Diagnóstico de experiências sociais negativas e imagens da sociedade

Leonardo da Hora Pereira, Professor do Departamento de Filosofia e do PPGF da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador, BA, Brasil.

Partindo da questão central sobre como diferentes teorias sociais diagnosticam e compreendem as experiências sociais negativas, o artigo Ontologia social e teoria crítica: em torno do diagnóstico de experiências sociais negativas examina como os conceitos ontológicos subjacentes a cada teoria moldam a crítica social através da noção de “figuração ontológica da sociedade”.

Uma metáfora central utilizada pelo autor, Leonardo da Hora, professor de Filosofia da UFBA, é a do cristal fragmentado, inspirada em Freud, que sugere que as fissuras e rupturas nas experiências sociais negativas revelam as linhas estruturais ocultas da sociedade. Assim como um cristal, ao ser quebrado, se fragmenta de acordo com sua estrutura interna, as patologias sociais iluminam as formas pelas quais a sociedade se organiza e se desorganiza.

Na análise das obras de Durkheim e Marx, o autor destaca que a figuração ontológica de Durkheim vê a sociedade como uma força maior e integradora, capaz de estabilizar os indivíduos e prevenir desvios. Para Durkheim, o suicídio é normal quando se alinha às inevitabilidades da ordem social, tornando-se patológico apenas quando ameaça essa estabilidade.

Já Marx adota uma figuração ontológica que apresenta a sociedade como um espaço de contradição e alienação, onde a desintegração social e a exploração econômica geram inevitavelmente sofrimento. O diagnóstico marxista vê a alienação como uma patologia estrutural da sociedade capitalista, onde a emancipação só pode ocorrer através de uma reapropriação coletiva do social.

Imagem: Pixabay

Ao discutir Adorno e Honneth, Leonardo da Hora mostra como suas figurações ontológicas refletem diferentes abordagens da teoria crítica. Para Adorno, a figuração ontológica da sociedade é de uma realidade irreconciliada, onde o sofrimento social sinaliza antagonismos profundos que devem ser transformados. Adorno não define positivamente o que seria uma sociedade justa, mas rejeita o sofrimento como um mal intrínseco.

Honneth, por sua vez, propõe uma figuração ontológica baseada na intersubjetividade, onde a sociedade é vista como um campo de luta pelo reconhecimento. Nesse modelo, as patologias sociais surgem da falha em garantir o reconhecimento adequado aos indivíduos, o que impede a realização plena de suas capacidades e gera sofrimento.

Na parte final do artigo, introduz-se a contribuição de Luc Boltanski, cuja figuração ontológica apresenta a sociedade como um conjunto de instituições fragilizadas, incapazes de totalizar as experiências sociais. Boltanski argumenta que as experiências sociais negativas revelam as lacunas e limitações inerentes às instituições, permitindo uma crítica radical das mesmas.

O autor conclui que essa figuração ontológica da fragilidade institucional oferece uma perspectiva promissora para a crítica social contemporânea, ao permitir que se vá além das críticas normativas tradicionais e se explore as fissuras estruturais da realidade social.

Para ler o artigo, acesse

HORA, L. Ontologia social e teoria crítica: em torno do diagnóstico de experiências sociais negativas. Trans/Form/Ação [online]. 2024, vol. 47, no. 6, e02400282 [viewed 28 January 2025] https://doi.org/10.1590/0101-3173.2024.v47.n6.e02400282. Available from: https://www.scielo.br/j/trans/a/smyL9QsVkqQw8ZJTDP6GK6t/

Referências

ADORNO. T. Dialética Negativa. 1. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.

BOLTANSKI, L. De la critique: Précis de sociologie de l’émancipation. Paris: Gallimard, 2009.

DURKHEIM, É. O suicídio. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2000.

HONNETH, A. Luta por reconhecimento: a Gramática Moral dos Conflitos Sociais. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2009.

MARX, K. Manuscritos Econômico-Filosóficos. São Paulo: Boitempo, 2004.

MARX, K. Sobre o suicídio. 1. ed. São Paulo: Boitempo, 2006.

Links externos

Trans/Form/Ação – TRANS

Revista Trans/Form/Ação: Instagram | Facebook | Academia.edu