O que a primeira tradução de Grande sertão: veredas ainda pode revelar

Lenita Maria Rimoli Pisetta, Docente da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, SP, Brasil.

No artigo “O lado menos conhecido da história da primeira tradução de Grande sertão: veredas para o inglês”, publicado no periódico Trabalhos em Linguística Aplicada (vol. 59, no. 2), Lenita Maria Rimoli Pisetta discute o trabalho de Harriet de Onís. Considerada pouco imaginativa – facilitou demasiadamente a obra de Rosa, transformando-a em um bangue-bangue made in USA – essa tradutora foi uma agente fundamental para a divulgação de Rosa no exterior. Essa pesquisa foi desenvolvida pela autora do artigo em seu pós-doutorado financiada pela FAPESP e realizada no Harry Ransom Center da Universidade do Texas em Austin, no qual a pesquisadora teve acesso a um lado menos conhecido da história da tradução de Grande sertão: veredas e da entrada de Guimarães Rosa nos Estados Unidos.

Cabe ressaltar que De Onís foi não só a “descobridora” do autor e responsável direta pela obtenção dos direitos autorais da tradução por parte da editora Alfred A. Knopf, Inc., mas também defendeu a singularidade da escrita rosiana, e evitou que a tradução fosse ainda mais facilitadora, o que fica evidente nestes trechos de carta trocada com o próprio Alfred Knopf: “Esse é um livro de grande qualidade, mas estranho e difícil, como lhe disseram quando você esteve no Brasil”. Cita, então outros autores: “O mesmo se aplica a Joyce e Faulkner, para citar dois exemplos. O que teria acontecido se os editores deles tivessem tentado endireitar e reorganizar o pensamento e a expressão desses autores? Eles são todos artistas que sabem muito bem o que estão fazendo, e cujo estilo é parte integral de sua obra. E finaliza dizendo: “Você tem todo o direito de não gostar da escrita de Guimarães Rosa. Mas não tente transformá-lo à sua imagem e semelhança” (03/06/1962).

A novidade trazida pela pesquisa está principalmente no ponto de vista adotado. Muitos pesquisadores visitaram o Harry Ransom Center em busca de informações sobre os diversos autores – principalmente estrangeiros – que passaram pela editora de Alfred Knopf. E mesmo quando buscaram dados sobre as traduções, em geral continuavam mantendo o foco no autor do original e não no processo de tradução. Foi o ponto de vista de uma pesquisadora em Estudos da Tradução e também tradutora que permitiu que esse lado menos conhecido da história da difusão da obra de Guimarães Rosa em língua inglesa fosse revelado. E essa história merece ser mais bem divulgada, principalmente agora que, após quase 60 anos, outra tradução do Grande sertão está sendo preparada por Alison Entrekin. As radicais diferenças entre as duas traduções – também em termos de recursos tecnológicos e bibliográficos – podem oferecer interessantes pontos de vista para pensar formas de traduzir solidárias com formas de figurar diferentes realidades.

Referências

ROSA, J. G. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1956.

ROSA, J. G. The devil to pay in the backlands. Tradução de Harriet de Onís. Nova York: Knopf, 1963.

ROSA, J. G. Grande sertão: veredas (Bedeviled in the badlands). Tradução de Alison Entrekin.  [viewed 1 out. 2020]. Available from: https://www.wordswithoutborders.org/article/july-2016-brazil-beyond-rio-grande-sertaeo-veredas-joao-guimaraes-rosa

Para ler o artigo, acesse

PISETTA, L. M. R. O lado menos conhecido da história da primeira tradução de Grande sertão: veredas para o inglês. Trab. linguist. apl. [online]. 2020, vol. 59, no. 2, pp. 1288-1309, ISSN: 2175-764X [viewed 28 September 2020]. DOI: 10.1590/01031813715661420200428. Available from: http://ref.scielo.org/zvsbh2

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PISETTA, L. M. R. O que a primeira tradução de Grande sertão: veredas ainda pode revelar [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2020 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2020/10/13/o-que-a-primeira-traducao-de-grande-sertao-veredas-ainda-pode-revelar/

 

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