Efeito residência nas experiências espaciais de crianças em Curitiba

Sonia Maria Fernandes, doutoranda em Educação, Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, Paraná, Brasil. 

O artigo Infância e justiça espacial: desigualdades inter e intrabairros no uso da cidade por crianças da rede municipal de ensino de Curitiba, apresenta importantes dados acerca das desigualdades nas experiências espaciais de crianças curitibanas, a depender do local da cidade e do bairro onde moram. Partindo da constatação de uma maior concentração geográfica de parques e espaços consolidados de lazer e cultura no centro e no norte da cidade, como também a presença desses equipamentos em melhores condições de uso em regiões centrais de determinados bairros, buscou-se conhecer os efeitos dessa distribuição desigual de equipamentos no cotidiano de crianças moradoras e estudantes de diferentes regiões da cidade.

Escrito pelas pesquisadoras Valeria Milena Rorich Ferreira e Sonia Maria Fernandes, professora e doutoranda, respectivamente, na Linha de pesquisa “Diversidade, Diferença e Desigualdade Social em Educação” da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o artigo resulta de uma pesquisa quantitativa em que foram analisados 1060 questionários respondidos por famílias de crianças de 27 escolas municipais de Curitiba, distribuídas em 9 regionais administrativas da cidade. Integram também a investigação, conversas com crianças moradoras de diferentes bairros da cidade e desenhos realizados por elas; fotografias dos bairros; e observações realizadas em diferentes regiões da cidade, que compõem as análises qualitativas desta pesquisa e que foram publicados em outros trabalhos, por outros integrantes do TECI – Grupo de Estudos sobre Território, Educação e Cidade.

Imagem: arquivo pessoal das autoras do artigo (2020).

Entre os resultados, verificou-se que, no período da pesquisa, crianças moradoras da região norte-central da cidade e de regiões centrais dos bairros tiveram maior acesso a locais consolidados de lazer e cultura, pois moravam próximas desses locais ou tinham maior facilidade de se locomover até eles.  Identificou-se um “efeito residência” gerador de oportunidades e também uma mobilidade espacial que, como capital, impulsionava experiências diversificadas na cidade. Já para as crianças que moravam nas partes mais empobrecidas e periféricas dos bairros, especialmente as moradoras do sul e do extremo sul da cidade, o bairro não se apresentou como um recurso, mas sim como uma restrição, e a mobilidade espacial pareceu ser um capital urbano escasso.

Essas desigualdades espaciais relacionadas às crianças que residiam nas áreas mais afastadas ou desvalorizadas do bairro, e na parte sul e extremo sul da cidade, quando relacionadas com questões de raça, classe e gênero, se mostraram ainda mais acentuadas, por exemplo, para as meninas, em particular as negras. Esses indícios apontam para a necessidade de mais estudos sobre a mobilidade espacial de crianças relacionadas aos demais marcadores sociais.

Para ler o artigo, acesse

FERREIRA, V.M.R, FERNANDES, S.M. Infância e justiça espacial: desigualdades inter e intrabairros no uso da cidade por crianças da rede municipal de ensino de Curitiba. Educação Em Revista [online]. 2023, vol. 39, e39285 [viewed 28 November 2023]. https://doi.org/10.1590/0102-469839285. Available from: https://www.scielo.br/j/edur/a/wHsk7Qg39TM3pX4GL4hqY6D/ 

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