Como o “internetês” afeta a ortografia de jovens em vulnerabilidade

Matheus Gomes Guerra, aluno da Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil.

Izabela de Alcantara Magalhães, aluna da Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil.  

Juliana Gomes Costa, aluna da Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil. 

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Supõe-se que “escrever errado”, usar jargões, “internetês” e variações típicas digitais prejudicam a ortografia de adolescentes que estudam em áreas vulneráveis. Nesse sentido, o artigo em espanhol Norma digital y competencia ortográfica de adolescentes en contextos vulnerables: un estudio de casos, publicado na Texto Livre (vol. 16, 2023), procurou entender as influências dos “textismos” — inovações típicas do jargão on-line — na escrita formal de adolescentes espanhóis.

Na pesquisa, analisou-se a escrita de adolescentes andaluzes entre 14 e 16 anos em termos de ortografia e ocorrência de “textismos” na escrita. O estudo afirma que não é possível declarar, de maneira geral, que o “internetês” não afeta a norma acadêmica de quem o usa. Ao comparar as áreas carentes e não-carentes, identificou-se a utilização de diferentes tipos de “textismos” em cada contexto. Além disso, notou-se também a importância de entender os motivos pelos quais esses “textismos” se manifestam em áreas carentes.

A pesquisa foi realizada por Olga Fernández-Juliá e Alejandro Gómez-Camacho, professores da Universidade de Sevilla, membros do Departamento de Didática da Língua, Literatura e Filologias. Ao buscar respostas para o grande volume de especulações e teorias sobre o impacto do uso de tecnologias nas gerações nativas digitais, os pesquisadores reuniram mensagens reais de WhatsApp, trocadas entre os mais de 100 jovens participantes e seus colegas, para então realizar uma análise completa sobre elas.

Com esse trabalho, os autores fornecem análises fundamentadas do impacto da escrita digital na competência ortográfica dos alunos. Além disso, essas análises ilustram como, em amostras socioeconômicas diferentes, observam-se fenômenos diversos. Todo o levantamento e a organização dos dados se baseiam no conceito de “textismos” registrado previamente pelo coautor Gómez-Camacho (2023) em publicação anterior.

Fotografia de uma pessoa segurando um celular com as duas mãos, que estão apoiadas sobre uma revista aberta. A imagem é focada nas mãos, sem mostrar o restante do corpo.

Imagem: Pixabay.

Nesse contexto, os resultados comprovam a importância da comunicação digital, indicando o nível de uso de recursos do “internetês” tanto por alunos de escolas em Zonas com Necessidades de Transformação Social (ZNTS) quanto por aqueles que se encontram em Zonas sem Necessidades de Transformação Social (situação não-vulnerável). Em contrapartida, a pesquisa apresenta os pontos de divergência presentes nos indicadores de cada grupo de alunos. Por exemplo, para alunos de escolas carentes (ZNTS), a junção, o encurtamento e o uso de palavras da língua inglesa são menos recorrentes e, por outro lado, os “textismos” multimodais — figuras e emojis — têm quase o triplo de ocorrência.

Ademais, os dados estatísticos obtidos apontam como cada tipo de “textismo” está relacionado à pontuação, à acentuação gramatical e aos “erros” ortográficos cometidos por ambos os grupos. Assim sendo, afirma-se que as estratégias comunicativas em meio digital estão cada vez mais comuns e refletem diferentemente as realidades existentes. Da mesma forma que os dados variam conforme o contexto social e educacional de cada aluno, a abordagem gramatical e o foco didático também devem ser adaptados e condizentes com a necessidade deles. Portanto, os resultados desse estudo são relevantes para que novas formas de ensino e aprimoramento da ortografia possam ser desenvolvidas nas escolas.

A pesquisa realizada abre caminhos para estudos com maior enfoque em cada recorte social e sua relação com a linguagem digital, além de trazer à tona a necessidade de estudos similares para outras línguas e faixas etárias. A partir dos dados coletados por Fernández-Juliá e Gómez-Camacho, abrem-se diversas possibilidades para o desenvolvimento de estratégias didáticas no ensino de ortografia aos jovens, bem como de estudos sociolinguísticos sobre o “internetês”.

Referências

GÓMEZ-CAMACHO, A., et al. Youthdigital writing on WhatsApp and the teaching of spelling. Comunicar [online]. 2023, vol. 31, no. 77, pp. 1-5 [viewed 17 June 2024]. https://doi.org/10.3916/C77-2023-05. Available from: https://www.revistacomunicar.com/index.php?contenido=detalles&numero=77&articulo=77-2023-05

Para ler o artigo, acesse

FERNÁNDEZ-JULIÁ, O. and GÓMEZ-CAMACHO, A. Norma digital e competência ortográfica de adolescentes em contextos vulneráveis: um estudo de casos. Texto Livre [online]. 2023, vol. 17, e47493 [viewed 17 June 2024]. https://doi.org/10.1590/1983-3652.2024.47493. Available from: https://www.scielo.br/j/tl/a/dwv3bcJPdbHtMRxHV6wh8Kg/

Links externos

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Como citar este post [ISO 690/2010]:

COSTA, J.G.C., GUERRA, M.G. and MAGALHÃES, I.A. Como o “internetês” afeta a ortografia de jovens em vulnerabilidade [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2024 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2024/06/17/internetes-afeta-jovens-em-vulnerabilidade/

 

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