Maria da Graca Jacintho Setton, professora da Faculdade de Educação da USP e editora assistente da revista Educação e Pesquisa, São Paulo, SP, Brasil
Como instância instituída pela sociedade, a escola possui uma organização interna que espelha o mundo fora dela. Nela se encontram adultos e crianças, a convivência entre sexos, entre crenças religiosas e configurações de poder ali urdidas, além das diferenças de comportamento entre os mais resistentes ou mais disciplinados, revela uma rede tensa e diversificada de interações. Por exemplo, o artigo, “A pós-graduação e a pesquisa sobre/na educação básica: relações e proposições”, de Almeida Silva e Jacomini, na contramão do que se divulgou no Plano Nacional de Pós-Graduação de 2011-2020, traz um relato acerca de amplo material de pesquisa que está à disposição das autoridades. Não obstante, os autores alertam que esse saber constituído vem sendo sistematicamente desqualificado.
Por outro lado, o texto “(Des)vinculações de Planos Municipais de Educação metropolitanos com outros instrumentos de gestão local da educação e em Sentidos de política e/de gestão nas pesquisas sobre a escola”, de Souza e Alcantara, considera que a compreensão dos planos e projetos municipais da educação não seriam suficientes para uma gestão eficaz. Para os autores, os PMEs deveriam tecer parcerias constantes com os Planos de Desenvolvimento da Educação, com os Projetos Político-Pedagógicos das escolas e com as Leis do Orçamento.
Na sequência, o artigo “Sobre a legitimação do campo do gênero na ANPEd” registra um trabalho bem-sucedido de quantificar e qualificar as reflexões realizadas na ANPEd nos anos de 2000 a 2011, visibilizando o estado da arte dos estudos de gênero no âmbito educacional. Como argumentam as autoras Ferreira e Coronel, observa-se que este campo de investigação se ampliou e se fortaleceu, mas ainda, sustentam elas, carece de legitimidade.
Se a partir da leitura destes textos buscamos exemplificar a natureza complexa, multidimensional, plural e tensionada dos espaços escolares, não se poderia esquecer a existência da esfera religiosa nos ambientes educativos. Seja na escola rural ou em escolas do campo, seja nos cursos de pedagogia de grandes centros urbanos, há forte e inegável presença da religião no cotidiano institucional. Para contemplar esta problemática, o artigo “Religião, formação docente e socialização de gênero, de autoria de Knoblauch” demonstra como a crença religiosa atravessa a vida dos agentes escolares, e é capaz de orientar condutas que competem com os conhecimentos científicos e seculares produzidos pela universidade.
Em síntese, este número traz boas reflexões sobre diferentes aspectos sociais e pedagógicos inerentes à escola e que exemplificam o contexto plural e multidimensional do espaço escolar bem como dialogam com outros textos importantes sobre tais questões, como o texto de Antônio Candido (1978) e de Georg Simmel (2014).
Referências
CANDIDO, A. A estrutura da escola. In: PEREIRA, L.; FORACCHI, M. M. Educação e sociedade. Rio de Janeiro: Nacional, 1978.
SIMMEL, G. Sociología: estudios sobre las formas de socialización. México, DC: Fondo de Cultura Económica, 2014.
Para ler os artigos, acesse
Educ. Pesqui. vol.43 no.3 São Paulo July/Sept. 2017
Link externo
Educação e Pesquisa – EP: www.scielo.br/ep
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