Luiz Carlos Bresser-Pereira, Professor da Fundação Getulio Vargas, Escola de Administração de Empresas de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.
No artigo “Depois do capitalismo, o gerencialismo democrático”, compartilho que início da década de 60, quando passei 18 meses nos Estados Unidos, estudando intensamente, fiquei impressionado com o desenvolvimento daquele país – não apenas o desenvolvimento econômico, mas também o desenvolvimento político. Naquele momento, os Estados Unidos eram o país mais rico e poderoso do mundo, e o padrão de vida de todas as classes não parava de aumentar. O quadro, hoje, é muito diferente. Os Estados Unidos ainda são o país mais poderoso no plano econômico e militar, mas está perdendo sua hegemonia para a China. É um país preso a um liberalismo econômico ineficiente que, desde 1980, é a causa principal de taxas de crescimento muito baixas, de um enorme aumento da desigualdade e da estagnação do padrão de vida da metade mais pobre. O que aconteceu neste tempo e levou os Estados Unidos a esta decadência?
O fato histórico novo que levou o grande país e, com ele, boa parte do capitalismo rico à crise dos últimos 12 anos foi a Virada Neoliberal que ocorreu no Reino Unido e nos Estados Unidos em torno de 1980, com a eleição de Margareth Thatcher e Ronald Reagan para o comando desses dois países. Foi uma escolha errada do ponto de vista econômico. Enquanto o liberalismo político vê a liberdade apenas como o direito do indivíduo de fazer aquilo que bem entender desde que não seja contra a lei, o republicanismo a vê como o objetivo a ser alcançado pela sociedade e como uma obrigação dos seus líderes políticos de defender o interesse público mesmo que ele contrarie seus próprios interesses. Com a virada neoliberal, o republicanismo foi esquecido, e a sociedade americana ficou à mercê de um liberalismo econômico ineficiente e de um individualismo político reacionário.
O capitalismo deixou de produzir desenvolvimento econômico e progresso humano. Em seu lugar, está surgindo uma nova organização social, que o autor denomina “gerencialismo democrático” (Bresser-Pereira, 2020). O gerencialismo democrático supõe uma sociedade de mercado sem classe dominante capitalista; supõe uma formação social em que continuamos a ter a propriedade privada dos meios de produção, os lucros e os salários são as duas receitas principais, e o estado e o mercado coordenam o sistema econômico. Hoje, a democracia é o único regime político dotado de legitimidade social. É instrumental para a realização dos objetivos políticos que as sociedades modernas definiram para si mesmas. A democracia vem enfrentando bem o desafio autoritário, e é possível prever que ela se aprofundará no gerencialismo democrático.
Referências
BRESSER-PEREIRA, L. C. A democracia não está morrendo. Foi o neoliberalismo que fracassou. Lua Nova – Revista de Cultura e Política [online]. 2020, vol.111, pp. 51-79 [viewed 11 May 2021]. https://doi.org/10.1590/0102-051079/111 . Available from: http://ref.scielo.org/28r42n
Para ler o artigo, acesse
BRESSER-PEREIRA, L. C. Depois do capitalismo, o gerencialismo democrático. Rev. adm. empres. [online]. 2021, vol.61, no.03 [viewed 13 May 2021]. https://doi.org/10.1590/s0034-759020210304. Available from: http://ref.scielo.org/7h72z9
Links externos
RAE-Revista De Administração De Empresas – RAE: www.scielo.br/rae
Sobre o autor
Luiz Carlos Bresser-Pereira
É professor emérito da Fundação Getulio Vargas. Possui graduação em Direito pela Faculdade de Direito pela Universidade de São Paulo (USP), mestrado (Master of Business Administration) pela Michigan State University e doutorado em Economia pela Faculdade de Economia e Administração (FEA-USP) e livre-docência em Economia pela FEA-USP. E-mail: luiz.bresser@fgv.br
Como citar este post [ISO 690/2010]:
Últimos comentários