Como campanhas de financiamento coletivo de startups podem ter mais chances de sucesso?

Guilherme Viana, Assistente editorial, Universidade de São Paulo, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Departamento de Contabilidade e Atuária, São Paulo, SP, Brasil.

Imagem: Rocío Lara

As campanhas de crowdfunding ou, em português, campanhas de financiamento coletivo (popularmente conhecidas como “vaquinha online”) são uma alternativa na busca de crédito para muitas startups, o que inspirou pesquisadores da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), em Minas Gerais, a investigar quais elementos determinam o sucesso dessas campanhas. Os autores analisaram aquelas que ocorreram entre 2014 e 2017 e constataram de que forma diversos elementos influenciaram no sucesso, como a duração da campanha, a meta financeira, o tipo de participação oferecida ao investidor e, até mesmo, a categoria do empreendimento.

As campanhas de financiamento coletivo não são tema recorrente nas pesquisas envolvendo o mercado de capitais brasileiro. Entretanto, micro e pequenos empreendedores, especialmente de startups, têm buscado nessas campanhas alguma fonte de financiamento, devido à escassez de crédito. O artigo “Determinantes do sucesso de campanhas de equity crowdfunding”, publicado na Revista Contabilidade & Finanças (vol. 31, no. 84), apresenta o crowdfunding e seus efeitos no mercado brasileiro, tendo como amostra 99 campanhas de financiamento coletivo de startups. Destas, 46 foram bem-sucedidas. Para embasar a pesquisa, os autores utilizaram os estudos de Mallick (2014) e de De Buysere et al. (2012), tendo estes últimos analisado o equity crowdfunding, a modalidade do crowdfunding que busca o investimento de um grupo de pessoas ao invés de investidores do setor privado.

Maiores metas de financiamento apresentaram mais chances de sucesso em tempo menor, possivelmente devido à participação oferecida em troca do investimento. Além disso, campanhas com tempo de captação entre 50 e 150 dias tendem a ter mais chances de sucesso. Ao mesmo tempo, campanhas que passaram do 150º dia tenderam a fracassar. Os negócios ligados ao desenvolvimento de produtos apresentaram mais chances de sucesso do que os de serviços.

É importante ressaltar que a pesquisa reflete dados do cenário brasileiro especificamente do período estudado, anterior à Instrução no. 588/2017 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM, 2017). Isso abre possibilidades para avaliar como essa norma pode ter afetado o financiamento coletivo, contribuindo para a escassa literatura sobre equity crowdfunding no Brasil. Todavia, o estudo traz considerações importantes para gestores de plataforma, empreendedores e, também, cidadãos que investem no modelo do crowdfunding, além de gerar mais eficiência financeira tanto para agentes privados quanto públicos.

Referências

COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Instrução CVM 588, de 14 de julho de 2017. 2017 [viewed 18 August 2020]. Available from: http://www.cvm.gov.br/legislacao/instrucoes/inst588.html

DE BUYSERE, K., et al. A framework for European crowdfunding. 2012 [viewed 18 August 2020]. Available from:  http://eurocrowd.org/wp-content/blogs.dir/sites/85/2013/06/FRAMEWORK_EU_CROWDFUNDING.pdf

MOLLICK, E. The dynamics of crowdfunding: An exploratory study. Journal of Business Venturing [online]. 2014, vol. 29, no. 1, pp. 1-16, ISSN: 0883-9026 [viewed 19 August 2020]. DOI: 10.1016/j.jbusvent.2013.06.005. Available from: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S088390261300058X

Para ler o artigo, acesse

FELIPE, I. J. dos S. and FERREIRA, B. C. F. Determinants of the success of equity crowdfunding campaigns. Rev. contab. finanç. [online]. 2020, vol. 31, no. 84, pp. 560-573, ISSN: 1808-057X [viewed 18 August 2020]. DOI: 10.1590/1808-057×202010460. Available from: http://ref.scielo.org/cqx8kd

Link externo

Revista Contabilidade & Finanças – RCF: https://www.scielo.br/rcf