E se escutarmos um poeta, um filósofo e um educador para pensarmos os tempos da infância e uma infância para a educação?

Walter Omar Kohan, Docente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Rosana Aparecida Fernandes, Docente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil.

O que significa uma educação infantil? No texto “Tempos da infância: entre um poeta, um filósofo, um educador”, publicado no periódico Educação & Pesquisa (vol. 46),  Walter Omar Kohan e Rosana Aparecida Fernandes apresentam uma ideia singular para pensar essa pergunta: há um valor político na temporalidade infantil, que é preciso atentar e cuidar, muito mais do que interromper, como fazem, atualmente, as instituições educacionais. Assim, os modos de entender o político exigem repensar a experiência temporal propiciada e afirmada nas instituições educacionais.

A estratégia é chamar personagens infantis, vindos da literatura, da filosofia e da educação com os autores Gonzalo Rojas, Gilles Deleuze e Paulo Freire. Um conceito atravessa o presente ensaio: o tempo. Três seções do ensaio estão dedicadas a cada uma dessas figuras. Em “Um poeta criança”, percebe-se, na poesia de Gonzalo Rojas, o esforço do poeta por honrar o tempo presente da infância que é, também, o tempo da escrita poética. Para isso ele cria o conceito da reniñez: um tempo que não passa, durativo, atento e sensível à palavra do mundo. Em “A cena infantil de um filósofo”, afirmamos, com Gilles Deleuze, que pensar a infância como uma cena infantil é restaurar à infância um tempo propriamente infantil, como diz Heráclito no seu icônico fragmento 52. Finalmente, em “Um educador político menino”, Paulo Freire expande o tempo da infância para todas as idades: invasão aiónica de khrónos, que torna urgente aos educadores e às educadoras de todas as idades, ao habitar um tempo infantil, um presente curioso que olha o mundo com estranheza e pergunta, inquieto, por que o mundo é como é e de que outras maneiras ele poderia ser?. Com Freire, ouve-se uma palavra infantil para pensar o sentido da presença da filosofia na escola: ele não diz respeito a fazer da infância algo diferente do que ela é, mas nos lembra e nos leva à (um tempo de) infância.

Finalmente, conclui-se que a palavra infantil, do poeta, filósofo e educador afirmam o sentido da presença da filosofia na escola, ou de modo mais geral de uma educação filosófica que não é fazer da infância algo diferente do que ela é, mas nos lembrar e nos levar à (um tempo de) infância, ou para dizê-lo com nossos interlocutores infantilmente adultos: a viver, a qualquer idade, uma reniñez, uma cena infantil, um permanecer na infância como presente.

Referências

DELEUZE, G. Crítica e clínica. São Paulo: Editora 34, 1997.

FREIRE, P.; FAUNDEZ, A. Por uma pedagogia da pergunta. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2017.

ROJAS, G. Concierto: antología poética (1935-2003). Barcelona: Vegap, 2004.

Para ler o artigo, acesse

KOHAN, W. O. and FERNANDES, R. A. Tempos da infância: entre um poeta, um filósofo, um educador. Educ. Pesqui. [online]. 2020, vol. 46, e236273, ISSN: 1678-4634 [viewed 30 September 2020]. DOI: 10.1590/s1678-4634202046236273. Available from: http://ref.scielo.org/g8fmmg

Links externos

Educação e Pesquisa – EP: www.scielo.br/ep

http://www.educacaoepesquisa.fe.usp.br

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

KOHAN, W. O. and FERNANDES, R. A. E se escutarmos um poeta, um filósofo e um educador para pensarmos os tempos da infância e uma infância para a educação? [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2020 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2020/10/15/e-se-escutarmos-um-poeta-um-filosofo-e-um-educador-para-pensarmos-os-tempos-da-infancia-e-uma-infancia-para-a-educacao/

 

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

Post Navigation