Tiago Seminatti, Assistente editorial da Machado de Assis em linha – revista eletrônica de estudos machadianos, São Paulo, SP, Brasil
Regina Zilberman, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, analisa duas cartas de Aluísio Azevedo em que o escritor responde a críticas sobre Memórias de um condenado. A pesquisadora investiga a possibilidade de o interlocutor da réplica ser Machado de Assis. Já Antonio Dimas, da Universidade de São Paulo, discorre sobre a correspondência em cinco volumes lançada pela Academia Brasileira de Letras e analisa o impacto que tal publicação proporciona nos estudos sobre o escritor. Os dois artigos integram o volume 21 da Machado de Assis em linha.
Em “Entre o privado e público: Aluísio Azevedo e as cartas de Giovani”, Zilberman empreende estudo acerca da coluna “A Giovani”, que Aluísio Azevedo publicou em 1882 na Gazetinha (é possível acessar a versão digitalizada do jornal no seguinte endereço eletrônico: http://memoria.bn.br). O escritor respondia a críticas de um incerto Giovani feitas por meio de cartas privadas ao seu romance Memórias de um condenado, que o escritor maranhense redigia no formato de folhetim para o mesmo periódico. Procurando rastrear a real identidade de Giovani, a pesquisadora empreende análise detalhada das duas réplicas de Aluísio Azevedo. No que se refere à primeira, publicada em 5 e 6 de junho de 1882, destaca a tentativa de Aluísio diminuir a importância de seu interlocutor e dos problemas por ele apontados; quanto à segunda, publicada na edição de 12 e 13 de junho, analisa, entre outros aspectos, o tratamento que Azevedo dá à figura de Machado de Assis, atribuindo a ele a posição de protagonista das letras brasileiras.
Além da análise das cartas, Zilberman explora a questão envolvendo a verdadeira identidade de Giovani ao percorrer estudos que trataram do assunto, como Fontes para o estudo de Machado de Assis, de José Galante de Souza, e Aluísio Azevedo: processo de composição e crítica, de Eduardo Martinez de Mello. Assim, a pesquisadora chega à hipótese de que “Não é inverossímil pensar que Machado de Assis possa ter escrito a Aluísio encoberto pela pseudonímia e o anonimato de Giovani” (p. 23). Por outro lado, observa que Machado não pertencia ao grupo frequentador da Gazetinha, “o que torna pouco plausível a hipótese de que ele tivesse redigido as cartas assinadas por Giovani” (p. 28). Contudo, pondera, com base numa análise estilística das réplicas, que a possibilidade de que Machado de Assis seja o interlocutor não deve ser descartada. De certo, a autora defende que as respostas de Aluísio, recém-chegado ao Rio de Janeiro, a Giovani/Machado era uma forma de o escritor estabelecer diálogo com os leitores cariocas e defender seu ponto de vista artístico.
No artigo “Anotações sobre a correspondência de Machado de Assis”, Antonio Dimas trata da Correspondência de Machado de Assis publicada pela Academia Brasileira de Letras em cinco volumes entre 2008 e 2015, com anotações de Irene Moutinho e Sílvia Eleutério e coordenação de Sergio Paulo Rouanet (ASSIS, 2008-2015). De acordo com o pesquisador, a publicação desse conjunto de textos altera a exegese machadiana, uma vez que “os acréscimos, as extensões, as confirmações ou as negações produzidas por esses cinco volumes modificam bem a imagem desse escritor”, remexendo, “com gosto, aquilo que jazia quieto” (p. 160). Assim, o pesquisador esmiúça a composição da Correspondência e explica os critérios adotados pela equipe organizadora para a estruturação interna dos volumes, que segue ordem cronológica, e para a seleção do material, que incluiu, junto às cartas convencionais, as cartas abertas e os prefácios.
Dimas também recupera e percorre o histórico de publicação das cartas de Machado de Assis analisando a qualidade da composição de tais volumes, desde a do mais antigo livro dedicado à correspondência machadiana, Machado de Assis e Joaquim Nabuco, de 1923, decorrente do trabalho de Graça Aranha, até a parte destinada às cartas na Obra Completa de Machado de Assis, coletânea publicada pela Nova Aguilar sob a responsabilidade de Afrânio Coutinho. Deste modo, além de analisar as perdas e ganhos de cada edição a partir de suas especificidades, o pesquisador mostra como os trabalhos foram ganhando corpo e qualidade ao longo do tempo até chegar à edição da Correspondência. Por meio dela, Dimas argumenta que é possível delinear um retrato menos esquemático e mais coerente de Machado de Assis. Por fim, por meio de uma carta aberta do escritor em defesa do Ministro da Marinha, publicada no Diário do Rio de Janeiro em 8 de fevereiro de 1862, o crítico promove uma fecunda articulação entre o estilo encontrado nesse texto e aquele encontrado nas obras de ficção do autor das Memórias póstumas.
Referências
ASSIS, M. Correspondência de Machado de Assis. Rio de Janeiro: ABL-Biblioteca Nacional, 2008-2015.
Para ler os artigos, acesse
DIMAS, A. Anotações sobre a correspondência de Machado de Assis. Machado Assis Linha [online]. 2017, vol.10, no.21, pp.158-178, ISSN 1983-6821. [viewed 31 October 2017]. DOI: 10.1590/1983-6821201710219. Available from: http://ref.scielo.org/bd8n6y
ZILBERMAN, R. Entre o privado e o público: Aluísio Azevedo e as cartas de Giovani. Machado Assis Linha [online]. 2017, vol.10, n.21, pp.16-41, ISSN 1983-6821 [viewed 31 October 2017]. DOI: 10.1590/1983-6821201710212. Available from: http://ref.scielo.org/4kkk7h
Link externo
Machado de Assis em Linha – MAEL: www.scielo.br/mael/
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Que bacana, Machado e Aluvio se comunicando, se confirmado será incrível. são grande admirador de ambos os autores, pois tratam da suas sociedades contemporâneas com muita maestria, talentos que fazem falta nos dias atuais. nessas cartas será possível entender como seria um bate papo de dois grandes gênios de nossa literatura. Gostei vou acessar os conteúdos indicados e saber ainda mais.