Trabalho, Educação e Saúde (vol. 18, no. 3), traz na recém-criada seção “Notas de Conjuntura”, composta por textos de autores convidados, com avaliação por pares, o artigo “Desigualdades raciais em saúde e a pandemia da COVID-19”, de Emanuelle Goes, Dandara Ramos e Andrea Jacqueline Ferreira. Nele, as pesquisadoras da Fundação Oswaldo Cruz e da Universidade Federal da Bahia, respectivamente, travam uma discussão necessária e atual sobre as desigualdades raciais em saúde em face da pandemia da COVID-19.
Segundo as autoras, a pandemia do coronavírus é um desafio para países como o Brasil, que apresenta desigualdades profundas no que se refere à raça, cor e etnia, “pois é um país estruturado pelo racismo, que permanece com as suas raízes fincadas no sistema escravocrata” (p. 2).
Na atenção à saúde, entre outras formas de manifestação, o racismo pode se apresentar institucionalmente, por meio dos preconceitos implícitos, que são estereótipos ou preferências a favor ou contra grupos de pessoas (MILAM et al., 2020), “de acordo com os quais trabalhadoras(es) da saúde irão determinar como será o atendimento […] das pessoas, dado o seu pertencimento racial, criando-se uma hierarquia no atendimento, deixar viver, deixar morrer”.
Para fundamentar suas assertivas sobre a desigualdade racial em saúde, as autoras trazem dados estatísticos sobre as consequências nefastas da pandemia que elas afirmam ser racializada nos Estados Unidos, onde a população afro-estadunidense é o grupo populacional que está realizando menos testes (FARMER, 2020) para a COVID-19 e tendo maior adoecimento e número de mortes.
No Brasil, as autoras inferem que negras e negros sofrerão mais severamente os impactos da pandemia pelo histórico de ausência de direitos e pela maior prevalência de doenças crônicas e negligenciadas entre a população negra, resultantes de sua vulnerabilidade social e econômica e menor acesso a serviços de saúde. Além disso, o distanciamento social, principal medida da Organização Mundial de Saúde (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2020), não é um privilégio de todos. No nosso país, negras e negros, que representam a maioria dos trabalhadores informais, de serviço doméstico, comercial, da alimentação, transporte, armazenamento e correio, se mantiveram ativos, mesmo durante a pandemia.
Por fim, como profissionais da saúde, as autoras demandam ações que vão desde políticas de proteção social equânime para as comunidades negras até a exigência de maior transparência dos órgãos responsáveis pelos dados da pandemia no país.
MILAM, A.J., et al. Are clinicians contributing to excess African American COVID-19 deaths? Unbeknownst to them, they may be. Health Equity [online], 2020, vol. 4, no. 1, pp. 139-141. Avaliable from: https://doi.org/10.1089/heq.2020.0015
GOES, E.F.; RAMOS, D. de O. and FERREIRA, A.J.F. Desigualdades raciais em saúde e a pandemia da COVID-19. Trab. educ. saúde [online]. 2020, vol. 18, no. 3, e00278110. ISSN: 1981-7746 [viewed 29 May 2020]. DOI: 10.1590/1981-7746-sol00278. Avaliable from: http://ref.scielo.org/c8gjxn
GUANAES, P. Deixar viver, deixar morrer: COVID-19 e desigualdade racial em saúde [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2020 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2020/06/09/deixar-viver-deixar-morrer-covid-19-e-desigualdade-racial-em-saude/
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