Sofrimento mental dos professores universitários resultou em má adaptação à situação da pandemia da COVID-19

Eduardo Mendes Nascimento, professor, Universidade Federal de Uberlândia, MG, Brasil.

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A Educação em Revista publicou recentemente o artigo A dor nos tempos da COVID-19: transtorno de adaptação nos professores do ensino superior brasileiro. A pesquisa acompanhou 129 professores universitários durante o período de um ano, de modo a aprofundar o entendimento sobre os sentimentos e o estado de saúde mental que eles vivenciaram durante a pandemia. Esse acompanhamento permitiu aos autores tomarem conhecimento se os professores conseguiram se adaptar àquele momento de mudanças de vida pessoal e profissional, além do isolamento (spoiler: não conseguiram).

Olhar para os professores era importante nesse momento porque a profissão docente foi forçada a se ajustar às mudanças necessárias sem a possibilidade de uma preparação razoável. Uma nova forma de lecionar foi introduzida abrupta e inesperadamente, impondo aos professores a necessidade de adaptação apenas com base em seus repertórios emocionais e experiência profissional. Frente à rapidez com que as demandas se apresentaram, a vida dos professores foi afetada por um estressor que, além de inédito e muito persistente, foi agravado pelo medo real da doença e pelo medo distorcido causado pelas fake news, que foram corriqueiras à época.

Toda essa instabilidade social resultou no surgimento ou agravamento do sofrimento mental nos professores, especialmente da ansiedade, que aumentou significativamente após o anúncio do lockdown. Essa situação resultou que 1 a cada 2 professores apresentavam nível alto de ansiedade, contribuindo substancialmente para a falta de resiliência de 75% da amostra, circunstância que persistiu por todo o período em que os docentes foram acompanhados. Esse nível de ansiedade podia ser comparado aos profissionais da área de saúde que estavam em atividade durante a pandemia.

Como nada é tão ruim que não possa piorar, os dados mostraram que as pessoas do gênero feminino estavam em maior risco de desenvolver sofrimento mental e sofrer má adaptação. As mulheres tinham uma chance 210% maior de estarem mal adaptadas, especialmente aquelas que estavam na companhia de um cônjuge e as que tinham uma visão pessimista sobre as mudanças ocorridas.

Ilustração mostrando diversas palavras relacionadas ao Transtorno de Adaptação evidenciado por professores durante a pandemia, como "isolamento", "tecnologias" e "remoto", aglutinadas em um formato circular achatado.

Imagem: elaboração dos autores a partir dos dados da pesquisa.

Figura 1. Nuvem de palavras a partir do relato dos professores com Transtorno de Adaptação.

Todos esses fatores contribuíram consideravelmente para a inabilidade dos professores em se adaptarem à pandemia, além de desencadear outros problemas, como dificuldade para dormir, concentrar-se no trabalho e atividades domésticas, ter problemas de abstinência de álcool e outras substâncias, ou se entregar a esse uso.

Isso quer dizer que não é exagero afirmar que o impacto da COVID-19 na saúde, modo de vida, segurança psicológica e bem-estar dos professores foi grande. Por esse motivo, a ameaça representada pela pandemia requeria o uso de técnicas inovadoras que pudessem servir ao elevado número de pessoas que precisavam de apoio. Mesmo porque, amenizar o sofrimento mental é primordial. E isso requer colaboração entre profissionais da saúde, administradores e representantes da comunidade; em particular, estabelecendo um código eticamente admissível para contextos de pandemia que possa fortalecer a moral da comunidade acadêmica.

A boa notícia foi que alguns atributos e atitudes dos professores ajudaram a aumentar sua resiliência frente ao momento que estavam passando. Por exemplo, profissionais com mais tempo de docência, que tinham maior experiência, tenderam a se ajustar à pandemia. Além disso, manter uma visão positiva sobre o próprio estado de saúde física e não utilizar substâncias como álcool, cigarro, medicamentos e outras, foram fatores que também contribuíram para uma melhor adaptação.

Para ler o artigo, acesse

NASCIMENTO, E.M., CORNACCIONE JR., E.B. and CARVALHO, M.G. A dor nos tempos da COVID-19: transtorno de adaptação nos professores do ensino superior brasileiro. Educação em Revista [online]. 2024, vol. 40,  e35866 [viewed 23 September 2024]. https://doi.org/10.1590/0102-469835866. Available from: https://www.scielo.br/j/edur/a/vVqwBSp4PtxW5C9ZFFyt7qs/

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Como citar este post [ISO 690/2010]:

NASCIMENTO, E.M. Sofrimento mental dos professores universitários resultou em má adaptação à situação da pandemia da COVID-19 [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2024 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2024/09/23/sofrimento-mental-dos-professores-universitarios-resultou-em-ma-adaptacao-a-situacao-da-pandemia-da-covid-19/

 

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