Maria Thereza Magalhães Gomes de Santana, bolsista na Revista Varia Historia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil
Varia Historia (v. 33, n. 62) apresenta o dossiê “Representações, identidades e literatura na América Latina”, organizado por Adriane Vidal Costa, professora adjunta na Universidade Federal de Minas Gerais, coordenadora do Núcleo de Pesquisa em História das Américas e presidente da Associação Nacional de Pesquisadores e Professores de História das Américas. O dossiê privilegia os diálogos entre história e literatura, e como esses diferentes campos narrativos se constroem nas fronteiras — fronteira aqui entendida como “um espaço privilegiado para estabelecer laços, trocas, intercâmbios, e não como um dado rígido e intransponível” (COSTA, 2017, p. 307). Além disso, aborda as relações texto-contexto na literatura latino-americana, discutindo ligações entre produções literárias, representações, construções identitárias do subcontinente em prosa, tradições e modernidade, mudanças socioculturais, e ideários políticos.
O dossiê compila três artigos: “Identidades erosionadas: literaturas latinoamericanas, de la espacialidad ontológica a la atopía”, de Claudio Gustavo Maíz; “Literatura latino-americana e representatividade cultural: uma leitura dos ensaios de Héctor Libertella e Jorge Volpi”, de Ana Cecília Olmos; e “Sobre fantasmas e homens: passado e exílio em Onetti”, de Júlio Pimentel Pinto.
O artigo de Claudio Gustavo Maíz trata das identidades latino-americanas pautadas pelos diferentes contextos da produção literária do subcontinente — do século XIX ao XXI —, refletindo sobre seus marcos e sobre a mudança das identidades ontológicas às étnicas, sexuais, ecológicas, etc. atuais, que já não se orientam pelo espaço e pela tradição como anteriormente. De acordo com o autor, “las identidades totalizantes, ontologizadas foman parte de um passado sepultado” e, “si ello quedó atrás es porque surgieron múltiples identidades que muy lejos estaban del espacio o del lugar” — já que o espaço e a tradição deixaram de ser os marcos referenciais para sentir-se idêntico a outrem. Ele conclui: “A menor identidade, mayor parece ser el impulso por sentirse parte del mundo” (MAÍZ, 2017, p. 340).
No segundo artigo, Ana Cecília Olmos teoriza a respeito do lugar de reflexão e crítica sobre a escrita literária ocupado pelos ensaios a partir dos anos 1970 na América Latina. A autora coloca em evidência dois escritores latino-americanos — Héctor Libertella (1945-2006) e Jorge Volpi (1968) — que se utilizaram dos ensaios para tecerem críticas não só sobre a noção ideologizada da literatura latino-americana, mas também sobre a contribuição da literatura do subcontinente para matizar uma identidade cultural latino-americana calcada em um “enigmático exotismo que, impossível de ser apreendido pelos parâmetros da razão, impugnava qualquer possibilidade de uma experiência de modernidade nessas terras” (OLMOS, 2017, p. 350). Ademais, ela enfatiza que a intenção do artigo não é avaliar o grau de eficácia com que esses escritores desarticularam essa noção ideologizada do ser latino-americano na literatura, mas, por outro lado, possibilitar a avaliação da importância do exercício próprio dos ensaios de pensar o fazer literário.
Júlio Pimentel Pinto, no artigo que fecha o dossiê, analisa dois contos do escritor uruguaio Juan Carlos Onetti (1909-1994) para discussão do passado e do exílio em sua obra. Esses contos são mobilizados para provar que “a rejeição onettiana ao referencialismo direto e imediato e à produção de uma síntese identitária [do subcontinente] não implica a exclusão de toda e qualquer referência às circunstâncias históricas latino-americanas” (PINTO, 2017, p. 367) em sua obra e, assim, problematizar as fronteiras entre história e literatura — que em Onetti são radicalizadas pela perspectiva que ele traça sobre a ficção, ainda assim oferecendo uma potente estratégia interpretativa da história.
Assista ainda às entrevistas concedidas pela Profa. Adriane Vidal Costa e pelo Prof. Claudio Maíz à Maria Thereza Santana, aluna do curso de Graduação em História da UFMG, e membro da Equipe Varia Historia. Os vídeos integram o Canal Revista Varia Historia, no YouTube.
Para ler os artigos, acesse
Varia hist. vol.33 no.63 Belo Horizonte Sept/Dec. 2017
COSTA, A. V. Apresentação: Representações, identidades e literatura na América Latina. Varia hist. [online]. 2017, vol.33, n.62, pp.306-311. [viewed 17 October 2017]. ISSN 0104-8775. DOI: 10.1590/0104-87752017000200002. Available from: http://ref.scielo.org/rx8ck5
MAIZ, C. G. Identidades erosionadas: Literaturas latinoamericanas, de la espacialidad ontológica a la atopía. Varia hist. [online]. 2017, vol.33, n.62, pp.313-343. [viewed 17 October 2017]. ISSN 0104-8775. DOI: 10.1590/0104-87752017000200003. Available from: http://ref.scielo.org/trkc27
OLMOS, A. C. Literatura latino-americana e representatividade cultural: Uma leitura dos ensaios de Héctor Libertella e Jorge Volpi. Varia hist. [online]. 2017, vol.33, n.62, pp.345-362. [viewed 17 October 2017]. ISSN 0104-8775. DOI: 10.1590/0104-87752017000200004. Available from: http://ref.scielo.org/8hzxv8
PINTO, J. P. Sobre fantasmas e homens. Passado e exílio em Onetti.Varia hist. [online]. 2017, vol.33, n.62, pp.363-386. [viewed 17 October 2017]. ISSN 0104-8775. DOI: 10.1590/0104-87752017000200005. Available from: http://ref.scielo.org/jgdm4j
Links externos
Site Varia Historia – www.variahistoria.org
Entrevista com Adriane Vidal no Canal Youtube Revista Varia Historia – https://youtu.be/y4P8bbe2U0g
Entrevista com Claudio Maiz no Canal Youtube Revista Varia Historia – https://youtu.be/0W5IT5UXMeo
Núcleo de Pesquisa em História das Américas (NUPHA) – https://www.facebook.com/nuphaufmg/
Associação Nacional de Pesquisadores e Professores de História das Américas (ANPHLAC) – http://anphlac.fflch.usp.br/
Como citar este post [ISO 690/2010]:
Últimos comentários