Lia Machado Fiuza Fialho, professora, Programa de Pós-graduação em Educação, Universidade Estadual do Ceará (UECE), Fortaleza, CE, Brasil.
A pandemia causada pela Covid-19 impôs a interrupção das aulas presencias e a adoção do ensino remoto emergencial (ERE) como solução paliativa a suspensão das aulas. Esse evento adverso, sem precedentes para a educação formal, acarretou prejuízos a serem vivenciados por indeterminados anos subsequentes, o que implicou diretamente nas práticas da gestão escolar.
Diante desse cenário, o estudo Diretores escolares em meio à pandemia de Covid-19: avaliação da exclusão digital (vol. 33, no. 128, 2025), publicado pelo periódico Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas, buscou compreender as perspectivas dos gestores de escolas públicas, acerca das principais querelas do ensino remoto emergencial sobre o processo ensino-aprendizagem. Eles apontaram que o ERE foi uma solução imediata demasiadamente problemática, por asseverar as desigualdades econômicas e sociais e majorar a exclusão das classes menos favorecidas, reverberando prejuízo educacional a ser minorado após a crise sanitária.
O artigo com autoria de Lia Fialho, Cristine Brandenburg, Vanusa Neves e Hugo Heredia é parte de uma pesquisa científica em rede internacional, que envolveu 26 pesquisadores e 18 universidades.
Com recorte espacial em Fortaleza, Ceará (CE), mobilizou 172 diretores de escolas municipais e estaduais que expressaram suas impressões, angústias e experiências em formulário on-line, processadas pelo software Iramuteq. A análise categórica do conteúdo produzido foi discutida considerando estudos prévios de natureza teórica (NEVES et al., 2024), prática (BRANDENBURG et al., 2020) e com outros sujeitos envolvidos no processo educacional, a exemplo dos professores (FIALHO and NEVES, 2022).
Os diretores escolares de Fortaleza, por atuarem com uma comunidade escolar mais pauperizada economicamente e estarem na região Nordeste do Brasil, na qual as condições de acesso à tecnologia são sobremaneira precarizadas, consideraram que o ERE foi uma solução imediata demasiadamente problemática, porém, o possível para o momento.
Havia uma nítida preocupação com a defasagem educacional gerada pela educação intermediada pelo ERE, principalmente porque os diretores sabiam que a dualidade educacional estava sendo asseverada, já que, de modo geral, os estudantes de escolas privadas, com maior poder aquisitivo, possivelmente sofreriam menos do que os alunos de escolas públicas de menor poder aquisitivo, pela impossibilidade de acesso aos recursos tecnológicos mínimos para acompanhar as aulas.
No âmbito das políticas públicas, o estudo apontou para necessidade da educação permanente dos profissionais da educação em tecnologias educacionais e metodologias ativas (FIALHO and NEVES, 2024), inclusive as que são mediadas por ferramentas de inteligência artificial, bem como investimentos em disponibilização de infraestrutura e acessibilidade aos equipamentos, programas e rede de internet para os profissionais da educação e os alunos das camadas sociais mais desfavorecidas economicamente.
FIALHO, L.M.F. Visão dos diretores escolares sobre a exclusão digital majorada pela Covid-19 [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2025 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2025/06/23/visao-dos-diretores-escolares-sobre-a-exclusao-digital-majorada-pela-covid-19/
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