.

Não foi encontrado um critério único para a caracterização do “fenômeno da porta giratória” em termos de número de internações e o período estabelecido para contabilizá-las, por exemplo. Esse dado é importante, pois se destaca a necessidade de definir parâmetros para caracterizar as reinternações frequentes, já que esse pode ser um dos fatores que interfere em sua ocorrência. As taxas de RPF tiveram uma ampla variação, de menos de 10% a mais de 80%, levando em consideração períodos entre um mês e sete anos, sendo o período mais utilizado de 12 meses, conforme verificado na Tabela 1.

Os resultados mais consistentes apontam que pessoas jovens, solteiras, com menor apoio social e com internações involuntárias têm maior chance de apresentar RPF. Em contrapartida, estar casado e possuir apoio social e familiar parecem ser fatores protetivos para as reinternações, assim como as intervenções realizadas em serviços de base comunitária parecem reduzir as RPF.

Considerando as altas taxas encontradas em diferentes contextos, destaca-se ainda a importância da indicação da internação somente quando os recursos extra hospitalares forem insuficientes no cuidado em momentos de fragilidade e risco. Assim como, pensar estratégias para melhorar o vínculo entre os diferentes serviços da rede e qualificar a atenção aos problemas de saúde mental.

A síntese dos estudos revisados permitiu identificar a necessidade de se criar intervenções e ferramentas que auxiliem no cuidado continuado e em rede e na adesão ao tratamento, com intuito de evitar ou diminuir as (re)internações.

Referências

BEZERRA, Cíntia Guedes; DIMENSTEIN, Magda. O fenômeno da reinternação: um desafio à Reforma Psiquiátrica. Mental, v. 9, n. 16, p. 303-326, 2011. ISSN 1679-4427 [viewed 24 July 2018]. Available from: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-44272011000100007&lng=pt&nrm=iso

DIMENSTEIN, Magda. et al. O atendimento da crise nos diversos componentes da rede de atenção psicossocial em Natal/RN. Revista Polis e Psique, v. 2, n. 3, p. 95-127, 2012. ISSN: 2238-152X [acessado 24 julho 2018]. Available from: http://seer.ufrgs.br/index.php/PolisePsique/article/view/40323/25630

RAMOS, D. K. R., GUIMARAES, J. and ENDERS, B. C. Análise contextual de reinternações frequentes de portador de transtorno mental. Interface (Botucatu) [online]. 2011, vol.15, n.37, pp.519-527. ISSN 1414-3283. [viewed 3 October 2018]. DOI: 10.1590/S1414-32832011005000015. Available from: http://ref.scielo.org/gr2ynx

Para ler o artigo, acesse

ZANARDO, G. L. P., MORO, L. M., FERREIRA, G. S. and ROCHA, K. B. Factors Associated with Psychiatric Readmissions: A Systematic Review. Paidéia (Ribeirão Preto) [online]. 2018, vol.28, e2814. ISSN 0103-863X. [viewed 4 October 2018]. DOI: 10.1590/1982-4327e2814. Available from: http://ref.scielo.org/kcp45f

Link externo

Paidéia (Ribeirão Preto) – PAIDEIA: www.scielo.br/paideia

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

ZANARDO, G. L. P. and ROCHA, K. B. Quais motivos levam as reinternações psiquiátricas? [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2018 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2018/10/04/quais-motivos-levam-as-reinternacoes-psiquiatricas/

 

One Thought on “Quais motivos levam as reinternações psiquiátricas?

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