Deborah Cotta, Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Educação: Conhecimento e Inclusão Social, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (PPGE/FaE/UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil.
Wilson Elmer Nascimento, Professor do Centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (DPEC/CE/UFRN) e do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências Naturais e Matemática da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPGECNM/UFRN), Natal, RN, Brasil,.
Alberto Villani, Professor Sênior do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF/USP) e do Programa de Pós-Graduação Interunidades em Ensino de Ciências da Universidade de São Paulo (PIEC/USP), São Paulo, SP, Brasil.
Seguindo em um caminho positivo e coerente com a Ciência Aberta, a Revista Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências publicou seu segundo artigo-parecer na seção Perspectivas (v.23). Wilson Elmer Nascimento e Alberto Villani, depois de avaliarem o artigo Observando o invisível: a relação transferencial a partir dos discursos entre crianças e professoras monitoras em um observatório astronômico se apoiam nos estudos da Psicanálise para refletir e discutir possíveis contribuições para a Educação em Ciências, em especial, o lugar e papel do professor de Ciências e do conhecimento científico.
Os autores do artigo-parecer Instante de ver, tempo para compreender e momento de concluir: apontamentos sobre psicanálise e Educação em Ciências (v.23) apresentam o resultado de apreciações e reflexões advindas do processo de arbitragem, enquanto pareceristas. Nascimento e Villani dão início ao texto indicando aspectos históricos de como a Psicanálise se aproximou e promoveu diálogos com as pesquisas em Educação e Educação em Ciências, com enfoque em aspectos relacionados à aprendizagem e às relações entre sujeitos, e entre sujeitos e os conhecimentos. É interessante perceber como, por meio de analogias, o processo de aprendizagem de ciências – e o de aprender a ensinar ciências – é próximo ao processo de análise, em que é o sujeito quem organiza e (re)elabora seus saberes e conhecimentos. Para eles, a ação de aprender é baseada em um conjunto de momentos significativos, que incluem, entre outros, transferências, demandas passivas, aprendizagens ativas e buscas independentes.
Em seguida, os autores apresentam uma analogia que estabelece paralelos entre a formação do professor de ciências e a formação de um analista. Baseados nas ideias de Lacan, mais especificamente nos quatro discursos por ele constituídos, compreendemos que o discurso do mestre, do universitário, da histérica e do analista estão presentes ao longo da prática do professor de ciências, assim como na prática do analista. Os elementos: significante mestre, saber, sujeito dividido e objeto, posicionados de maneiras distintas em quadrantes, estruturam o discurso do inconsciente. O que caracteriza cada um dos quatro discursos é a modificação desses elementos nas posições dos quadrantes. Após explicar a relação entre cada elemento nos discursos, os autores concluem que o mais importante no processo de ensino-aprendizagem é que o professor saiba alternar seus discursos, sem se manter engessado em apenas uma ou duas estruturas discursivas que diminuam a autonomia e os processos criativos dos estudantes. Por fim, os autores utilizam tais conhecimentos para ressaltar a importância dos discursos nas diferentes etapas da aprendizagem em Ciências, bem como as contribuições para o campo de estudos entre Psicanálise e Educação em Ciências do artigo avaliado. A partir da análise dos discursos de monitoras e crianças em um observatório astronômico, os autores-pareceristas propõem discussões sobre a diversidade discursiva nas relações de transferência entre tais sujeitos, ou seja, os laços estabelecidos e suas relações com os discursos da universidade, da histérica e do mestre.
O artigo-parecer tem a esperança de contribuir para deslocar a “briga” entre quem valoriza o ensino tradicional e quem opta por um ensino inovador: o importante seria focalizar a ressonância entre as posições do professor (o tipo de discurso) e dos alunos (o tipo de transferência). Tais categorias de artigos-pareceres, publicados na sessão Perspectivas da Revista Ensaio e alinhados com a proposta da Ciência Aberta, com clareza, confiabilidade, respeito e transparência podem expandir e ultrapassar análises, contribuindo com discussões cada vez mais amplas e correlacionadas, em um movimento de diálogo e construção de conhecimento científico mais interativo, dialógico e aprofundado.
Leia mais
FINK, B. O Sujeito Lacaniano – entre a linguagem e o gozo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 1998.
LACAN, J. O seminário, Livro 17: o avesso da psicanálise, 1969-1970. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 1992.
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PEREIRA, M.R. Subversão docente: ou para além da “realidade do aluno”. In: MRECH, L.M. O impacto da psicanálise na educação. São Paulo: Avercamp, 2005.
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VILLANI, A. and BAROLLI, E. Os discursos do professor e o ensino de Ciências. Pro-Posições [onlie]. 2006, vol. 17, no. 1, pp. 155-175 [viewed 24 May 2022]. Available from: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8643662.
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LIMA, G.K. and LANGHI, R. Observando o invisível: a relação transferencial a partir dos discursos entre crianças e professoras monitoras em um observatório astronômico. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências [online]. 2021, vol. 23, e257365 [viewed 24 May 2022]. https://doi.org/10.1590/1983-21172021230115. Available from: https://www.scielo.br/j/epec/a/pNGJ6mzPQQsFyndcrRbbgCJ/
NASCIMENTO, W.E. and VILLANI, A. Instante de ver, tempo para compreender e momento de concluir: apontamentos sobre Psicanálise e Educação em Ciências. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências [online]. 2021, vol. 23, e36400 [viewed 24 May 2022]. https://doi.org/10.1590/1983-21172021230126. Available from: https://www.scielo.br/j/epec/a/pnGcVHsm7VrHNF4BHjRpZVm/
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