Leitura corpórea e inventiva de registros de movimento

Mônica Medeiros Ribeiro, Professora do Departamento de artes Cênicas da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil.

Imagem da obra Aldebaran, do Grupo Oficcina Multimédia. Fonte: Arquivo pessoal do Grupo. Autor: fotógrafo Netun Lima, 2013.

O artigo “De registros a reflexões sobre o corpo em processo de criação”, publicado na Revista Brasileira de Estudos da Presença (vol. 10, no. 4), apresenta uma reflexão sobre o corpo em processo de criação. A artista e pesquisadora Mônica Medeiros Ribeiro, fala sobre o corpo nas artes da cena estudando os registros dos movimentos desenhados pela diretora do Grupo Oficcina Multimédia — Ione de Medeiros — durante o processo de criação da obra Aldebaran (2013). A ideia foi estudar o traço do desenho e seu entorno com o objetivo de pensar sobre o corpo que cria no processo de montagem de uma obra cênica. Assim, o registro de movimento, sob a forma de desenho, foi considerado instância mnemônica performativa, que, além de promover a atualização da memória do processo, mobiliza novas experiências inventivas.

Esse estudo foi realizado por meio da observação inventiva, da leitura corpórea e da revisão da literatura. A observação foi concebida como ato de invenção — tecido de razão e emoção —, que nos sensibiliza para percebermos como o desenho nos afeta rumo a outras criações. Ao passo que o desenho era observado, o corpo da pesquisadora dançava o que ela via-sentia, realizando uma leitura corpórea do registro. Para construir a reflexão acerca da experiência de dançar o que se vê-sente, somou-se aos procedimentos metodológicos a revisão da literatura. O campo teórico das ciências cognitivas foi acessado para fundamentar a noção de ressonância — gerada entre o desenho e o corpo da artista-pesquisadora. Assim a reflexão em movimento se deu por meio da composição poética com vestígios do processo de criação. O procedimento compositivo foi viabilizado pela improvisação corporal, compreendida como composição no instante. Desde o final do século XX, pode-se notar a ampliação nos modos de arquivamento, tratamento e estudo de registros de movimento em processos de criação em dança. Para conhecer um banco de dados focado nos estudos inventivos sobre os registros de dança, o texto cita o Motion Bank, criado por William Forshythe em parceria com Scott de Lahunta. No Brasil, a artista de dança Thembi Rosa tem desenvolvido estudos aprofundados acerca do registro ao compreender o arquivo como invenção.

A pesquisa realizada afirma e sublinha a importância dos estudos de processos de criação no sentido não apenas de conhecer como o mesmo se deu, mas, principalmente, de trabalhar na dimensão performativa dos registros de processo. Desse modo, o ato de registrar o movimento pode gerar mais que reproduções de obras de dança. Importa dizer que para que se concretize a dimensão performativa do registro, é necessária a presença de um pesquisador  que não se atenha ao objetivo da representação e reprodução, e sim que esteja atento ao seu próprio corpo para perceber como aquilo que olhamos pode nos afetar poeticamente. Além disso, percebemos que, nesse encontro entre o corpo em movimento e o desenho do movimento, opera a ressonância corpórea. Essa é constituída de processos corporais como a imitação, a simulação interna, mediada pelos conhecidos neurônios espelho. A ressonância entre os corpos, do desenho e do objeto, está ancorada na cultura e na subjetividade e somente se realiza por meio da integração sensorial — visão e cinestesia —, o que permite-nos ressaltar a indissociabilidade entre o sistema sensorial, o sistema motor, a imaginação, a razão e emoção.

Praticar a percepção das ressonâncias possíveis operadas entre corpos nos possibilita a atualização de nosso repertório de movimentos, o exercício da alteridade e o aprimoramento do sentido de coletividade inerente à criação de obras cênicas. Estimulamos, portanto, não somente a prática de registrar processos de criação — com desenhos, textos, fotos — como também o estudo dos processos de modo inventivo e performativo.

Para ler o artigo, acesse

RIBEIRO, M. M. De registros a reflexões sobre o corpo em processo de criação. Rev. Bras. Estud. Presença [online]. 2020, vol. 10, no. 4, e100061. ISSN: 2237-2660 [viewed 15 December 2020]. https://doi.org/10.1590/2237-2660100061. Available from: http://ref.scielo.org/gb9qsh

Links Externos:

Revista Brasileira de Estudo da Presença – De Registros a Reflexões sobre o Corpo em Processo de Criação: https://www.seer.ufrgs.br/presenca/article/view/100061
Revista Brasileira de Estudo da Presença – RBEP: www.scielo.br/rbep
Revista Brasileira de Estudo da Presença – v. 10, n. 4 (2020): https://www.seer.ufrgs.br/presenca/issue/view/3828

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

RIBEIRO, M. M. Leitura corpórea e inventiva de registros de movimento [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2020 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2020/12/15/leitura-corporea-e-inventiva-de-registros-de-movimento/

 

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