Francisco Rodrigues Lima Junior, Doutor em Engenharia de Produção, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.
William Viana Borges, Mestre em Administração, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.
As mudanças cada vez mais rápidas nas necessidades dos clientes e dos stakeholders têm impactado a forma como as cadeias de abastecimento são estruturadas e geridas. Nas últimas décadas, muitas empresas passaram a constituir cadeias de abastecimento globais, com fornecedores situados em diferentes países, a fim de alcançar níveis mais altos de qualidade e redução de custos.
Paralelo a isso, emergiu a preocupação com questões ambientais e sociais ao longo dos elos das cadeias de abastecimento, suscitada principalmente por legislações mais severas e exigências do mercado consumidor. Nesse contexto, muitas empresas passaram a buscar estratégias para gerenciar melhor sua base de fornecedores e tornar suas operações mais sustentáveis. Uma dessas estratégias é denominada segmentação de fornecedores, que consiste na divisão da base de fornecimento em subgrupos, estabelecidos de acordo com as características distintivas dos fornecedores (BORGES; LIMA, 2020). Essa segmentação, que até então costumava ser baseada apenas em aspectos econômicos, cada vez mais tende a considerar aspectos ambientais e sociais para buscar a promoção da sustentabilidade na cadeia de abastecimento.
Entretanto, uma das principais dificuldades que emerge ao adotar indicadores ambientais e sociais está na dificuldade de se obter dados sobre desempenho dos fornecedores em tais indicadores. Como o uso desses indicadores em muitas empresas é ainda incipiente, a ausência de dados históricos dificulta sua adoção no processo de avaliação de fornecedores. Diante disso, surge a necessidade de adotar métodos voltados para decisões sob incerteza e ausência de dados, ou seja, métodos que permitam a utilização do conhecimento e a experiência dos gestores para avaliar o desempenho dos fornecedores visando à segmentação destes.
Com o propósito de auxiliar os gestores nessas situações, a dissertação de Mestrado desenvolvida por William Viana Borges, publicada como o artigo Proposta de um Modelo Hesitant Fuzzy Linguistic TOPSIS para Segmentação de Fornecedores na Revista de Administração Contemporânea, propôs um novo modelo para apoiar a segmentação de fornecedores considerando critérios econômicos, ambientais e sociais. Esse trabalho foi desenvolvido entre 2019 e 2021 no Programa de Pós-graduação em Administração da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR, Curitiba-PR), sob orientação do Prof. Dr. Francisco Rodrigues Lima Junior, coordenador do grupo de pesquisa “Tomada de Decisão em Gestão de Operações”. Também contou a participação dos pesquisadores Prof. Dr. Jurandir Peinado (UTFPR) e Prof. Dr Luiz Cesar Ribeiro Carpinetti (USP).
O modelo proposto por Borges é baseado no método Hesitant Fuzzy Linguistic TOPSIS, que permite aos gestores avaliar os fornecedores com base em dados linguísticos, ao invés de dados puramente numéricos. Dessa forma, os gestores podem exprimir seu conhecimento sobre o desempenho dos fornecedores utilizando palavras como “baixo”, “médio” ou “alto”. Além disso, diferentemente dos modelos prévios encontrados na literatura (BORGES; LIMA, 2020), os gestores podem adotar expressões linguísticas, como “entre médio e alto”, quando não possuem informação suficiente ou não se sentem confortáveis para escolher um único valor linguístico. Essa abordagem traz maior flexibilidade para aos gestores durante a avaliação dos fornecedores, ao mesmo tempo em que é capaz de modelar o conhecimento desses gestores sobre o problema.
O modelo classifica os fornecedores em uma matriz de segmentação considerando suas capacidades e a disposição destes para colaborar com a empresa compradora (REZAEI; WANG; TAVASSZY, 2015). Foi implementado usando Microsoft Excel© e aplicado em uma usina hidrelétrica. A aplicação piloto permitiu analisar o desempenho de seis fornecedores e classificá-los de acordo com 28 critérios.
Os resultados dessa aplicação e dos testes de análise de sensibilidade realizados indicam que o modelo apresenta resultados consistentes e pode auxiliar gestores na elaboração de programas de desenvolvimento visando melhorar o desempenho econômico, ambiental e social dos fornecedores. Também é capaz de apoiar processos decisórios realizados em grupo, além de não limitar a quantidade de critérios e fornecedores que podem ser considerados pelos gestores. A planilha com a implementação do modelo está disponível na base Mendeley Data (BORGES; LIMA, 2021), e pode ser reutilizada por outras empresas para apoiar o processo de segmentação de fornecedores.
Referências
BORGES, W. V. and LIMA JUNIOR, F.R. Modelos de Suporte à Decisão para Segmentação de fornecedores: uma Revisão Sistemática da Literatura. In: X Congresso Brasileiro de Engenharia de Produção (CONBREPRO). Ponta grossa. 2020.
BORGES, W.V. and LIMA JUNIOR, F.R. A Hesitant Fuzzy Linguistic TOPSIS model to support Supplier Segmentation. Mendeley Data [online]. 2021 [viewed 26 July 2022]. https://doi.org/10.17632/2wg9fbvddk.1. Available from: https://data.mendeley.com/datasets/2wg9fbvddk/1
REZAEI, J., WANG, J. and TAVASSZY, L. Linking supplier development to supplier segmentation using Best Worst Method. Expert Systems with Applications [online]. 2015, vol. 42, no. 23, pp. 9152-9164 [viewed 26 July 2022]. https://doi.org/10.1016/j.eswa.2015.07.073. Available from: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0957417415005333?via%3Dihub
Para ler o artigo, acesse
BORGES, W.V., et al. A Hesitant Fuzzy Linguistic TOPSIS Model to Support Supplier Segmentation. Rev. adm. Contemp. [online]. 2022, vol. 26, no. 6, e-210133 [viewed 26 July 2022]. https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2022210133.en. Available from: https://www.scielo.br/j/rac/a/jFMdrWzVjTF8SC5FJrpXgMM/?lang=en
Links externos
Revista de Administração Contemporânea – RAC: www.scielo.br/rac
Grupo de pesquisa – Tomada de Decisão em Gestão de Operações: http://dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/293528
Como citar este post [ISO 690/2010]:
Últimos comentários