Os olhares de Eugène Sue e os folhetins na Buenos Aires do século XIX

Maria Thereza Magalhães Gomes de Santana, bolsista na Varia Historia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil

Varia Historia (v. 34, n. 64), apresenta o artigo “Eugène Sue en Buenos Aires. Edición, circulación y comercialización del folletín durante el rosismo” de Hernán Pas (2018), professor adjunto da Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación (Universidad Nacional de La Plata) e investigador adjunto do CONICET, na Argentina. Partindo dos esforços de pensar a história gráfica da imprensa, assim como as revistas e publicações periódicas argentinas e latino-americanas, o artigo enfoca os folhetins em circulação nos periódicos argentinos do século XIX – principalmente a partir da década de 1840 –, trabalhando o caso paradigmático de Eugène Sue, renomado e premiado escritor francês com grande recepção, circulação e comercialização editorial na região rio-platense, especialmente em Buenos Aires.

Eugène Sue e alguns de seus contemporâneos novelistas franceses foram responsáveis pela constituição do folhetim como gênero nascido do impresso periódico a nível mundial. Ao mesmo tempo, tiveram papel central na dilatação do mercado gráfico, principalmente em Buenos Aires. Apesar de marcar a primeira grande expansão global do consumo literário popular, o fenômeno bibliográfico e editorial gerado pela grande recepção das novelas de Sue – sobretudo as célebres Les Mystères de Paris e Le Juif Errant – passou despercebido na história da cultura letrada rio-platense. Sem uma análise sistemática, prevaleceu a ideia de que esses e outros folhetins estiveram restritos a um público leitor que fosse capaz de lê-los em seu idioma original ou disposto a adquirir suas traduções a elevados custos no estrangeiro. Pas afirma que “Al contrario, un estudio detenido de la prensa rioplatense – en este caso la de Buenos Aires – evidencia un consumo ampliamente expandido, al punto de generar una competencia editorial cuya magnitud, como enseguida veremos, carecía hasta entonces de antecedentes” (PAS, 2018, p. 196).

Os best-sellers da literatura industrial, como ficaram conhecidos esses folhetins, geraram uma especulação editorial sem precedentes na província de Buenos Aires. Não só empresas de alcance transcontinental encontraram nos folhetins franceses um caminho auspicioso e promissor, como também os impressores e editores locais foram em busca de atender às demandas de um público leitor já predisposto pelas notícias sobre as novelas que tomavam conta das páginas dos periódicos. Hernán Pas, ao analisar a competição entre editoras locais e transcontinentais no mercado dos folhetins, afirma uma relação dialógica entre o crescimento do público leitor e a expansão do mercado editorial: em suas palavras, “o folhetim na imprensa veio a incentivar um nicho de produção editorial – as edições baratas, as ‘bibliotecas’, os ‘álbuns’ – que, inegavelmente, contribuiu (e se construiu) com o crescimento do público leitor” (PAS, 2018, tradução livre, p. 197-198).

Já caminhando para o fim de seu artigo, Pas analisa a cultura visível e os elementos iconográficos presentes nos folhetins que não se ofereciam somente como complemento de leitura, mas como porta de entrada ou como parte importante da leitura, e que, ao fim, buscavam expandir o público leitor, cada vez mais ávido pelo registro de elementos não verbais no desenho tipográfico da publicação. Após a análise dos diversos elementos desse novo gênero editorial e periódico que propugnaram os campos de leitura rio-platenses, o autor conclui sua investigação sobre os folhetins como modalidade de edição e sobre a comunidade letrada da época, afirmando:

“Este verdadeiro aluvião da literatura folhetinesca francesa abarcou vários níveis e implicou a todos, ou quase todos, os circuitos de leitura. […] Este microclima editorial folhetinesco, disperso na imprensa oficial de Buenos Aires, interpelava – e era interpelado por – uma audiência que, podemos supor, era bastante mais ampla e diversificada do que comumente se crê.” (PAS, tradução livre, 2018, p. 216-217)

O artigo de Hernán Pas pode ser acessado online e gratuitamente na plataforma SciELO, assim como todos os números e artigos da Varia Historia. Além disso, convidamos os leitores a acessarem nosso canal no Youtube.

Para ler o artigo, acesse

PAS, H. Eugène Sue en Buenos Aires: Edición, circulación y comercialización del folletín durante el rosismo. Varia hist. [online]. 2018, vol.34, n.64, pp.193-225. ISSN 0104-8775. [viewed 24 April 2018]. DOI: 10.1590/0104-87752018000100007. Available from: http://ref.scielo.org/7bpr8y

Links externo

Varia Historia – VH: www.scielo.br/vh

Site Varia Historia – www.variahistoria.org

Canal Varia Historia – https://www.youtube.com/channel/UCD4EbWEXNyTAirlemvy3UPw

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

SANTANA, M.T.M.G. Os olhares de Eugène Sue e os folhetins na Buenos Aires do século XIX [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2018 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2018/04/26/os-olhares-de-eugene-sue-e-os-folhetins-na-buenos-aires-do-seculo-xix/

 

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

Post Navigation