Derek Warwick da Silva Tavares, Professor do Departamento de Documentação e Informação, Instituto de Ciência da Informação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA, Brasil
José Mauro Matheus Loureiro, Professor do Departamento de Estudos e Processos Museológicos, Centro de Ciências Humanas, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Ao ordenar os arquivos, seus profissionais colaboram para a construção da memória social a partir de contextos sociais específicos, políticas institucionais e questões de caráter subjetivo. Pesquisadores da Universidade Federal da Bahia e da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro desenvolveram o estudo publicado no volume 29, número 1, de 2017 de Transinformação da PUC-Campinas, em que analisam os aspectos informacionais presentes nestas construções privilegiando a noção de ‘dispositivo’, como elaborada na obra de Michel Foucault, que o entende como um “conjunto dos discursos efetivamente pronunciados. Esse conjunto é considerado não apenas como um conjunto de acontecimentos que tiveram lugar uma vez por todas e ficaram em suspenso, no limbo ou no purgatório da história, mas também como um conjunto que continua funcionando, se transforma através da história, da possibilidade de aparecer de outros discursos” (FOUCAULT, 2000, p. 145). Esta noção foi ampliada, posteriormente, pela Ciência da Informação sob a denominação de ‘dispositivo de informação’.
O uso da noção de ‘dispositivo’ permitiu refletir sobre as lógicas e valores que subjazem à inter-relação informação/memória social/arquivo na construção e disseminação dos discursos de diferentes segmentos da sociedade contemporânea. Para tanto, destacam-se as estratégias arquivísticas que constituem os ‘dispositivos de informação’, ao construir, condicionar e atualizar a memória em seu aspecto coletivo e social. Trata-se de ações intencionais destinadas à criação, documentação, arquivamento, preservação, guarda e utilização de documentos.
A memória social é entendida como uma construção integrada por diferentes dimensões dos coletivos humanos, interconexões passado-presente-futuro e representações distintas, que as insere em fluxos de mudanças permanentes. Considerando-se ainda suas assimetrias, a memória coletiva (e/ou social) tal como se apresenta nos seus conceitos é somente a unidade daquilo que representa, mas não a multiplicidade do que é representado. O arquivo, por sua vez, a partir das concepções de Derrida (2001) é considerado como um equipamento social que atua no ‘governo dos homens’, por intermédio do que é ali registrado, estabelecendo uma ordem de governamentalidade por meio de agenciamentos heterogêneos. Essas instituições tornam-se, por conseguinte, em espaços estratégicos para o desenvolvimento de políticas oficiais da memória.
Encerrando, considera-se que a memória coletiva/social constitui um ‘dispositivo’ composto de discursos de verdade, apresentado na condição de arquivo, isto é, como conjunto de regras que facultam a emergência, em uma determinada época, de um tipo de discurso capaz de agir sobre os homens, tornando-os sujeitos de certo conjunto de memórias.
O estudo foi realizado no âmbito do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal da Paraíba e contou com o financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoa de Nível Superior.
Referências
DERRIDA, J. Mal de arquivo: uma impressão freudiana. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001.
FOUCAULT, M. Ditos e escritos II: arqueologia das ciências e história dos sistemas de pensamento. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000.
Para ler o artigo, acesse
TAVARES, D. W. S. and LOUREIRO, J. M. M. Dispositivos de informação: arquivos, memórias e informação. Transinformação [online]. 2017, vol.29, n.1, pp.73-80. [viewed 5 June 2017]. ISSN 2318-0889. DOI: 10.1590/2318-08892017000100007. Available from: http://ref.scielo.org/5dq8th
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