De consumidores a produtores, indígenas atuam na consolidação de uma literatura própria

Renata Lourenço dos Santos, professora, doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Crítica Cultural na Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Caetité, Bahia, Brasil.

Logo do periódico Educação em Revista UFMGO artigo Literatura Indígena: entre memórias, é resultado de pesquisas e leituras das pesquisadoras Renata Lourenço e Eliana Márcia, sobre a consolidação da literatura escrita por indígenas no Brasil, trazendo um panorama desta produção no país. Uma boa parte desse texto nasce com o projeto de extensão Leituras Nativas, realizado na Universidade do Estado da Bahia (UNEB), campus XXIII, na cidade de Seabra, momento de leituras e debates coletivos de textos originários. A pesquisa se deu por meio de uma revisão bibliográfica e audiovisual sobre os movimentos indígenas, sociais, políticos e culturais, especialmente com artigos e textos escritos por estes povos.

Desde que começou a trabalhar no Ministério das Comunicações com tecnologias em comunidades tradicionais no Brasil, a jornalista e pesquisadora Renata Lourenço entrou em contato e conheceu aldeias indígenas e suas produções culturais, numa troca de saberes com os povos. Nesse percurso, produziu fanzines, vídeos, oficinas, cartazes e rádio livre com os indígenas, que sempre traziam suas demandas e prioridades, aliando a tecnologia às necessidades locais. Uma referência desse trabalho é o Festival de Cinema Indígena Cine Kurumin, que já rodou por aldeias com formação e exibição de cinema indígena, bem como na capital baiana, com grande receptividade dos povos indígenas e não-indígenas.

Foto vários livros dispostos como uma colagem. Os títulos: “A terra dos mil povos”; “Futuro Ancestral”; “A queda do céu”, na capa o rosto pintado de uma pessoa indígna; revista “História - Biblioteca Nacional” com a manchete “Somos índios” e a foto de um homem indígena; outra revista com uma mulher indígena segurando uma criança; “Os povos indígenas frente ao direito autoral e de imagem”, “Nheenguera”, na capa um cocar com plumas azuis/verdes; “Índios na visão dos índios”, na capa o rosto de uma pessoa indígena; “Os donos da terra”, na capa uma pessoa indígena com as mãos na cintura e de frente para um trator de construção; e “Ailton Krenak”.

Imagem: Renata Lourenço, 2023.

No texto, as autoras fazem um histórico dos movimentos sociais e políticos indígenas no Brasil e de como esse caminho colaborou e firmou a escrita e a literatura entre os povos. Elas também traçam algumas diferenças entre literatura indígena, indigenista e indianista, na tentativa de firmar a autoridade e autenticidade da produção feita pelos povos sobre os povos e não mais a partir da voz do outro que fala. Nesse contexto, destaca-se um aumento no número de autores indígenas num caminho de inspiração e pertencimento, geralmente seguindo pioneiros como Eliana Potiguara, Kaká Werá e Daniel Munduruku.

Com a pesquisa foi possível perceber a relação e influência da educação para o começo das escritas indígenas, bem como o surgimento da editoria indígena em grandes editoras e seu aumento progressivo com mais lançamentos, mais autores e constantes destaques em feiras literárias. Por exemplo, os livros Como adiar o fim do Mundo, de Ailton Krenak, e A queda do Céu, de Davi Kopenawa, atingiram números importantes para o setor.

Os povos indígenas têm muito a dizer aos demais povos, seja escrevendo, cantando, ritualizado ou pintando em seus corpos. Estudar sua literatura é uma possibilidade de se aproximar tanto de sua história como de conhecer a história do Brasil e de cada brasileiro. Se ainda não conhece os escritos indígenas, vale muito a pena conferir e adentrar nesse contexto de profundo respeito à natureza e de sabedoria ancestral. Boa leitura!

Referências

BANIWA, G.S.L. O Índio brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje. Brasília: Ministério da Educação, 2006

FLICHINHA: Infâncias e Literaturas nativas. TV Uneb Seabra. YouTube. 2020 [viewed 31 March 2023]. 1h32min10s. Available from: https://www.youtube.com/watch?v=GpI8hwSZcj8

GRAÚNA, G. Contrapontos da Literatura Indígena contemporânea no Brasil. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2013.

ÍNDIO CIDADÃO? Direção: Rodrigo Siqueira. Brasília: 7g Documenta, 2014.

JEKUPÉ, O. Literatura escrita pelos povos indígenas. São Paulo: Scortecci, 2009.

KRENAK, A. and COHN, S. Encontros: Ailton Krenak. Rio de Janeiro: Azougue, 2015.

Professor Edson Kayapó e a importância da Literatura Indígena. Daniel Munduruku. YouTube. 2015 [viewed 31 March 2023]. 4 min27s. Available from: https://www.youtube.com/watch?v=sIQ5KFhF2dU

Para ler o artigo, acesse

CARVALHO, E.M.S. and SANTOS, R.L. Literatura Indígena: Entre memórias. Educ. rev. [online]. 2023, vol. 39, e38419 [viewed 31 March 2023]. https://doi.org/10.1590/0102-469838419. Available from: https://www.scielo.br/j/edur/a/t89qs8VFNXD66bM5Jg3NM5J/

Links externos

Educação em Revista – EDUR: www.scielo.br/edur/

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

SANTOS, R.L. De consumidores a produtores, indígenas atuam na consolidação de uma literatura própria [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2023 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2023/03/31/de-consumidores-a-produtores-indigenas-atuam-na-consolidacao-de-uma-literatura-propria/

 

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