Fausto dos Santos Amaral Filho, Professor do PPGED da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), Curitiba, PR, Brasil
O artigo “Ética e estética são um? O que isto pode ter a ver com a Educação escolar?” publicado na Educação e Realidade (v. 43, n. 2), é fruto da investigação dos temas pertinentes à epistemologia da Educação realizada pelo autor. Circunscrito, dessa maneira, em meio ao campo da Filosofia da Educação, atentando, fundamentalmente, para os questionamentos que podem ser feitos a partir das conexões entre mundo e linguagem. Levando em conta, assim, a co-pertinência produtiva que há entre ambos.
O texto parte de um duplo questionamento, já anunciado no seu título, articulando as respostas encontradas em prol de uma possível compreensão das questões suscitadas. Para a primeira pergunta, a resposta encontrada é que, aquilo que identifica a Ética à Estética (WITTGENSTEIN, 1987). Fazendo com que possamos compreendê-las unitariamente, é o princípio linguístico que as constitui, a polissemia. Fazendo com que ambas acabem por produzir um discurso indeterminado, ou seja, sempre aberto à alteridade e, assim, à multiplicidade de sentidos possíveis. Estrutura essa que forçosamente se contrapõe à linguagem da Ciência, fundamentada, antes, na monossemia. Necessidade lógica que, eliminando as indeterminações semânticas, elege apenas e tão somente uma única significação discursiva, reprimindo todas as demais.
Isso posto, o artigo parte para a elucidação da segunda questão, que, em última instância, se refere às relações estabelecidas entre linguagem e educação. Visto que, as possibilidades de produção do mundo dependem inexoravelmente da linguagem que utilizamos para tanto. Dessa maneira, quando a escola privilegia a linguagem constitutiva da Ciência, está confluindo, concomitantemente, para a produção de um mundo cada vez mais homogeneizado. Pois, na medida em que a linguagem científica reprime as múltiplas possibilidades de sentido, exigindo a instauração de um único valor semântico, ela também reprime as múltiplas possibilidades do viver, exigindo de nós uma única possibilidade de produção da existência humana, não aceitando alternativas para tanto (FEYERABEND, 2011). Diferentemente, tanto a linguagem Ética, quanto a linguagem Estética, na medida em que não reprimem a multiplicidade de significações possíveis dos seus discursos, acabam suportando o outro em sua alteridade específica, mostrando-nos que, assim como há variadas formas do dizer, também pode haver formas distintas de produção da vida.
O artigo de Fausto dos Santos é um convite para que nós, professores, reflitamos sobre nossa aderência a um projeto de sociedade que, ao invés de ampliar as possibilidades do eu em comunidade, as reprime, limitando, por conseguinte, a efetivação da liberdade humana.
Referências
FEYERABEND, Paul. A ciência em uma sociedade livre. São Paulo: Editora da Unesp, 2011.
WITTGENSTEIN, Ludwig. Tratado lógico filosófico. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1987.
Para ler o artigo, acesse
AMARAL FILHO, F. S. Ética e Estética são Um? O que isto pode ter a ver com a Educação escolar?. Educ. Real. [online]. 2018, vol.43, n.2, pp.387-399. ISSN 0100-3143. [viewed 4 April 2018]. DOI: 10.1590/2175-623660334. Available from: http://ref.scielo.org/sk47j8
Link externo
Educação & Realidade – EDREAL: www.scielo.br/edreal
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