João Barros, professor do Programa de Pós-Graduação em Integração Contemporânea na América Latina (PPGICAL) e do curso de Ciência Política e Sociologia da Universidade Federal da Integração Latino Americana – UNILA, Foz do Iguaçu, PR, Brasil.
O artigo Psychiatric discourse and Hygienism – Normalization and Liberalism in Latin America from Michel Foucault é uma tentativa de aproximar os conceitos de Foucault à realidade latino-americana. Assumimos o desafio de repercutir uma relação já exposta por outros autores: enxergar o Higienismo como uma estratégia biopolítica na América Latina. Em um momento de movimentos independentistas, o Liberalismo era a doutrina política predominante em nosso continente. Durante esse período, a luta pela moralização da população era um dos motes mais caros à elite política.
Discutir a relação entre Liberalismo e Higienismo na América Latina naquele tempo é possível a partir da disseminação do discurso psiquiátrico tal como proposto por Foucault. Com ele, a defesa da moralização da família e da sociedade passava pelo alarde sobre o perigo de degeneração que rondava a ambas. Nesse contexto, o risco de perversão relacionado à infância pobre era um dos perigos mais eminentes. Aliado a propósitos nacionalistas e raciais, o discurso psiquiátrico foi usado para revestir o corpo da criança pobre, visando preservar a força nacional através da preservação da raça. Assim, produção de corpos saudáveis e estigmatização racial andaram de mãos dadas a serviço da nação. Em prejuízo aos povos originários, negros e despossuídos, o Liberalismo pensou a cidadania através do Higienismo, normalizando a educação. Uma grande operação de limpeza.
Imagem: Fiocruz
Em solo brasileiro, vimos como o ideal de aperfeiçoamento eugênico fundado na purificação da raça foi compartilhado pela Liga Brasileira de Higiene Mental (LBHM), atuante na defesa de procedimentos como a esterilização compulsória de grandes degenerados e criminosos. Se o faziam, é porque consideravam que o pobre não tinha domínio sobre seu corpo, dando lugar a uma nova geração de vidas indignas de serem vividas. Com isso, o processo de normalização passa justamente pela produção discursiva sobre o anormal, sendo possíveis alvos de hostilidade.
Aqui pode ser destacado um ponto importante: a legitimação da violência sobre o diferente. Durante o período 2023-2026, a Câmara dos Deputados do Brasil terá como maior bancada o Partido Liberal, do qual faz parte o atual presidente Jair Bolsonaro. Com esse dado é possível perceber como a legitimação da violência contra os “anormais”, aqueles considerados um perigo à sociedade, chega a nossos dias pela mesma corrente ideológica. Diante desse fato, esse texto busca dar subsídios para denunciar esse laço histórico em nossa sociedade.
Leia mais
BACARLETT PÉREZ, M. L. Una historia de la anormalidad. Finitud y ciencias del hombre en la obra de Michel Foucault. México: Gedisa/UAEM, 2016.
FOUCAULT, M. El poder psiquiátrico. Translation by Horacio Pons. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2007.
SCHWARCZ, L. M. O espetáculo das raças. Cientistas, instituições e questão racial no Brasil 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
SILVEIRO A., J. M. Suciedad, cuerpo y civilización. Asunción: Gedisa/UAEM, 2014.
STEPAN, N. L. A hora da eugenia. Raça, gênero e nação na América Latina. Translation by Paulo M. Garchet. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2005.
BARROS, J. Saber/poder/violência: a produção dos anormais pelo Liberalismo [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2022 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2022/11/09/saber-poder-violencia-a-producao-dos-anormais-pelo-liberalismo/
O artigo Psychiatric discourse and Hygienism – Normalization and Liberalism in Latin America from Michel Foucault é uma tentativa de aproximar os conceitos de Foucault à realidade latino-americana. Assumimos o desafio de repercutir uma relação já exposta por outros autores: enxergar o Higienismo como uma estratégia biopolítica na América Latina. Em um momento de movimentos independentistas, o Liberalismo era a doutrina política predominante em nosso continente. Durante esse período, a luta pela moralização da população era um dos motes mais caros à elite política.
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