Eliel Almeida Soares, Pós-Doutorando do Departamento de Música da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Ribeirão Preto, SP, Brasil.
Rubens Russomanno Ricciardi, Professor Titular do Departamento de Música da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Ribeirão Preto, SP, Brasil.
No artigo A interdisciplinaridade da retórica e sua influência na música colonial brasileira, apresenta-se que, em determinados estilos e gêneros musicais, como motetos, ofertórios e missas do final do século XVI ao princípio do século XIX, verifica-se o uso de elementos retóricos expressivos no texto musical. Esses recursos são os mesmos localizados em vários tratados, cuja premissa se fundamentava nos mestres da Retórica – Aristóteles, Cícero e Quintiliano – estabelecendo, desse modo, uma nomenclatura conhecida como Musica Poetica. Diante disso, a área da Música, por meio da musicologia, da performance e da teoria e análise musical, associada com a História, a Filosofia, ressaltando-se a Hermenêutica – demonstra interesse sobre o tema, desenvolvendo, assim, inúmeras pesquisas e estudos, tendo como metodologia a análise retórico-musical.
Por sua vez, esse olhar analítico busca tornar mais clara a relação entre música e afeto. Por essa razão, o artigo propõe, mediante uma ordenação cronológica e histórica, da Antiguidade Clássica até ao começo da Idade Contemporânea, expor o diálogo da retórica com esses campos do conhecimento humano, bem como esclarecer sua influência e aplicação por alguns compositores da música colonial brasileira.
Outro aspecto interessante do artigo é o argumento de que, por meio do diálogo interdisciplinar entre retórica com as outras áreas, observa-se o uso de elementos retóricos na música produzida no Brasil do século XVIII e início do século XIX. Desse modo, mesmo que para muitos pesquisadores não há como utilizar métodos analíticos fundamentados nos tratados de retórica musical, por serem em sua maioria de autores germânicos e protestantes, no Brasil católico desses séculos, verifica-se na citação do compositor André da Silva Gomes nas páginas 184 e 185, o quão é preciosa ao compositor a instrução literária, por meio da retórica: “também pode observar como Retórico a analogia da Faculdade Harmônica com a Faculdade Retórica; aqui se observa o Contraponto relativo à parte da Invenção e a Composição relativa à Disposição e à Elocução.
Figura 1. Frontispício do Tratado Der Vollkommene Capellmeister (Mestre de Capela Perfeito), 1739
Na Dissertação que serve de princípio a esta obra fica após demonstrado quanto é preciosa ao compositor a Instrução Literária” (negritos nossos). Não obstante, o padre José Maurício Nunes Garcia, segundo realçado no artigo, demonstrou a influência que exercera a retórica, disciplina estudada por ele desde sua juventude, tanto na arte da oratória, quanto em suas obras musicais.
Em face dessas ponderações, ao longo do artigo são construídas algumas argumentações de que o saber não deve ser compreendido como propriedade exclusiva de uma pessoa ou país; ele é de alcance universal e, para tanto, deve ser disseminado em todos os lugares. Afinal, como demonstrado no artigo, a Retórica é um saber desenvolvido primeiramente na Grécia antiga e, posteriormente, em Roma, percorrendo toda a Europa no Medievo, corroborando vários campos do conhecimento humano, além de valorar a oratória, o vocabulário, a gramática, a poesia, culminando nos tratados, no final do século XVI. Portanto, é pertinente ressaltar que o uso de engenhosidade e de recursos retóricos, sobretudo na música, não se baseia somente numa escola ou num seguimento, mas em uma enorme quantidade de tratados e compêndios, de diversos povos e autores.
Obviamente, os tratadistas germânicos como Gallus Dressler, Joachim Burmeister, Johann Mattheson, para citar alguns, são relevantes tanto na teorização quanto na sistematização da gramática, retórica e poética com a música. Ainda, há de se destacar que, por meio de seus tratados, foram possíveis entender melhor a disposição do discurso musical, na localização das figuras retóricas, dos elementos retóricos e dos afetos. Contudo, não se deve ignorar a teorização retórica que aconteceu na Península Ibérica entre os séculos I e VII.
Dessa forma, conforme exemplificado no artigo, pode-se enfatizar a possibilidade não só da Retórica como um conhecimento multidisciplinar que se relaciona com a História, com a Filosofia ou com a Hermenêutica, mas igualmente, como um parâmetro para os diversos compositores da música colonial brasileira como André da Silva Gomes e José Maurício Nunes Garcia, por exemplo.
Figura 2. Figuras retóricas: Epizeuxis (repetição enfática) e Aposiopesis (Pausa geral) (SOARES, 2017, p.425).
Para ler o artigo, acesse:
SOARES, E.A. and RICCIARDI, R.R. A interdisciplinaridade da retórica e sua influência na música colonial Brasileira. Trans/Form/Ação [online], 2021, vol. 44, no. 4, pp. 157-192 [viewed 07 December 2021]. https://doi.org/10.1590/0101-3173.2021.v44n4.13.p157. Available from: https://www.scielo.br/j/trans/a/3r9SZbVKrsxkcfV5hVThdpk/?lang=pt
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Sobre Eliel Almeida Soares
É doutor em música (músicologia) pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, pós-doutorando e pesquisador do Departamento de Música da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.
Sobre Rubens Russomanno Ricciardi
É doutor em música (musicologia) e livre-docente em poética musical pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e professor titular da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.
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