Estratégias para a prevenção da violência em contexto escolar

Isadora Mendes de Godoy, Estagiária de Comunicação, Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep), Brasília, DF, Brasil.

Logo do periódico Revista Brasileira de Estudos PedagógicosA violência em contexto escolar é uma realidade preocupante no Brasil. Recentemente, o país acompanhou uma série de ameaças e ataques em ambientes escolares, evidenciando a necessidade de mobilização da administração pública e das demais áreas que estão relacionadas à educação para a prevenção desses atos.

Com o fim do isolamento social e a retomada das aulas presenciais, tornou-se ainda mais relevante discutir e traçar estratégias para prevenir os ataques às escolas, uma vez que, pesquisas apontam para os danos à saúde mental de estudantes e adultos envolvidos no contexto (Instituto Península, 2021).

Dessa forma, o artigo Temos projetos e temos polícia: a visão dos diretores sobre as estratégias de prevenção à violência em contexto escolar, publicado no volume 104 da Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos (RBEPED), investiga as percepções de diretores de escolas estaduais em Minas Gerais sobre as medidas de prevenção à violência adotadas nas unidades de ensino sob sua gestão.

Em um primeiro momento, a pesquisa apresenta uma fundamentação teórica sobre o conceito de violência em contexto escolar, partindo da noção de Debarbieux (1997, 2001, 2002) de que “a violência é definida pelas vítimas”. Também se baseia na tipologia de Charlot (2002) para classificar os tipos de evento, incluindo a chamada violência da escola, que se aproxima do conceito de violência simbólica, proposto por Bourdieu e Passeron (1992). Por fim, classifica o tipo de ato violento (agressões físicas, delitos e microviolências) apoiado nas definições de Abramovay (2002).

Em relação à metodologia aplicada, o artigo fez a análise de conteúdo de 79 entrevistas semiestruturadas concedidas por gestores escolares no âmbito de pesquisa da pesquisa “Violência em escolas e programas de prevenção”, realizada no ano de 2012. O estudo coletou dados quantitativos e qualitativos junto a estudantes, professores e gestores e foi coordenado pelo Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da Universidade Federal de Minas Gerais (Crisp/UFMG).

Foto de duas jovens usando mochila. Elas estão de costas, andando na rua e com o braço sobre o ombro uma da outra. Mais a frente, outros jovens estão caminhando.

Imagem: Agência Brasil.

A respeito das escolas analisadas, seis se localizavam em Belo Horizonte, 39 na Região Metropolitana da capital e 34 no interior do estado, as quais ofertavam tanto o ensino fundamental quanto o ensino médio (33) ou a educação de jovens e adultos (34). No que diz respeito ao perfil dos gestores, 49 eram do sexo feminino; 17 tinham até 40 anos, 40 tinham de 41 a 50 anos e 17 estavam com 51 anos ou mais; 14 possuíam formação em Pedagogia, 51 tinham licenciatura em outra área e 5 realizaram um segundo curso externo ao campo da Educação.

As autoras constroem a análise de conteúdo do material da pesquisa seguindo as etapas propostas por Bardin (1977), concentrando-se nas respostas à pergunta central da entrevista: “a escola possui algum projeto visando à prevenção da violência dentro da escola ou na comunidade?”. A partir disso, agruparam as ações mencionadas pelos diretores em diferentes tipos de medidas de prevenção, categorizando-as em estratégias primárias, secundárias e terciárias. Essas se distinguem segundo a gravidade percebida dos problemas a que se dirigem e conforme o seu grau de abrangência, ou seja, em relação a exposição a fatores de risco do grupo prioritário.

Assim, temos as estratégias primárias, entendidas como parte do cotidiano da equipe pedagógica e dos estudantes. Segundo os diretores, elas são construídas em sala de aula com o trabalho docente através de atividades para a construção do senso de comunidade e pertencimento, como projetos para trabalhar a temática da violência.

As ações secundárias, voltadas para palestras sobre drogas, bullying, direitos e deveres, geralmente são ministradas por parceiros escolares, como a Polícia Militar (PM) e o Ministério Público (MP). E, finalmente, as terciárias, são medidas orientadas para apoiar quem já se envolveu como vítima ou autor de atos considerados mais graves. Nessa categoria, em geral, a Polícia Militar é acionada e é feito o encaminhamento ao Conselho Tutelar. Em síntese, são mencionados poucos recursos pedagógicos para encaminhar os casos de violência e acompanhar os envolvidos após os eventos.

As autoras observaram, por fim, que as escolas concentram a sua atuação, majoritariamente, na prevenção primária, ao desenvolver atividades e projetos temáticos em sala de aula, a fim de melhorar o clima escolar e a convivência na instituição. Ainda apontam que, para casos mais graves, as escolas ainda carecem de recursos para intervir e prevenir a violência escolar. Além disso, defendem que a educação possa assumir a dianteira da prevenção, sendo necessário que a equipe pedagógica disponha de apoio institucional, formação e ferramentas para o atendimento a situações de maior gravidade.

Referências

ABRAMOVAY, M. (org.) Escola e violência. Brasília: Unesco, 2002.

BARDIN, L. Análise de conteúdo. Tradução de Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. Lisboa: Edições 70, 1977.

BOURDIEU, P. and PASSERON, J.C. A reprodução. 3.ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1992.

CHARLOT, B. A violência na escola: como os sociólogos franceses abordam essa questão. Sociologias [online]. 2002, vol. 4, no. 8, pp. 432-443 [viewed 17 July 2023]. https://doi.org/10.1590/S1517-45222002000200016. Available from: https://www.scielo.br/j/soc/a/fDDGcftS4kF3Y6jfxZt5M5K/

DEBARBIEUX, E. “Violência nas escolas”: divergências sobre palavras e um desafio político. In: DEBARBIEUX, E. and BLAYA, C. (ed.) Violência nas escolas e políticas públicas. Brasília: Unesco, 2002.

DEBARBIEUX, E. A violência na escola francesa: 30 anos de construção social do objeto (1967-1997). Educ. Pesqui. [online]. 2001, vol. 27, no. 1, pp. 163-193 [viewed 17 July 2023]. https://doi.org/10.1590/S1517-97022001000100011. Available from: https://www.scielo.br/j/ep/a/hvTPxbVrdZxqksQBvsbXN5h/

DEBARBIEUX, E. La violence em milieu scolaire: État des lieux. Paris: PUF, 1997.

DEBARBIEUX, E. and BLAYA, C. (org.) Violência nas escolas e políticas públicas. Brasília: Unesco, 2002.

INSTITUTO PENÍNSULA. Desafios e perspectivas da educação: uma visão dos professores durante a pandemia. São Paulo: Instituto Península, 2021.

Para ler o artigo, acesse

OLIVEIRA, V.C., DUTRA, N.M. and LUDGERO, L.F. Temos projetos e temos polícia: a visão dos diretores sobre as estratégias de prevenção à violência em contexto escolar. Rev Bras Estud Pedagog [online]. 2023, vol. 104, e5342 [viewed 17 July 2023]. https://doi.org/10.24109/2176-6681.rbep.104.5342. Available from: https://www.scielo.br/j/rbeped/a/mN7FYMfWYWkV4kHW8gsMbvk/

Links externos

Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos – RBEPED: https://www.scielo.br/j/rbeped/

Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos — Site: http://rbep.inep.gov.br/

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Como citar este post [ISO 690/2010]:

GODOY, I.M. Estratégias para a prevenção da violência em contexto escolar [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2023 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2023/07/17/estrategias-para-a-prevencao-da-violencia-em-contexto-escolar/

 

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