Sara León Spesny Dos Santos; Institut de recherche interdisciplinaire sur les enjeux sociaux (IRIS), École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS) Paris, França
Marília Mendes de Souza Teixeirense, Secretaria de Saúde do Distrito Federal, Unidade Mista de Saúde de Taguatinga, Taguatinga Sul, Brasília, DF, Brasil
O Brasil é conhecido como um dos países no mundo que mais tem medicalizado o parto, tanto no sistema público como o privado de saúde (DECLERCQ, 2015; MCCALLUM, 2005). No entanto, nos últimos anos o Brasil tem feito avanços significativos na humanização da atenção as mulheres parturientes (RATTNER, 2009; DINIZ, 2005). Movimentos feministas e de profissionais de saúde tem impulsionado a perspectiva da humanização do parto com lineamentos para práticas mais respeitosas dentro dos serviços do SUS. Neste sentido, a criação de centros de parto normal representa o sumum bonum da humanização, garantindo uma atenção qualificada e menos intervencionista (no caso de mulheres com gravidez de baixo risco).
Partindo de experiências de dez mulheres do Distrito Federal, no artigo “Da expectativa à experiência: humanização do parto no Sistema Único de Saúde”, publicado em Interface: Comunicação, Saúde e Educação (v. 22, n. 65), analisou-se como a perspectiva da humanização influencia a vivência deste processo. Reconheceu-se diversas formas de interpretar a atenção pré-natal e de parto, fugindo de dicotomias como bom/ruim; medicalizado/humanizado; mulher sujeito/objeto. As exigências ao corpo da mulher grávida e parturiente representa um campo de disputa discursiva, ora como lugar de excelência do conhecimento médico, ora como lugar de resistência ao mesmo. Mulheres que formam atendidas nos centros de parto normal, efetivamente tiveram uma experiência de parto mais positiva quando comparadas com mulheres que foram atendidas em hospitais. Mas todas as mulheres revelaram também sentimentos de decepção quando as experiências do parto não conseguem atingir a suas expectativas. Sendo assim, o discurso da humanização impõe também exigências e critérios no corpo das mulheres. O movimento da humanização pode finalmente essencializar o corpo das mulheres e reproduzir discursos normativos entorno a mulher, descrita como ‘naturalmente’ desenhada para parir sem dor nem dificuldade.
Referências
DECLERCQ, E. Childbirth in Brazil: challenging an interventionist paradigm. Birth., v. 42, n. 1, p. 1-4, 2015. [reviewed 14 May 2018]. DOI: 10.1111/birt.12156. Avaliable from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25676791
DINIZ, C. S G. Humanização da assistência ao parto no Brasil: os muitos sentidos de um movimento. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2005, vol.10, n.3, pp.627-637. ISSN 1413-8123. [viewed 15 August 2018]. DOI: 10.1590/S1413-81232005000300019. Available from: http://ref.scielo.org/vmh4pn
MCCALLUM, C. Explaining caesarean section in Salvador da Bahia, Brazil. Sociol Health Illn., v. 27, n. 2, p. 215-242, 2005. [reviewed 14 May 2018]. DOI: 10.1111/j.1467-9566.2005.00440.x. Avaliable from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15787776
RATTNER, Daphne. Humanizing childbirth care: brief theoretical framework. Interface (Botucatu) [online]. 2009, vol.13, suppl.1, pp.595-602. ISSN 1807-5762. [viewed 15 August 2018]. DOI: 10.1590/S1414-32832009000500011. Available from: http://ref.scielo.org/6tn7jy
Para ler o artigo, acesse
TEIXEIRENSE, M. M. S and SANTOS, S. L. S. From expectation to experience: humanizing childbirth in the Brazilian National Health System.Interface (Botucatu) [online]. 2018, vol.22, n.65, pp.399-410. ISSN 1807-5762. [viewed 15 August 2018]. DOI: 10.1590/1807-57622016.0926. Available from: http://ref.scielo.org/cms59s
Link externo
Interface – Ciência, Educação e Saúde – ICSE: www.scielo.br/icse
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