Daniel Vazquez, professor, Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Guarulhos, SP, Brasil.
Rogerio Schlegel, professor, Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Guarulhos, SP, Brasil.
As ações e inações do governo Bolsonaro nas políticas de educação e saúde, duas áreas estruturantes para a federação brasileira no pós-1988, foram marcadas por caráter populista nos três primeiros anos de gestão. Em ambas, a necessidade de coordenação federal era incontornável, diante do fim do prazo para renovação do Fundeb, principal mecanismo de financiamento da educação básica, e da urgência no enfrentamento à pandemia de Covid-19 e suas consequências econômicas e sociais.
A conclusão é da pesquisa Covid-19, Fundeb e o populismo do governo Bolsonaro nas relações federativas, realizada pelos professores do departamento de Ciências Sociais da Unifesp, Daniel Vazquez e Rogerio Schlegel e com financiamento da Fapesp. Os autores utilizaram ferramentas analíticas do policy design e da literatura comparada sobre o populismo contemporâneo para fazer um balanço da orientação do governo Bolsonaro em relação às dinâmicas federativas no campo das políticas sociais. A ênfase recaiu sobre objetivos e instrumentos utilizados pelo governo federal para exercer a coordenação federativa nas duas políticas estudadas.
Os resultados mostram que a atuação do governo federal foi desprovida da lógica instrumental do policy design. Programas foram adotados em contradição com os objetivos perseguidos, a exemplo do socorro fiscal a estados que desconsiderou o real impacto da pandemia nas finanças estaduais.
Objetivos declarados deixaram de ser implementados, a exemplo da utilização dos recursos do Fundeb para o pagamento de voucher em escolas privadas e para a criação do Auxílio Brasil, mesmo com o aumento significativo da complementação da União ao novo fundo. Instrumentos disponíveis foram ignorados apesar de seu potencial, como a possibilidade de um programa específico para a Covid-19 desenhado nacionalmente, em linha com outras iniciativas já utilizadas no financiamento do SUS.
A incapacidade de coordenação e de obter os resultados desejados alimentou a retórica populista do governo Bolsonaro, especialmente no que tange às relações federativas. De um lado, motivações estritamente políticas prevaleceram sobre a busca de resultados concretos no combate à Covid-19, o que levou o governo a priorizar o combate aos governadores em vez do vírus. De outro lado, a ineficácia em implementar suas propostas foi justificada por retórica apontando boicote ao governo federal pelas elites políticas (Congresso, STF, governos subnacionais e da mídia).
Referências
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SCHLEGEL, R. and VAZQUEZ, D.A. Covid-19, Fundeb e o populismo do governo Bolsonaro nas relações federativas. Revista Brasileira de Ciência Política [online]. 2022, vol. 38, e255785 [viewed 24 November 2022]. https://doi.org/10.1590/0103-3352.2022.38.255785. Available from: https://www.scielo.br/j/rbcpol/a/3vfDbqFjJFs5Lnb3B6zfDWz/
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