Alejandro Caballero-Rivero, Doutorando em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Pernambuco, PE, Brasil
Nancy Sánchez-Tarragó, Professora do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal de Rio Grande do Norte (UFRN), Natal, RN, Brasil
Raimundo Nonato Macedo dos Santos, Professor do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Pernambuco, PE, Brasil
Investigadores das Universidades Federais de Pernambuco (UFPE) e Rio Grande do Norte (UFRN) publicaram o estudo sob o título “Práticas de Ciência Aberta da comunidade acadêmica brasileira: estudo a partir da produção científica”, na Transinformação (v. 31) no qual exploram as práticas de Acesso Aberto e Dados Abertos utilizadas pelos pesquisadores brasileiros. Ambas iniciativas formam parte da Ciência Aberta, abordagem contemporânea da atividade científica, baseada no uso das tecnologias digitais e ferramentas colaborativas, com o propósito de promover esforços conjuntos de pesquisa, avaliação, disseminação e uso do conhecimento (Figura 1). A pesquisa resulta original e relevante por se tratar de uma primeira aproximação empírica a essas práticas no país.
Os autores constataram o crescimento estável dos artigos em Acesso Aberto, os quais representam mais de um terço da produção brasileira na Web of Science no período 2015-2018. A publicação em mega journals internacionais de Acesso Aberto constitui uma prática destacada, com ênfase em comunidades que pesquisam nas áreas de Agricultura e Ciência & Tecnologia, bem como o depósito de artigos em repositórios, os quais tinham sido previamente publicados em periódicos sobre tal modalidade. Já as práticas relacionadas a Dados Abertos parecem ainda incipientes.
A indagação acerca das práticas dos pesquisadores é fundamental para a implementação de políticas que sustentem o desenvolvimento e promoção de iniciativas de Ciência Aberta. Isso é particularmente importante no Brasil, onde, como argumenta Abdo (2015), as universidades, institutos e agências de pesquisa, vivem um estado de contradição. Por um lado, iniciativas de Ciência Aberta promovem o compartilhamento e a colaboração na produção de conhecimento e no uso dos recursos de pesquisa disponíveis, enquanto, por outro lado, nessas instituições persistem atitudes baseadas em privilégios, prestígio e interesses específicos, que perpetuam o modelo anterior e obstaculizam essas novas práticas.
A partir do levantamento da produção brasileira em periódicos indexados na Web of Science no período 2015-2018, se identificaram 70.983 (39%) artigos disponíveis em Acesso Aberto. Nesta modalidade, predominou a publicação em periódicos cadastrados no Diretório de Revistas de Acesso Aberto (DOAJ), os quais oferecem acesso imediato ao conteúdo e são distribuídos com licença Creative Commons. Adicionalmente, observou-se o peso importante de dois mega journals (PloS One e Scientific Reports), bem como a relevância dos periódicos nacionais de Acesso Aberto com destaque para Semina: Ciências Agrárias, Journal of the Brazilian Chemical Society, Ciência Rural e Ciência & Saúde Coletiva. Além disso, verificou-se o depósito de 25.370 artigos (36%) em repositórios de Acesso Aberto, principalmente, das versões previamente publicadas em revistas de Acesso Aberto. Diferenças disciplinares e institucionais também examinadas sobre essas práticas destacaram o predomínio da publicação em periódicos de Acesso Aberto na área de Agricultura, bem como o equilíbrio no uso de periódicos e repositórios em Ciência & Tecnologia.
Por outra parte, identificaram-se 339 artigos sinalizando criação, uso ou depósito de Dados Abertos de pesquisa. Nesse caso, trata-se de práticas ainda incipientes, porém, com uma tendência crescente. Destaca o uso do repositório GenBank, dedicado às sequências de ácido desoxirribonucleico (ADN), nas áreas de Parasitologia, Genética & Hereditariedade, Microbiologia, Medicina Tropical e Ciências Veterinárias, bem como do repositório Dryad, com foco em publicações científicas e médicas, nas áreas Ciência & Tecnologia, Ciências Ambientais & Ecologia e Biologia Evolucionária.
Além de identificar e caracterizar as práticas de Acesso Aberto e Dados Abertos no Brasil, o estudo senta as bases para a exploração de outras práticas da Ciência Aberta (ex. Pesquisa Reproduzível Aberta, Avaliação Aberta da Ciência, Projetos de Ciência Aberta, dentre outras), assim como para o aprofundamento dessa pesquisa utilizando outros métodos ou fontes para a coleta de dados.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) (Código de financiamento 001) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) (Bolsa de produtividade) apoiaram esta pesquisa.
Referência
ABDO, A. H. Guidelines for a contemporary, open academy. In: ALBAGLI, S.; MACIEL, M. L.; ABDO, A. H. (Ed.). Open Science, open issues. Brasília: IBICT, 2015. p. 269-287.
Para ler o artigo, acesse
CABALLERO-RIVERO, A., SANCHEZ-TARRAGO, N. and SANTOS, R. N. M. Práticas de Ciência Aberta da comunidade acadêmica brasileira: estudo a partir da produção científica. Transinformação, v. 31, e190029, 2019. ISSN: 0103-3786 [viewed 13 November 2019]. DOI: 10.1590/2318-0889201931e190029. Available from: http://ref.scielo.org/33ybgz
Link externo
Transinformação – TINF: www.scielo.br/tinf
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