A linguagem como base material da instauração de sentido em educação

Junior Jonas Sichelero, Doutorando em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil.

Escrever sobre a linguagem não significa trazer a linguagem para o universo daquilo que se escreve, pois segundo o artigo “A educação nas tramas da linguagem”, publicado no periódico Educação & Realidade (vol. 45, no. 2), é a própria linguagem que sustenta o escrever. Assim, escrever sobre a linguagem significa, ir ao encontro de seu acontecimento como aquele que, vagando por suas fendas, busca recolher-se em sua morada. Nesse sentido, escrever sobre a linguagem é apenas um modo de farejarmos o lugar em que vigora o seu modo de ser-aí-no-mundo, para usar uma expressão de Heidegger. E justamente por isso é o objetivo desse estudo não é arrastar a linguagem para as tramas da representação, mas sim ouvir, no sentido de auscultar, aquilo que a própria linguagem fala em sua abertura de mundo. Assumir, a linguagem como abertura de mundo implica, de antemão, assumi-la como pressuposto ontológico da produção e da instauração de sentido que homem realiza no mundo. Seja na lida cotidiana, de uma maneira geral, ou na lida com a educação, de uma maneira específica, é a linguagem que hospeda as possibilidades de compreendermos o sentido que sustenta nossa interação com o mundo.

É, pois, esse o argumento que o presente estudo apresenta. Contudo, busca perguntar-se: de que maneira tal noção pode acenar caminhos para o campo educacional? Ainda que não ofereça uma resposta definitiva a essa questão, o trabalho busca, a partir de uma investigação teórica e do método fenomenológico-reconstrutivo, fazer alguns apontamentos sobre possíveis caminhos que uma leitura hermenêutica da linguagem pode oferecer à educação. Para isso, divide-se em duas seções. Na primeira seção, O quê significa falar? Da noção clássica da linguagem à leitura heideggeriana, analisa os principais aspectos que sustentaram a noção clássica da linguagem para entender, por um lado, de que maneira tal noção ainda repercute sobre os processos educativos e, pelo outro, para entender como a linguagem vai se desligando da representação metafísica para, então, alcançar sua ressignificação ontológica e inscrever seu ser na historicidade da compreensão. Já na segunda seção, A saga do dizer e o Acontecimento propriador do aprender, o artigo busca argumentar que a educação é mais que um processo determinado pelas condições objetivas do conhecimento ou pelas intenções de um sujeito ativo que age sobre um objeto passivo e imóvel. Trata-se, ao contrário, de um processo determinado pelas dinâmicas da linguagem, portanto, um processo de interação comunicativa onde o educar se mostra como um acontecimento motivado no horizonte hermenêutico do interpretar pedagógico.

Por fim, argumenta que, para levar-se a efeito uma experiência com a linguagem em educação, precisa-se de uma radical transformação na relação que com ela se estabelece. E isso implica uma transformação muito radical das noções que se tem da educação enquanto um processo objetivo e metodologicamente ajustado. Para isso, o estudo aponta que a filosofia da linguagem, na perspectiva hermenêutica, abre um caminho muito fértil. No entanto, sinaliza que tal transformação exige a tomada de uma atitude hermenêutica, qual seja, a atitude de reconhecimento da normatividade que a linguagem exerce nos processos pedagógicos, isto é, de reconhecimento de que a experiência educativa não é produto da consciência do sujeito, mas sim da experiência histórica que os atores educacionais mutuamente realizam na linguagem.

Contudo, assevera que a realização de uma prática educacional orientada por essa noção depende de uma atitude hermenêutica, que é a atitude de assumir a linguagem como pressuposto ontológico da instauração de sentido em educação. Porquanto, reconhecer que a educação é um fenômeno ontolinguístico, para usar uma expressão de Berticelli (2004), não basta para fazer educação com base na linguagem. É preciso, assumir a linguagem no horizonte de inteligibilidade do agir pedagógico. Uma prática educacional na linguagem depende dessa atitude hermenêutica para alcançar sua realização. Entre outras coisas, essa é a conclusão que, de modo muito específico, o estudo apresenta. No entanto, tal conclusão não representa uma linha de chegada, mas sim, as marcas do caminho que o autor apresenta para o desdobramento a outros trabalhos.

Referências

BERTICELLI, I. A. A origem normativa da prática educacional na linguagem. Ijuí: Editora Ijuí, 2004.

HEIDEGGER, M. Ser e tempo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.

Para ler o artigo, acesse

SICHELERO, J. J. The Education in the Weft of Language. Educ. Real. [online]. 2020, vol. 45, no. 2, e94241, ISSN: 2175-6236 [viewed 18 September 2020]. DOI: 10.1590/2175-623694241. Available from: http://ref.scielo.org/t3bdfr

Links externos

Educação & Realidade – EDREAL: www.scielo.br/edreal

http://www.ufrgs.br/edu_realidade/

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

SICHELERO, J. J. A linguagem como base material da instauração de sentido em educação [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2020 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2020/10/29/a-linguagem-como-base-material-da-instauracao-de-sentido-em-educacao/

 

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