Saula Cecília Antunes de Souza Silva, graduanda em Letras – Linguística Teórico e Descritiva, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.
Victória Caroline Soares Silva, graduanda em Letras – Linguística Teórico e Descritiva, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.
Victor Hugo Andrade Faria, graduando em Letras – Tradução Português-Inglês, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.
O artigo Bases sociocognitivas do discurso de ódio on-line no Brasil: uma revisão narrativa interdisciplinar, publicado na Texto Livre: Linguagem e Tecnologia (vol. 16, 2023), discute aspectos sociocognitivos do comportamento do discurso de ódio nas redes sociais e a motivação para esses comportamentos nos indivíduos, além de apresentar possíveis soluções para o problema.
Devido ao crescimento do uso das redes sociais, observa-se um aumento na propagação de discursos de ódio na internet, causando consequências que vão além do mundo on-line. Analisando o contexto brasileiro, esse estudo, baseado em uma ampla pesquisa interdisciplinar, contribui para a compreensão das origens desse problema tão atual no nosso país, de modo a facilitar o combate a esse tipo de discurso.
A pesquisa foi realizada por Ana Luísa Freitas, Ruth Lyra Romero, Fernanda Naomi Pantaleão e Paulo Sérgio Boggio, pesquisadores do Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social da Universidade Presbiteriana Mackenzie (São Paulo) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Neurociência Social e Afetiva (INCT-SANI). Com o apoio financeiro da CAPES, FAPESP e do CNPq, os autores desenvolveram uma revisão bibliográfica extensa a partir do repertório teórico da Sociologia, das Neurociências, da Psicologia Social e Análise Crítica do Discurso, explicando o discurso de ódio como prática social, as suas causas e as consequências que esse tipo de discurso gera ao ser potencializado nos ambientes on-line.
No estudo, os autores afirmam que a visão que um indivíduo tem de si mesmo é moldada principalmente por comparações e identificações com pessoas de dentro e de fora dos seus grupos sociais. São, então, constatados dois tipos desses grupos: os endogrupos e os exogrupos. Os que pertencem ao “grupo interno”, ou endogrupo, tendem tipicamente a ver os seus membros mais positivamente e buscam constantemente a sensação de pertencimento àquele grupo, enquanto, paralelamente, podem ver os membros de um “grupo externo”, ou exogrupo, negativamente.
Somado a outros fatores, isso acontece porque há uma tendência do indivíduo ver os membros de um grupo externo de forma homogeneizada, fazendo com que ele tenha uma visão generalista e pouco individualizada dos membros de grupos externos ao dele, viés este que se opõe à maneira com que esse indivíduo vê os membros do próprio grupo.
Pelo anonimato e pela falta de contato físico proporcionada pelas redes sociais, essas tendências podem ser potencializadas e aumentar o distanciamento entre esses grupos, bem como aumentar estereótipos negativos, discriminações e preconceitos, que são apoiados pelo feedback positivo comunicado pelo endogrupo nessas redes.
Dentre os obstáculos que envolvem o problema, um dos mais desafiadores é o da delimitação do que se entende por liberdade de expressão: até onde ela vai? Assegurada como um direito fundamental na Constituição Brasileira, a liberdade de expressão é uma ferramenta crucial para a própria liberdade do ser humano. Entretanto, ao se tolerar qualquer discurso em nome dessa liberdade, nos deparamos com o “paradoxo da intolerância” definido por Popper (1974), citado pelos autores, em que relevar discursos intolerantes acabaria por ameaçar o próprio hábito social da tolerância às diferenças.
Apesar dos desafios sociais e jurídicos para lidar com essas questões, o estudo apresenta algumas saídas para o problema, como informar os jovens sobre a existência do discurso de ódio on-line e mostrar as graves consequências negativas causadas às vítimas dessa prática, promovendo sentimentos de empatia e outros sentimentos positivos que possam evitar que, futuramente, esses jovens pratiquem tais discursos.
No entanto, ainda que mudanças positivas ocorram a partir da educação, também são necessários mecanismos de regulamentação das redes sociais que identifiquem os autores desses discursos, além de medidas jurídicas de proteção às vítimas afetadas. Para uma leitura complementar, recomenda-se a pesquisa de Pivetta e Gonçalves-Segundo (2024), que também aborda o discurso de ódio, explicitando outras estratégias presentes no contexto das interações digitais.
Referências
PIVETTA, L.M. and GONÇALVES-SEGUNDO, P.R. Anões, chads e nazipardos: as estratégias de nomeação e predicação no discurso da direita-alternativa no Brasil. Texto Livre [online]. 2023, vol. 17, e46380 [viewed 20 February 2024]. https://doi.org/10.1590/1983-3652.2024.46380. Available from: https://www.scielo.br/j/tl/a/BSChyHvt3GqLqnv9mPCMdWM/
POPPER, K.R. A sociedade aberta e seus inimigos. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1974.
Para ler o artigo, acesse
FREITAS, A.L., et al. Bases sociocognitivas do discurso de ódio on-line no Brasil: uma revisão narrativa interdisciplinar. Texto livre [online]. 2023, vol. 16, e46002 [viewed 20 February 2024]. https://doi.org/10.1590/1983-3652.2023.46002. Available from: https://www.scielo.br/j/tl/a/cL7QRBRZpgYSKxfr9wJWdDp/
Links externos
Texto Livre – SciELO: https://www.scielo.br/j/tl
Texto Livre – Site: https://periodicos.ufmg.br/index.php/textolivre/
Texto Livre – Redes Sociais: Facebook | Twitter | Instagram
Ana Luísa Freitas – ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9383-2679
Ruth Lyra Romero – ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5364-6193
Fernanda Naomi Pantaleão – ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1038-4370
Paulo Sérgio Boggio – ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6109-0447
Saula Cecília Antunes de Souza Silva – Lattes: http://lattes.cnpq.br/6477778277250519
Victória Caroline Soares Silva – Lattes: http://lattes.cnpq.br/3518453508182740
Victor Hugo Andrade Faria – Lattes: http://lattes.cnpq.br/4361972088554484
Como citar este post [ISO 690/2010]:
Últimos comentários