Voto em Bolsonaro revela variante brasileira do populismo de direita

Rogerio Schlegel, Professor adjunto do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Guarulhos, SP, Brasil.

A onda populista de direita que atinge Estados Unidos, Reino Unido e outros países costuma seduzir os chamados “perdedores da modernidade” – eleitores com valores avessos ao avanço da diversidade ou com empregabilidade e renda reduzidas por conta de mudanças econômicas. As características dessa onda no Brasil são discutidas no artigo “Impactos políticos da educação: da aposta no novo cidadão à eleição de Bolsonaro”, publicado no periódico Educação & Sociedade (vol. 42), que analisou dados do Estudo Eleitoral Brasileiro (Eseb) de 2018 e concluiu que o avanço da direita tem características peculiares no país.

A pesquisa usou métodos estatísticos para isolar o impacto independente de escolaridade, renda, ocupação, idade, religião e outros fatores individuais no voto – apurado a partir de autodeclaração após a eleição presidencial, numa amostra representativa do eleitorado brasileiro. A análise indicou que melhor condição econômica (renda e ocupação) foi o melhor preditor do voto em Jair Messias Bolsonaro. A escolaridade não teve impacto consistente nessa opção, contrariando a expectativa convencional nesse campo. Seria de se esperar que os mais escolarizados votassem contra um defensor de valores autoritários e avessos à diversidade.

Imagem: Jade Scarlato.

O artigo faz parte de dossiê sobre “Educação e Comportamento Político” e também investigou a hipótese de que a educação brasileira possa estar perdendo seu potencial para diferenciar o cidadão em matéria de participação política e apoio à democracia. A análise de pesquisas de opinião nacionais de 1989 a 2018 indicou que a escolaridade segue tendo impacto em várias dimensões, com uma exceção marcante: a valorização do voto. Em 2018, não houve diferença consistente na disposição de votar entre grupos mais e menos escolarizados.

Os resultados reforçam a necessidade de adequar as explicações comparativas sobre o populismo de direita às especificidades brasileiras. Uma hipótese a ser explorada é a de que a rejeição à igualdade – econômica ou de direitos – impulsiona o voto populista no Brasil. Por outro lado, o relativo desânimo dos mais escolarizados com o voto pode indicar um desencanto com a própria democracia, que atingiria mais diretamente segmentos que tendem a ser mais críticos ao funcionamento das instituições. As eleições de 2020 mobilizaram outras dinâmicas de comportamento eleitoral, inclusive por serem municipais, o que deixa para 2022 a investigação que pode confirmar essas tendências.

A pesquisa Democratização Desigual, de Rogerio Schlegel, teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e cessão de bases de dados pelo Centro de Estudos da Opinião Pública (Cesop), da Unicamp.

A seguir, assista ao vídeo de Rogerio Schlegel ampliando a discussão sobre o populismo nas eleições brasileiras em 2018.

Referências

APRESENTAÇÃO DO DOSSIÊ. Educ. Soc. [online]. 2021, vol. 42, e247881. ISSN: 1678-4626 [viewed 4 March 2021]. https://doi.org/10.1590/es.247881. Available from: http://ref.scielo.org/gbx5rg

INGLEHART, R. F. and NORRIS, P. Trump, Brexit, and the Rise of Populism: Economic Have-Nots and Cultural Backlash. HKS Working Paper n. RWP 16-026. Cambridge, MA: Harvard Kennedy School, Aug. 2016. (Faculty Research Working Paper Series.) Available from: https://is.muni.cz/el/fss/jaro2018/POL494/um/premiovy_ukol/Inglehart-Norris-populism.pdf

MOTA, C. V. “Bolsonaro é líder mais isolado do populismo de direita hoje”, diz pesquisador do extremismo político. BBC News Brasil, São Paulo, 3 maio 2020. Available from: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-52465613

SCHLEGEL, R. The decreasing political rewards of education in Brazil. Braz. political sci. rev. [online]. 2010, vol. 5, Selected edition. ISSN: 1981-3821 [viewed 4 March 2021]. Available from: http://ref.scielo.org/nkk3js

TAMAKI, E. R. and FUKS, M. Populism in Brazil’s 2018 general elections: an analysis of Bolsonaro’s campaing speeches. Lua Nova [online]. 2020, no. 109, pp. 103-127. ISSN: 1807-0175 [viewed 4 March 2021]. https://doi.org/10.1590/0102-103127/109. Available from: http://ref.scielo.org/crvdqw

Para ler o artigo, acesse

SCHLEGEL, R. Impactos políticos da educação: da aposta no novo cidadão à eleição de Bolsonaro. Educ. Soc. [online]. 2021, vol. 42, e240566. ISSN: 1678-4626 [viewed 4 March 2021]. https://doi.org/10.1590/es.240566. Available from: http://ref.scielo.org/6s9qns

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SCHLEGEL, R. Voto em Bolsonaro revela variante brasileira do populismo de direita [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2021 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2021/04/27/voto-em-bolsonaro-revela-variante-brasileira-do-populismo-de-direita/

 

3 Thoughts on “Voto em Bolsonaro revela variante brasileira do populismo de direita

  1. Krysmam Coelho Chagas on June 4, 2021 at 22:32 said:

    Que blasfêmia, Fico chocado com esses Especialistas e esses Estudos… pois a Esquerda se Tornou Sedenta pelo poder a qualquer Custo, aponto de proporcionar o Maior esquema de corrupção e Desvios de verba pública do Mundo.
    O BRASIL nunca esteve tão bem pois o povo é quem “decide”.
    Elegemos um Terrorista Amigo de Ditadores e grupos Guerrilheiros Terroristas.

  2. Rafael Meireles on August 4, 2021 at 21:46 said:

    Importante debate sobre o governante atual que, como muitos no passado e muitos no futuro não foi nem teremos “um salvador da pátria”.
    Quem acredita que uma pessoa muda o mundo é incapaz de mover sua cidadania para melhorá-la ela mesma. Não existe conto de fadas.

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