Flávia Lobato, Assessora de comunicação da Machado de Assis em Linha – revista eletrônica de estudos machadianos, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
O papel das artes na escrita de um virtuose da literatura nacional. Com este enfoque, Machado de Assis em Linha apresenta sua edição 26, o dossiê temático sobre a música e o teatro na obra de Machado de Assis. Organizado por Juracy Assmann Saraiva (Universidade Feevale) e Marcelo Diego (Universidade Federal do Rio de Janeiro), o dossiê é composto por cinco artigos, que convidam o público a apreciar referências culturais e estéticas do escritor.
Autor de diversos gêneros — e também de críticas teatrais e de pareceres para o Conservatório Dramático —, Machado decepcionou-se com os rumos da cena nacional. É o que mostra Alessandra Vannucci (Universidade Federal do Rio de Janeiro), em “Ó tempos! Ó saudades! Machado de Assis espectador de teatro”. A retomada das atividades do escritor como avaliador se dá com a publicação de uma série de resenhas sobre a primeira temporada brasileira da atriz italiana Adelaide Ristori, mundialmente consagrada como “rainha das cenas” (ASSIS, 1861, p. 1-2). Assim, o artigo mostra como Machado transita entre os papéis de censor e espectador.
Os pareceres para teatro também entram em cena no artigo “Os fundamentos filosóficos da crítica teatral de Machado de Assis”, de Alex Lara Martins (Instituto Federal do Norte de Minas Gerais). Segundo o pesquisador, Machado se apropria de discursos relacionados à produção filosófica franco-brasileira em meados do século XIX, a fim de estabelecer critérios para julgar obras literárias e emitir pareceres para o Conservatório Dramático (ASSIS; FARIA, 2008).
Em seguida, é a produção de Machado de Assis que fica sob os holofotes. A peça teatral “Lição de botânica” é vista pelas lentes de Paul Dixon (Purdue University, EUA) e Anna-Lisa Halling (Brigham Young University, EUA). Em “Machado e o sentido orgânico: esboço de perspectivas sobre Lição de Botânica”, Dixon destaca o uso, na peça, de metáforas sobre o progresso humano e a evolução das plantas para abordar aspectos culturais como cordialidade e jeitinho brasileiros. Halling, por sua vez, compara a peça do brasileiro a Taming of the Shrew, de Shakespeare.
No artigo “De megera a feminista: a Lição de Botânica de Machado de Assis”, ela observa que o “Bruxo do Cosme Velho” cria personagens femininas fortes, inteligentes e independentes, que se coadunam com ideais feministas.
A intertextualidade também é um aspecto explorado em “Memorial de Aires: entre dramas e acordes, a inflexão para a literatura”. Nele, a pesquisadora Juracy Assmann Saraiva (Universidade Feevale) correlaciona a produção do romance às experiências estéticas do autor, principalmente à ópera Tristão e Isolda, de Richard Wagner (CROWL, 2008).
O dossiê se encerra com “Machado musical: notas sobre música e escrita”. Sob a batuta do ensaísta convidado David Jackson, o público se sintoniza com os ecos da música e da ópera na obra do escritor brasileiro. O ensaio mostra que, conforme a tradição barroca, na ficção machadiana o mundo é um grande palco.
Referências
ASSIS, J. M. M. de; FARIA, J. R. Machado de Assis: do teatro. São Paulo: Perspectiva, 2008.
ASSIS, M. de. Comentários da Semana. Diário do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 16 dez. 1861, p. 1-2.
CROWL, H. A música de Richard Wagner e a sua influência no Brasil. Available from: https://blog.goethe.de/wagner/uploads/RichardWagnereoBrasil.pdf
Para ler os artigos, acesse
Machado Assis Linha vol.12 no.26 São Paulo jan./abr. 2019
Link externo
Machado de Assis em Linha – MAEL: www.scielo.br/mael
Como citar este post [ISO 690/2010]:
Últimos comentários