Para não substancializar o devir, a distensão da intuição como possibilidade de outra metafísica

Pablo Enrique Abraham Zunino, Professor do Centro de Formação de Professores da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (CFP/UFRB) Amargosa, BA, Brasil.

Logo do periódico Trans/form/açãoA partir do diálogo com o artigo de Rita Paiva, em nosso Comentário a “Impulso criador e drama vital em Bergson”: A dialética do devir e a dramatização do elã vital, retomamos três elementos que nos interessa problematizar: (1) a concepção de “devir” como realidade em duração; (2) a noção de “drama” ou a dramatização como recurso a personagens metafísicos; e (3) o conceito de “ação” entendido como luta ou esforço.

Ao contornar obstáculos, a matéria viva abre caminho e se organiza prolongando-se em ação: essa seria uma das teses centrais do artigo, que interpretamos livremente como uma dialética da criação da matéria como obstáculo ou, sinteticamente, como uma “dialética do devir”. A presença do obstáculo, como aquilo que opõe uma resistência necessária à criação, opera aqui uma negatividade inerente à positividade da ação. Os obstáculos que a própria materialidade impõe à vida são como uma negação que limita, mas ao mesmo tempo exige criação. O elã vital, portanto, precisa de um meio para agir, um solo que lhe permita exercer sua adaptação inventiva. Nisso consiste sua luta.

Assim, a abertura de um canal se explica pela própria força da água que, ao deparar com certos obstáculos, prolonga sua ação no sentido que lhe ofereça menor resistência. O movimento, segundo Bergson, é um ato indivisível como aquele que fazemos ao erguer a mão, onde a contração muscular vence a gravidade.

O impulso criador também se compreende de modo análogo, visto que a matéria viva é atravessada por uma ação indivisível que prolonga seu esforço invisível: “Imaginemos que, em vez de mover-se no ar, minha mão tenha que atravessar uma quantidade de limalha de ferro que se comprime e resiste à medida que progrido” (BERGSON, 2005, p. 103). Se fixarmos um determinado momento dessa evolução, teremos um arranjo de grãos dessa limalha que expressa negativamente o movimento indiviso da mão que os organizou.

Sobre Pablo Enrique Abraham Zunino

É doutor em filosofia pela Universidade de São Paulo – USP, professor de Filosofia da UFRB e pesquisador na área de Filosofia contemporânea em conexão com temas de literatura, cinema, cultura e educação.

Referências

BARBARAS, R. Le tournant de l’expérience. Paris: Vrin, 1998.

BERGSON, H. A evolução criadora. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

MERLEAU-PONTY, M. Signos. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

PRADO J.R., B. Presença e campo Transcendental. São Paulo: Edusp, 1989.

WORMS, F. Bergson ou les deux sens de la vie. Paris: PUF, 2004.

Para ler o artigo, acesse

ABRAHAM ZUNINO, P.E. Comentário a “Impulso criador e drama vital em Bergson”: A dialética do devir e a dramatização do elã vital. Trans/Form/Ação [online]. 2023, vol. 46, no. 2, pp. 275–280 [viewed 30 May 2023]. https://doi.org/10.1590/0101-3173.2023.v46n2.p275. Available from: https://www.scielo.br/j/trans/a/YwB7nRgnC9F6ssXmstjHDbg/

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Como citar este post [ISO 690/2010]:

ZUNINO, P.H.A. Para não substancializar o devir, a distensão da intuição como possibilidade de outra metafísica [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2023 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2023/05/30/para-nao-substancializar-o-devir-a-distensao-da-intuicao-como-possibilidade-de-outra-metafisica/

 

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