Mariane Lopez Molina, professora no curso de Psicologia na Faculdade Anhanguera do Rio Grande, Pelotas, RS, Brasil
Pesquisadores da Universidade Católica de Pelotas publicaram recentemente um estudo intitulado “Sintomas depressivos e relação entre os gêneros: diferenças em adultos jovens de um ensaio clínico randomizado” no periódico Paidéia, volume 27, número 67 de 2017. Neste trabalho são apresentados novos achados após intervenção cognitiva breve para melhora dos sintomas em adultos jovens com depressão. Esta pesquisa fez parte de um projeto maior desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Saúde e Comportamento entre os anos de 2008 e 2012.
Atualmente sabe-se que a depressão acomete grande parcela da população geral, especialmente as mulheres. No entanto, não existe consenso na literatura científica a respeito de diferenças das manifestações de sintomas depressivos entre homens e mulheres, bem como, quanto a indicações de psicoterapias conforme o gênero. Neste sentido, o estudo propõe verificar as diferenças na sintomatologia depressiva e melhora dos sintomas em homens e mulheres adultos jovens com Transtorno Depressivo Maior e identificar as diferenças entre dois modelos de psicoterapia cognitiva.
A presente investigação abre precedente para que os profissionais se questionem com relação ao método a ser adotado de acordo com o sexo do paciente. A hipótese da melhora diferenciada entrou pela primeira vez no guia de doenças mentais dos psicólogos e psiquiatras –, chamado Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-5) – somente na última edição em 2013. Contudo o manual não apresenta sinalização concreta – apenas um indicativo de que a questão tem que ser melhor estudada daqui para frente. Os autores desta pesquisa apontam alguns caminhos. O perfil traçado com base na comparação dos sintomas entre homens e mulheres com transtorno depressivo revela que ambos apresentam dificuldades no trabalho e atividades diárias. Dois sintomas chamam especial atenção. As mulheres apresentaram quase o dobro de perda de libido enquanto os homens apontaram fatores externos como causa de sua depressão até 12 vezes mais do que elas. Ou seja, as mulheres relataram mais problemas sexuais e os homens se enganam com os próprios sintomas, dizendo que o problema não é com eles, mas tudo culpa daquele chefe que pega no pé, da previsão do tempo horrorosa ou do excesso de trabalho.
Além de verificar os sintomas, foram testados dois tipos de métodos de psicoterapia. Um se chama “psicoterapia cognitiva narrativa”, em que o paciente elege quatro episódios da vida que ele acredita serem emblemáticos de seu estado depressivo e faz uma conversa com o psicólogo para explorá-los novamente em busca de novos significados para os mesmos eventos. O segundo é a “psicoterapia cognitivo comportamental”, em que o psicólogo ajuda o paciente a identificar pensamentos disfuncionais e ensina a readequá-los ao seu contexto de forma mais adaptativa. Nesse tipo, em que muitas vezes se utiliza um diário de pensamentos para que o paciente se dê conta de sua realidade e seja melhor capacitado à modificar suas atitudes. Os resultados do estudo indicam que os homens melhoraram tanto quanto as mulheres na psicoterapia cognitivo comportamental, mas não melhoraram através da psicoterapia cognitiva narrativa.
Sendo assim, foi possível observar que a sintomatologia e a melhora dos sintomas depressivos manifestam-se diferentemente entre os gêneros. Estes resultados possivelmente sinalizam a influência de aspectos biológicos e, principalmente, culturais na expressão dos sintomas depressivos e em seu tratamento.
A pesquisa foi realizada com o apoio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (FAPERGS).
Referência
AMERICAN PSYCHIATRY ASSOCIATION. Diagnostic and statistical manual of mental disorders – DSM-5. 5th.ed. Washington: American Psychiatric Association, 2013.
Para ler o artigo, acesse
MOLINA, M. R. A. L. et al. Depressive Symptoms and Relationship Between Genders: Differences in Young Adults in a Randomized Clinical Trial. Paidéia (Ribeirão Preto) [online]. 2017, vol.27, n.67, pp.3-9. [viewed 8 December 2017]. ISSN 0103-863X. DOI: 10.1590/1982-43272767201701. Available from: http://ref.scielo.org/7m8tmt
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