Anna Thallita de Araujo, Psicologia: Ciência e Profissão, Estagiária, Thayse Dantas, Analista técnica, Brasília, DF, Brasil
Paulus A J M de Wit, Caroline Zaneripe de Souza e Roberto Moraes Cruz apresentam o estudo teórico “Improving accident statistics and expanding the role of traffic psychologists in Brazil”, destacado no periódico Psicologia: Ciência e Profissão, edição 36.4 de 2016, do Conselho Federal de Psicologia. O estudo baseia-se em dados internacionais e nacionais sobre faixas etárias e subgrupos da população de condutores com risco de acidentes, políticas internacionais utilizadas para reduzir esse risco e possíveis áreas que a atuação do psicólogo de trânsito possa ser expandida.
Os autores apresentam dados estatísticos sobre acidentes de trânsito no Brasil, bem como a necessidade de melhorar o padrão de aptidão dos motoristas; a redução do número de acidentes, dos custos ocasionados por eles e da taxa global de morte por lesões. O relatório de situação global sobre segurança rodoviária de 2015 mostra um aumento na quantidade de mortes de acidentes de trânsito no Brasil (OMS, 2015). Assim, se houver uma melhora da avaliação e ampliação do papel do psicólogo, poderia existir uma diferença significativa nesses dados.
Os dados estatísticos apresentados relacionados com a idade dos motoristas e seu envolvimento em acidentes mostram que motoristas jovens (16-24) e motoristas idosos (70+ / 75+ anos) aparecem com um risco significativo de envolvimento em acidentes. Um aumento no risco para motoristas jovens mostra-se mais robusto e com características em quase todas as reportagens internacionais e artigos. Mori e Mizohata (1994) e Williams (2002) analisaram os dados relacionados a acidentes com mortes do Japão e EUA, respectivamente, e houve um aumento da mortalidade nesses dois grupos citados. Mas os autores apontam que os números apresentados nas estatísticas não são tão simples. Conforme esses autores citados anteriormente (Mori & Mizohata, 1994; Williams, 2002) as distribuições mencionadas por eles dependem de manipulações específicas de dados brutos, por exemplo, correlacionando o envolvimento fatal com gênero, grupo de idade por percurso viajado. O aumento do envolvimento relativo de motoristas jovens e idosos não significa que eles estão envolvidos em mais acidentes que motoristas de meia idade. A faixa etária que designa meia idade é muito mais ampla que “jovens” e “idosos”. Os autores apontam que, no mundo todo, existem menos motoristas jovens e motoristas idosos do que motoristas de meia idade, além de conduzirem menos que os motoristas de meia idade.
Langford, Methorst e Hakamies-Blomqvist (2006) discutem sobre esses dados de pesquisadores que afirmam que o risco aumentado dos motoristas idosos é equivocado, pois está baseado no “baixo viés de milhagem”. Há menos condutores idosos do que condutores de meia idade e sua relação relativa em acidentes é explicada pela quilometragem reduzida. A alta letalidade em idosos pode ser explicada pelo aumento de sua fragilidade e menor resiliência à lesão. Os autores apresentam a necessidade de maior transparência sobre a relação entre os dados brutos e sua manipulação estatística. Além disso, os dados são específicos de acordo com cada país e as conclusões não podem ser generalizadas para todos os países.
Quanto aos dados brasileiros, os autores apontam que os dados foram de exemplos específicos e, para que se tornem compreensíveis, é importante uma manipulação estatística refinada e mais aprofundada. O Brasil, por ser grande e a cultura do tráfego variar de região para região, possui características de risco de acidente específicas para cada estado. Na busca de dados brasileiros sobre a relação de risco de acidente com faixa etária e subgrupos, as estatísticas não estão disponíveis ou não são específicas. No site Por vias Seguras são publicadas estatísticas relativas aos riscos de acidentes. Os dados disponíveis no site mostram um pico na quantidade de mortes resultantes de acidentes de trânsito no final da adolescência e início da idade adulta, que parece coincidir com os dados apresentados anteriormente sobre jovens condutores. No entanto, os dados não se referem apenas aos motoristas, mas a todas as mortes de trânsito. Assim como o aumento nessa idade, também se observou um aumento na faixa dos 70 anos, mas para ter mais conclusões desses dados relativos à idade do condutor, é necessário ajustar os dados à quantidade de jovens e idosos em relação à população total dos motoristas.
Os autores concluem que os dados internacionais mostram certas tendências em relação à idade do motorista no envolvimento de acidentes de trânsito. Em alguns países essas análises de dados são suficientes para reduzir o envolvimento de acidentes nessas faixas etárias. No Brasil, a quantidade de estatísticas coletadas é alta, mas estão espalhadas por estados. Seria aconselhável pelos autores um órgão específico para coordenação de consolidação global desses dados. Além disso, devem ser desenvolvidas análises mais específicas para coletar os dados e, com isso, seria possível tomar medidas necessárias visando reduzir o risco de envolvimento em acidentes e mortes.
Para ler os artigos, acesse
Langford, J., Methorst, R., & Hakamies-Blomqvist, L. (2006). Older driver do not have a high crash risk: a replication of low mileage bias. Accident Analysis and Prevention, 38(3), 574-578. DOI:10.1016/j.aap.2005.12.002.
Mori, Y., & Mizohata, M. (1994). Characteristics of older road users and their effect on road safety. Accident Analysis and Prevention, 27(3), 391-404. DOI:10.1016/0001-4575(94)00077-Y.
Williams, A.F. (2002). Teenage drivers: patterns of risks. Journal of Safety Research, 34(1), 5-15. DOI:10.1016/S0022-4375(02)00075-0.
World Health Organization. (2015). Global status report on road safety 2015. Geneva: World Health Organization.
WIT, P. A. J. M., SOUZA, C. Z. and CRUZ, R. M. Improving Accident Statistics and Expanding the Role of Traffic Psychologists in Brazil. Psicol. cienc. prof. [online]. 2016, vol.36, n.4, pp.816-830. [viewed 03 March 2017]. ISSN 1414-9893. DOI: 10.1590/1982-3703002382016. Available from: http://ref.scielo.org/cbczpx
Link externo
Psicologia: Ciência e Profissão – PCP – www.scielo.br/pcp/
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Muito legal o artigo, parabéns!