Rosa Emilia Moraes, Jornalista Científica, Linceu Editorial, São José dos Campos, SP, Brasil.
A fim de explorar as possibilidades futuristas dos cenários de justiça social em uma região permeada pelas consequências do exercício da necropolítica, um grupo de dezesseis profissionais de diversas disciplinas utilizaram as técnicas do psicodrama e sociodrama no desenvolvimento do projeto “Microlaboratorio de escenarios de justicia social en Nuevo León”, desenvolvido no Laboratorio Ciudadano de Nuevo Leon (LABNL) em Monterrey, México.
Desta empreitada originou-se o artigo Cuerpo y Narrativa: Escenas Sociodramáticas Desde la Cotidianidad Necropolítica Mexicana, publicado na Revista Brasileira de Psicodrama (vol.32, e0324) e inspirado pela proposta: “Que questões de nossos países atravessam nossas instituições?”, título de uma das mesas do XIV Congresso Ibero-Americano de Psicodrama realizado em Florianópolis, Brasil.
Este projeto transdisciplinar faz parte do processo de pesquisa da tese de doutorado de David Ordaz Bulos, desenvolvido na Universidad de las Américas Puebla. Neste projeto, o autor buscou traçar um macro panorama da realidade social no México e os efeitos da necropolítica nas instituições do país.
Imagem: David Ordaz Bulos, Março 2023.
La Plaza de las y los Desaparecidos, fotografia tirada do oitavo andar da LABNL
Introduzido por Achille Mbembe (2011), o conceito de necropolítica relaciona pobreza, violência e desequilíbrio ambiental com políticas estatais de controle sobre a vida e a morte. Nesse contexto, o objetivo do trabalho foi projetar o futuro a partir de uma leitura do presente, imaginando os cenários futuros de justiça social em Nuevo León até 2033.
Num primeiro momento, o autor fundamenta sua análise sobre a necropolítica exercida no México citando vários autores e teorias. A seguir, passa a descrever a experiência sociodramática: nesse estágio, foram realizadas três oficinas com dinâmicas de aquecimento e dramatizações focadas em temas como direitos das mulheres, manifestações, inteligência artificial, relações interespécies, corporalidade e mídia.
Após essa fase sociodramática, o grupo passou a elaborar a experiência, na forma de estudos futuros para obter tendências sobre justiça e desigualdade. Os textos e imagens dos cenários e personagens foram desenvolvidos com a ajuda de inteligência artificial. Os resultados estão dispostos na página Wiki do LABNL (ver referências).
O estudo possibilitou compreender a subjetividade de um grupo e sua relação com o meio ambiente, abrindo uma perspectiva sobre o leque de afetos comuns e apoiando a construção de ações coletivas baseadas em dramas individuais causados pelas desigualdades. Com seu trabalho, o autor visa estimular e multiplicar a experiência no México, lembrando que Vicentin (2020) descreve o psicodrama como um dispositivo capaz de trazer uma noção de comum ao indivíduo por meio do conhecimento do corpo e das lutas atuais. Tal ideia está ligada à cultura experimentalista dos chamados laboratórios cidadãos, cuja finalidade é construir o bem comum a partir de um grupo de heterogeneidades (LaFuente, 2022).
Referências
LAFUENTE, A. Itinerarios comunes: Laboratorios ciudadanos y cultura experimental. Ned Ediciones, 2022.
MBEMBE, A. Nekropolitik. In: Pieper, M., et al. (ed.), Biopolitik – in der Debatte. https://doi.org/10.1007/978-3-531-92807-4_3. VS Verlag für Sozialwissenschaften, 2011 [viewed 4 July 2024].
VICENTIN, M.C.G. Prefácio. DEDOMENICO, A.M. and MERENGUÉ, D. (orgs.) Por uma vida espontânea e criadora: Psicodrama e política. São Paulo: Ágora, 2020.
MORAES, R.E. O Psicodrama que constrói cidadania e justiça social no combate a necropolítica [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2024 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2024/07/04/o-psicodrama-que-constroi-cidadania-e-justica-social-no-combate-a-necropolitica/
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