Marcia Rangel Candido, Assistente editorial de DADOS – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Como explicar o comportamento partidarizado dos principais meios de comunicação do Brasil? Apesar de amplos estudos nas ciências sociais dimensionarem a ausência de objetividade no conteúdo veiculado pela grande mídia brasileira, pouco se produz acerca das condições estruturais e históricas que podem ser apontadas como suas causas. É com o intuito de preencher essa lacuna que Fernando Lattman-Weltman e Viktor Chagas publicam o artigo “Mercado futuro: a economia da (re)partidarização da imprensa no brasil”, publicado no volume 59, número 2 de 2016 de DADOS – Revista de Ciências Sociais.
A principal conclusão do trabalho se refere ao modo como as transformações do mercado, com o aumento de competitividade entre os diferentes meios de comunicação, geraram a tendência dos grandes jornais, responsáveis por formar opinião, se partidarizarem a fim de fidelizar seu público consumidor e atrair faturamento em publicidade. Contudo, nem todos os meios impressos seguem a mesma lógica. A partir de diversas fontes de dados e distintas variáveis (circulação, custo de anúncio por edição, faturamento publicitário total, preço de capa, índice de prestígio de marcas e quantitativo de venda avulsa), os autores mostram que os jornais de distribuição gratuita sugerem novos paradigmas ao mercado de informação, ainda não explorados suficientemente.
A proposta metodológica do estudo procura oferecer um conjunto de ferramentas que auxiliem na avaliação sobre o funcionamento de cada veículo de comunicação. A pesquisa analisou 15 jornais impressos (Super Notícia, Folha de S. Paulo, O Globo, O Estado de S. Paulo, Extra, Zero Hora, Diário Gaúcho, Correio do Povo, Aqui, Meia Hora, O Dia, Expresso, Agora São Paulo, Destak e Metro), selecionados de acordo com critérios de maior circulação, pertencimento a conglomerados midiáticos ou distribuição gratuita. Os diferentes sistemas de mercado – de informação, publicitário ou discursivo público – são as bases contextuais que contribuem para a interpretação sobre as tendências editoriais e político-partidárias do setor.
Ao mostrar as condições econômicas que impactam a produção de notícias e seu afastamento da objetividade, Lattman-Weltman e Chagas não só acrescentam um novo olhar sobre um campo de extensa produção acadêmica, como também destacam outras agendas de pesquisa importantes, tal qual a relação entre os veículos impressos e os conglomerados midiáticos aos quais pertencem. O avanço da tecnologia e a democratização do acesso à informação reconfiguram o mercado de notícias e lançam inúmeras questões aos interessados nas relações entre mídia e política. Destarte, a contribuição dos autores é dupla: permite avançar, com rigor científico e teórico-metodológico, no campo de estudos sobre comunicação política; e, ao mesmo tempo, oferece um importante subsídio para o debate sobre a atual conjuntura política no país. Confira o artigo completo na recém-lançada edição de DADOS – Revista de Ciências Sociais.
Para ler o artigo, acesse
LATTMAN-WELTMAN, F and CHAGAS, V. Mercado Futuro: A Economia Política da (Re)Partidarização da Imprensa no Brasil. DADOS – Revista de Ciências Sociais [online]. 2016, vol.59, n.2, p.323-356. [viewed 20st Setembro 2016]. ISSN 0011-5258. DOI: 10.1590/00115258201678. Available from: http://ref.scielo.org/g5xg35
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DADOS – Revista de Ciências Sociais – DADOS: http://www.scielo.br/dados
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