Tiago Seminatti, Assistente Editorial da Machado de Assis em linha – revista eletrônica de estudos machadianos, São Paulo, SP, Brasil
No artigo “Versos nas Poesias Completas de Machado de Assis”, publicado na Machado de Assis em linha número 23, Rilane Teles de Souza, pesquisadora da Universidade Federal do Espírito Santo, faz um levantamento da versificação empregada no poemas de Machado de Assis e constata que passaram a prevalecer, na sucessão de obras publicadas, os versos mais longos, chamados versos de arte maior, sobre os mais curtos, o que pode ser devido, principalmente, a uma adequação da métrica mais extensa à produção de uma poesia de cunho cada vez mais reflexivo.
Além das Poesias Completas (1901), o estudo percorre os quatro livros de poesia publicados por Machado de Assis: Crisálidas (1864), Falenas (1870), Americanas (1875) e Ocidentais, que saiu já nas Poesias Completas. Souza destaca que Machado, um adepto do Tratado de versificação portuguesa, de Antônio Feliciano de Castilho (1851), variou nas medidas e nas maneiras de empregar os versos. Considerando os versos como unidades rítmico-melódicas e não como linhas impressas, o estudo avalia comparativamente aqueles que “Machado de Assis eliminou e os que conservou na obra”. Para isso, os versos foram divididos em dois agrupamentos: aqueles de sete sílabas ou menos, chamados versos de arte menor, e os de oito sílabas ou mais, chamados versos de arte maior.
Atenta a aspectos importantes sobre as diferentes edições e recepções críticas das obras poéticas machadianas, Souza recorre a números e gráficos para observar que, em Crisálidas, os versos de arte menor prevalecem nas Poesias Completas e, tendo em vista as exclusões feitas, conjectura que Machado, quando da reunião de suas poesias, aprovou mais o trabalho por ele realizado com esse tipo de verso do que com os de extensão maior. Sobre Falenas, a pesquisadora destaca o maior domínio técnico de Machado, que escreveu mais poemas em versos de arte maior e manteve o predomínio desse tipo de composição nas Poesias Completas: “Se na primeira edição de Falenas a proporção de versos de arte maior já era superior à de Crisálidas, na edição das Poesias Completas essa diferença entre os dois livros se confirma, o que é uma observação digna de atenção” (SOUZA, 2018, p. 156). Na sequência, em Americanas e Ocidentais, momento de maturidade artística de Machado, observa que a tendência iniciada em Falenas continua, uma vez que os versos de arte maior predominam e são ampliados.
Por fim, a partir do pressuposto de que versos longos como os decassílabos ou os alexandrinos são mais adequados para a elaboração de versos cerebrais e reflexivos, conforme Castilho argumenta em seu Tratado, e da constatação de que predomina desde o segundo livro de poesias de Machado o verso de arte maior, Souza procura fundamentar, no artigo, a ideia de que “na maturidade do autor, sua poesia se tornou ‘filosófica'” (SOUZA, 2018, p. 163).
Referência
ASSIS, Machado de. Poesias Completas. Ed. Crítica estabelecida pela Comissão Machado de Assis. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1976.
ASSIS, Machado de. A poesia Completa. Organização de Rutzkaya Queiroz dos Reis. São Paulo: Nankin/Edusp, 2009.
CASTILHO, Antônio Feliciano de. Tratado de metrificação portugueza. Lisboa: Imprensa Nacional, 1851.
Para ler o artigo, acesse
SOUZA, R. T. Versos nas poesias completas de Machado de Assis. Machado Assis Linha [online]. 2018, vol.11, n.23, pp.146-165. [viewed 18 July 2018]. ISSN 1983-6821. DOI: 10.1590/1983-6821201811239. Available from: http://ref.scielo.org/z8r24h
Link externo
Machado de Assis em Linha – MAEL: www.scielo.br/mael
Como citar este post [ISO 690/2010]:
Últimos comentários