Branquitude e lesbianidade sob a ótica decolonial: o olhar para a uma personagem em devir

Danni Conegatti, pesquisador, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Pelotas, RS, Brasil.

Logo do periódico TransformaçãoO artigo ”Eu acho que você está um pouco apaixonada por mim”: desejo, sexualidade e colonialidade de gênero em Gentleman Jack, publicado no periódico Trans/Form/Ação (vol. 48, no. 2, 2025) oferece uma discussão que relaciona gênero, raça e sexualidade, com um olhar avesso ao ímpeto profético da análise de imagens, e, portanto, mais interessado nas ambiguidades e simbioses que convocam a uma complexidade do olhar.

Para cumprir tal objetivo, o texto opera uma análise da personagem Ann Walker, da narrativa seriada Gentleman Jack, a partir de seu arco narrativo constituinte da primeira temporada. Tal análise é ancorada pelos escritos da estadunidense Eve Sedgwick, a partir de sua discussão sobre “a estratégia paranoica”. Como efeito, o artigo busca resistir a uma análise interessada apenas na historicidade das normas de gênero, sexualidade e raça, para adentrar o campo das possibilidades, sem medo de operar com, no limite, paradoxos.

A escolha das autoras e autores que sustentam teoricamente tal jornada é operada a partir de uma busca pelo balanço entre historicidade e possibilidades, compreendendo a socióloga argentina María Lugones, a partir de suas noções de (im)puro e de colonialidade de gênero, e o filósofo francês Gilles Deleuze em suas parcerias com Parnet e Guattari, especialmente seus escritos sobre devir.

Reprodução de um episódio de Gentleman Jack

Imagem: Gentleman Jack (2019)

Dentre as análises das cenas e da narrativa de Ann, as quais estão invariavelmente atreladas a de seu interesse romântico na série, Anne Lister, destaca-se a relação ambígua que a personagem mantém com a concepção de si enquanto mulher apaixonada por alguém que compartilha da mesma condição de gênero que a sua. Ann é acometida por uma série de convites e convocações, seja de compreender essa nova relação enquanto possibilidade e, consequentemente, perceber-se como agente em sua própria história, seja de permanecer inerte, em uma espécie de despossessão de si esvaziada. Assim, Ann, impura, entra em devir e, ao mesmo tempo, reorganiza-se, fazendo-se pura novamente, numa espécie de puro-impuro, esvaziamento-transbordamento.

Como efeito, o artigo movimenta as noções deleuzeanas de devir, des/reterritorialização, desejo e filiação, implicando tal cadeia conceitual na qualificação do desejo da personagem. Desejo, consequentemente, assume outras conotações, para além de seu sentido usual, tornando-se a via para uma Ann em devir.

As elaborações sobre raça, gênero e sexualidade emergem deste ponto, uma vez que a personagem, em devir, estabelece outras relações com e tensiona seu destino-história enquanto uma mulher branca, aristocrata, habitante do século XIX cujo destino compõe invariavelmente um casamento estratégico, a procriação de herdeiras (os) e a subserviência feminina. O desejo de Ann, assim, torna-se motriz para uma outra possibilidade.

Para ler o artigo, acesse

CONEGATTI, D. “Eu acho que você está um pouco apaixonada por mim”: desejo, sexualidade e colonialidade de gênero em Gentleman JackTrans/Form/Ação [online]. 2025, vol. 48, no. 2, e025004 [viewed 11 April 2025]. https://doi.org/10.1590/0101-3173.2025.v48.n2.e025004. Available from: https://www.scielo.br/j/trans/a/dSTSq9yxjP8jY9tvTkX76Lg/

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Como citar este post [ISO 690/2010]:

CONEGATTI, D. Branquitude e lesbianidade sob a ótica decolonial: o olhar para a uma personagem em devir [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2025 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2025/04/11/branquitude-lesbianidade-sob-otica-decolonial-olhar-para-personagem-em-devir/

 

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