A educação e os desafios para a inclusão de grupos em situação de risco ou vulnerabilidade social

Betina Hillesheim, Professora e pesquisadora da Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul, RS, Brasil.

Nas últimas décadas, as questões relativas à inclusão têm sido muito debatidas, sendo pensadas não somente em relação à inclusão escolar de pessoas com deficiência, mas também a grupos diversos, que se encontram em situação de risco e vulnerabilidade social. Esse alargamento da ideia de inclusão traz uma série de desafios, sendo necessárias a formulação de distintas políticas públicas e ações no sentido de torná-la efetiva. Partindo dessa premissa, um grupo de pesquisadores construiu o número temático intitulado “Inclusão e educação de populações em situações de risco ou vulnerabilidade social”, publicado no Cadernos Cedes (vol. 41, no. 114). A organização deste número foi idealizada pelas professoras Adriana da Silva Thoma – pesquisadora reconhecida na área de Educação de Surdos e Inclusão Escolar, que, infelizmente faleceu logo após a escrita e compilação dos textos – e Betina Hillesheim, trazendo artigos que articulam diferentes áreas de conhecimento, especialmente Educação e Psicologia.

A ideia de inclusão funciona como um eixo para distintas políticas públicas, destacando-se as políticas de saúde e de assistência social, sendo que, muitas vezes, as estratégias envolvem práticas educativas e as escolas são chamadas a gerenciar as suas condições de efetivação. Diante disso, os autores se debruçaram sobre grupos diversos, discutindo questões referentes à deficiência, pobreza, raça, educação no campo, entre outros, buscando trazer para o centro do debate os complexos mecanismos da inclusão/exclusão na nossa sociedade.

Os textos, a partir de realidades de diferentes regiões do país e também da Argentina, sinalizaram como as políticas de inclusão podem ser percebidas a partir de uma perspectiva ambígua: se, por um lado, possibilitam novas relações com a diferença e convocam para a criação de uma sociedade inclusiva, em algumas situações produzem uma inclusão excludente, que podem se manifestar, por exemplo, na invisibilização de alguns grupos sociais, étnicos e culturais ou pelos contextos de precariedade a que alguns grupos são expostos.  Assinala-se, ainda, que a inclusão é produzida a partir de um ethos neoliberal, que classifica o mundo a partir de critérios de utilidade, incitando a produção de sujeitos flexíveis, ativos e aptos a concorrer, sendo que, a partir dessa lógica de mercado, a vulnerabilidade de determinados sujeitos ou grupos é compreendida como um obstáculo ao desenvolvimento da sociedade, sendo a inclusão uma forma de gerir riscos e regular condutas.  Desse modo, pode-se perceber que os contornos da inclusão são paradoxais, deslocando-se entre uma necessidade de reconhecimento e valorização de grupos minoritários e, ao mesmo tempo, a manutenção de lógicas excludentes.

Imagem: Clay Banks.

Se é indiscutível a importância do sistema educacional como uma ferramenta de inclusão para grupos em situação de risco ou vulnerabilidade social, o número temático também aponta para os desafios que precisam ser enfrentados em diferentes âmbitos, problematizando suas ambiguidades e fragilidades, assim como evidenciando as formas pelas quais profissionais da Educação e grupos vulneráveis encontram para promover a inclusão. Dessa maneira, compreende-se que é necessário reiterar o compromisso com a Educação, não somente no sentido de valorizá-la, mas, principalmente, desnaturalizando e tensionando os modos de produção e relação com a diferença que se dão a partir das diferentes práticas educativas.

A seguir, ouça o podcast de Betina Hillesheim ampliando a discussão sobre os desafios enfrentados na educação para a inclusão de grupos em situação de risco ou vulnerabilidade.

Referências

BUTLER, J. Quadros de guerra: quando a vida é passível de luto? Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.

CASTEL, R. As armadilhas da exclusão. In: CASTEL, R.; WANDERLEY, L.E. and BELFIORE-WANDELEY, M. (Orgs.) Desigualdade e a questão social. São Paulo: EDUC, 2007. pp. 17-50.

FOUCAULT, M. Segurança, território e população. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

VEIGA-NETO; A. and LOPES, M.C. Inclusão, exclusão, in/exclusão. Verve [online], 2011, no. 20, pp. 121-135. ISSN: 1676-9090 [viewed 15 March 2021]. Available from: https://revistas.pucsp.br/index.php/verve/article/view/14886/11118

Para ler o artigo, acesse

HILLESHEIM, B. INCLUSÃO E EDUCAÇÃO DE POPULAÇÕES EM SITUAÇÕES DE RISCO OU VULNERABILIDADE SOCIAL. Cad. CEDES [online]. 2021, vol. 41, no. 114, pp. 84-86. ISSN: 1678-7110 [viewed 26 March 2021]. https://doi.org/10.1590/cc223406. Available from: http://ref.scielo.org/gps3zt

Links Externos

Betina Hillesheim: http://lattes.cnpq.br/4039336747587963

Cadernos CEDES – CCEDES: www.scielo.br/ccedes

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

HILLESHEIM, B. A educação e os desafios para a inclusão de grupos em situação de risco ou vulnerabilidade social [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2021 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2021/04/29/a-educacao-e-os-desafios-para-a-inclusao-de-grupos-em-situacao-de-risco-ou-vulnerabilidade-social/

 

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

Post Navigation