Dora Porto, Editora científica, Revista Bioética, Brasília, DF, Brasil
Levantando mais uma vez a bandeira fundamental da ética, a Revista Bioética retoma no número 1 de 2016 importantes discussões, que englobam a formação profissional, a clínica e a pesquisa, e estão focadas nos grupos especialmente vulneráveis: crianças, adolescentes, pacientes terminais e participantes de estudos clínicos. A importância de discutir as peculiaridades éticas no campo da saúde para estes grupos decorre da especificidade de suas demandas e características, que impõem a sensibilidade da reflexão casuística para encontrar o equilíbrio ético, indispensável para responder cada caso da melhor maneira.
Trabalhos como “What can the philosophy of science contribute to the ethics of science and technology?” e “Hermenêutica como profanação dos novos sagrados: desafio e tarefa da bioética” avançam na reflexão teórica sobre a relação entre ética e tecnologia e discutem as transformações na dimensão simbólica das ideias de vida, saúde e corpo, colaborando para o aprofundamento do estado da arte no campo da Bioética.
Questões relativas à pesquisa também estão contempladas. O artigo “Remuneração dos participantes de pesquisas clínicas: considerações à luz da Constituição” discute significativa alteração na Resolução 446/12, do Conselho Nacional de Saúde, que alterou disposição anterior e permite o pagamento aos voluntários de pesquisa clínica, o que aumenta a vulnerabilidade do participante. Trabalho de pesquisa sobre a compreensão do termo de consentimento em pesquisa clínica reforça a ideia de que essa vulnerabilidade é intrínseca, ocorrendo frequentemente em diferentes estudos. Completa a reflexão deste tema o artigo “Ética em pesquisa com crianças e adolescentes – à procura de normas e diretrizes virtuosas”, que reflete pontualmente sobre os temas dos dois trabalhos citados e apresenta um guide line para orientar a participação em pesquisa de crianças e adolescentes, grupo especialmente vulnerável tanto por sua autonomia reduzida legalmente quanto por seu entendimento restrito em decorrência da pouca idade.
Retomando a frequente discussão sobre terminalidade da vida e cuidados paliativos, este número também contribui para intensificar o contato com a temática da morte, omitida dos currículos da formação em saúde e, de maneira geral, ainda considerada tabu em nossa sociedade. Reforça a importância dessa discussão para os profissionais da área o fato de sete dos 20 artigos publicados em pesquisa e atualização nesta edição discutirem direta ou indiretamente o tema, dissertando sobre a percepção da “morte digna” para estudantes e médicos, apresentando avaliação do conhecimento de intensivistas sobre morte encefálica e discorrendo sobre a morte nas UTI, além de propor a reflexão acerca do cuidado paliativo, espiritualidade e bioética.
Confirmando sua missão de promover a reflexão multidisciplinar e plural em bioética e estimular a crítica construtiva sobre as práticas e a educação em saúde, os artigos de pesquisa discorrem sobre vários aspectos da formação profissional: mapeiam o ensino de bioética nas faculdades de medicina, apresentam perspectivas de docentes médicos de um desses cursos a respeito da ética médica, descrevem os processos de julgamento ético do médico e discorrem sobre o erro médico sob a perspectiva das vítimas. Artigo que argumenta sobre a alta a pedido contraindicação médica sem iminente risco de morte propõe reflexão indispensável sobre deontologia médica, colaborando para abalizar a atuação profissional, usualmente compelida entre a obrigação de beneficência e o respeito à autonomia do paciente.
Para os editores, essas discussões centradas na ética no campo da saúde, que se configura como a área de fronteira entre a vida e a morte, refletem o ensejo por aprimorar os padrões éticos e assegurar as bases da cidadania em nosso país. Esse é o objetivo primeiro da Revista Bioética, há 24 anos colaborando para formação ética e humanística do profissional de saúde brasileiro.
Para ler os artigos, acesse
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