As agentes comunitárias de saúde perdem o elo com a comunidade

Anna Violeta Durão, professora-pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

tes_logoAnna Violeta Ribeiro Durão e Clarissa Alves Fernandes de Menezes, respectivamente professoras-pesquisadoras da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio e da Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado Rio de Janeiro, analisam sob uma perspectiva de gênero a profissionalização das agentes comunitárias de saúde (ACSs) no município do Rio de Janeiro. A pesquisa que ambas realizaram – “Processo de qualificação de trabalhadores técnicos em saúde: aspectos da qualificação profissional no SUS”, de 2010 a 2012 – resultou no artigo “Na esteira de E.P. Thompson: relações sociais de gênero e o fazer-se agente comunitária de saúde no município do Rio de Janeiro”.

Conforme menção no resumo do artigo, publicado no volume 14, número 2 de 2016 da revista Trabalho Educação e Saúde, “com as novas formas de gestão realizadas pela Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil, as agentes vêm se distanciando das comunidades atendidas, perdendo, desta maneira, o diferencial [o elo] que dava significado e reconhecimento ao seu trabalho”.

O referencial teórico amparou-se no historiador britânico Edward Palmer Thompson, que buscava perceber em suas análises a relação entre o modo de produção e a consciência social, recuperando as experiências históricas construídas por homens e mulheres no embate entre classes.

As autoras destacam o protagonismo das ACSs junto aos usuários na implantação do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) no município do Rio de Janeiro, examinando a orientação, não manifesta, da política em contratar mulheres e sua relação com os anseios dessas trabalhadoras. Sublinham que foi no trabalho com a comunidade que construíram a sua identidade profissional e ganharam certo reconhecimento social.

Atualmente, com as novas formas de gestão, na qual se prioriza a produção por meta, a competição, o controle das tarefas, entre outros aspectos, a dimensão relacional do seu trabalho vem perdendo terreno, conforme uma ACS entrevistada na pesquisa destaca: “Agora você tem todo um sistema de informação que você tem que alimentar. Então você deixa de ser aquela pessoa que está lá no campo, observando todo o entorno, porque você tem que estar na unidade alimentando [o sistema]”. As autoras sublinham que os espaços nos quais as agentes estabeleciam um contato mais humanizado com a população passam a ser secundarizados, desvalorizando as habilidades que foram culturalmente construídas como atributo feminino.

Anna Durão e Clarisse Menezes evidenciam a importância dessa dimensão do trabalho para a ampliação do Sistema Único de Saúde, ressaltando que era esperado que essas habilidades “deixassem de ser entendidas como inatas à natureza feminina e, como tal, tivessem um reconhecimento pontual e se expressassem também na relação contratual, em melhores condições de trabalho, no salário e na formação” (p. 371).

Para ler o artigo, acesse

DURAO, A. V. R. and MENEZES, C. A. F. de. Na esteira de e.p. thompson: relações sociais de gênero e o fazer-se agente comunitária de saúde no município do rio de janeiro. Trab. educ. saúde [online]. 2016, vol.14, n.2, pp.355-376. [viewedth 16 June 2016]. ISSN 1678-1007. DOI: 10.1590/1981-7746-sol00011. Available from: http://ref.scielo.org/tkq37r

Link externo

Trabalho, Educação e Saúde – TES: www.scielo.br/tes

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

DURÃO, A. V. As agentes comunitárias de saúde perdem o elo com a comunidade [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2016 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2016/06/29/as-agentes-comunitarias-de-saude-perdem-o-elo-com-a-comunidade/

 

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  1. Pingback: O trabalho precarizado em saúde: a organização e a resistência das mulheres agentes comunitárias | SciELO em Perspectiva: Humanas

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