Danni Conegatti, pesquisador, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Pelotas, RS, Brasil.
O artigo ”Eu acho que você está um pouco apaixonada por mim”: desejo, sexualidade e colonialidade de gênero em Gentleman Jack, publicado no periódico Trans/Form/Ação (vol. 48, no. 2, 2025) oferece uma discussão que relaciona gênero, raça e sexualidade, com um olhar avesso ao ímpeto profético da análise de imagens, e, portanto, mais interessado nas ambiguidades e simbioses que convocam a uma complexidade do olhar.
Para cumprir tal objetivo, o texto opera uma análise da personagem Ann Walker, da narrativa seriada Gentleman Jack, a partir de seu arco narrativo constituinte da primeira temporada. Tal análise é ancorada pelos escritos da estadunidense Eve Sedgwick, a partir de sua discussão sobre “a estratégia paranoica”. Como efeito, o artigo busca resistir a uma análise interessada apenas na historicidade das normas de gênero, sexualidade e raça, para adentrar o campo das possibilidades, sem medo de operar com, no limite, paradoxos.
A escolha das autoras e autores que sustentam teoricamente tal jornada é operada a partir de uma busca pelo balanço entre historicidade e possibilidades, compreendendo a socióloga argentina María Lugones, a partir de suas noções de (im)puro e de colonialidade de gênero, e o filósofo francês Gilles Deleuze em suas parcerias com Parnet e Guattari, especialmente seus escritos sobre devir.
Dentre as análises das cenas e da narrativa de Ann, as quais estão invariavelmente atreladas a de seu interesse romântico na série, Anne Lister, destaca-se a relação ambígua que a personagem mantém com a concepção de si enquanto mulher apaixonada por alguém que compartilha da mesma condição de gênero que a sua. Ann é acometida por uma série de convites e convocações, seja de compreender essa nova relação enquanto possibilidade e, consequentemente, perceber-se como agente em sua própria história, seja de permanecer inerte, em uma espécie de despossessão de si esvaziada. Assim, Ann, impura, entra em devir e, ao mesmo tempo, reorganiza-se, fazendo-se pura novamente, numa espécie de puro-impuro, esvaziamento-transbordamento.
Como efeito, o artigo movimenta as noções deleuzeanas de devir, des/reterritorialização, desejo e filiação, implicando tal cadeia conceitual na qualificação do desejo da personagem. Desejo, consequentemente, assume outras conotações, para além de seu sentido usual, tornando-se a via para uma Ann em devir.
As elaborações sobre raça, gênero e sexualidade emergem deste ponto, uma vez que a personagem, em devir, estabelece outras relações com e tensiona seu destino-história enquanto uma mulher branca, aristocrata, habitante do século XIX cujo destino compõe invariavelmente um casamento estratégico, a procriação de herdeiras (os) e a subserviência feminina. O desejo de Ann, assim, torna-se motriz para uma outra possibilidade.
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CONEGATTI, D. “Eu acho que você está um pouco apaixonada por mim”: desejo, sexualidade e colonialidade de gênero em Gentleman Jack. Trans/Form/Ação [online]. 2025, vol. 48, no. 2, e025004 [viewed 11 April 2025]. https://doi.org/10.1590/0101-3173.2025.v48.n2.e025004. Available from: https://www.scielo.br/j/trans/a/dSTSq9yxjP8jY9tvTkX76Lg/
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