Débora Mazza, Professora associada, Pesquisadora do CNPq, Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, Campinas, SP, Brasil.
Celso João Ferretti, Professor aposentado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Centro de Estudos Educação e Sociedade, Campinas, SP, Brasil.
Carmem Sylvia Vidigal Moraes, Professora titular, Universidade de São Paulo, Faculdade de Educação, São Paulo, SP, Brasil.
O debate em torno das juventudes e suas formas de pensar, agir, sentir e se relacionar tem mobilizado atenções no Brasil e no mundo e passa pela consideração de vários processos concomitantes de aprofundamento das desigualdades sociais e econômicas que têm distanciado em escala planetária os mais ricos dos mais pobres e miseráveis.
Dados demográficos apontam que ¼ da população do Brasil e do mundo é composta por jovens de 15 a 35 anos, estando exposta à internacionalização da economia e à globalização do consumo que promovem uma aparente uniformização das culturas juvenis por meio da expansão da escolarização e de políticas públicas voltadas a este segmento.
Além dessa tendência, tem-se como um dos efeitos da pandemia a intensificação do uso das tecnologias da comunicação e da informação, criando-se, dentre outros mecanismos, ambientes virtuais, e-learning, plataformas digitais de relacionamento, novas formas de entretenimento e comunidades de games supranacionais.
Historicamente o fenômeno das juventudes ganha notoriedade com o advento das sociedades modernas, urbanas e industriais e se espraia para todas as esferas da sociabilidade como uma fase transitória entre a condição infantil e a adulta, sem limites precisos e não demarcada por rituais sociais rígidos. Do ponto de vista das ciências humanas, a preocupação central não se limita à crise de identidade, ao amadurecimento biológico, ao desenvolvimento psicológico ou aos comportamentos oscilantes e contraditórios, mas a investigar como esses sujeitos se constituem histórica e culturalmente por meios particulares e universais.
Do ponto de vista educacional, como indica a tradição pedagógica clássica, antiga e atual (desde Sócrates até Paulo Freire, passando por Jean Piaget e John Dewey), a preocupação com a juventude torna-se indispensável para se enfrentar adequadamente o desenvolvimento econômico acompanhado de desenvolvimento humano e social. Preocupar-se com a educação ampla e plural da juventude, na intersecção com a classe social, raça, religião e gênero é algo vital para o fortalecimento do exercício da cidadania democrática e, com ela, da formação do sentimento de responsabilidade ético-política por questões cruciais da humanidade hoje, como o aumento da pobreza, da fome, da injustiça social e da destruição ambiental.
É preocupante, hoje, a convivência de movimentos concomitantes e desiguais que incidem sobre as juventudes, tanto fortalecendo potenciais que sinalizam resistências, indignações, inventividades e transformações sociais inclusivas, quanto aliciando-as em interpretações bíblico-evangélicas de seitas norte-americanas da teologia da prosperidade, oriundas do marketing empresarial, da literatura de autoajuda, da ideologia empreendedorista e da doutrinação pseudocientífica, relativa à aquisição de riquezas como gerência da vida pessoal, promovendo na sociedade um “totalitarismo soft” (SODRÉ, 2022).
Expressão disso é, no Brasil, a definição da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que incide sobre o conjunto da educação básica, e em particular, sobre o ensino médio por meio da Lei 13. 415/2017, a qual – em sua política excludente e de reforço das desigualdades – restringe o acesso dos estudantes da escola pública ao conhecimento, promovendo o aligeiramento do currículo e o acoplamento da formação a uma abordagem individualista, competitiva e instrumental, ancorada na pedagogia das competências, que faz da “adaptabilidade” o seu fundamento na contenção dos imensos contingentes de jovens trabalhadores desempregados e em situação de informalidade, visando melhor coisificá-los e transformá-los em meros agentes monetarizados.
A BNCC e a Reforma do Ensino médio, de caráter sistêmico, articulam-se a um conjunto mais amplo de reformulações curriculares impostas pela agenda do Ministério da Educação (MEC) no mesmo período: a Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica (BNCC Formação), presente na Resolução CNE/CP nº 2, de 20 de dezembro de 2019; a reformulação do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e a dos processos avaliativos; e sua adequação à lógica de monitoramento das avaliações padronizadas; em larga escala do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) e do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).
Essas ações estão sendo desenvolvidas segundo orientação política e pedagógica de agentes privados, representantes dos interesses de diferentes setores do empresariado no campo educacional, principalmente do capital financeiro, via transferência de responsabilidades do setor público para esses aparelhos privados de hegemonia, os quais se tornam cada vez mais influentes e articulados no plano nacional.
No caos ideológico do credo neoliberal do mercado autorregulável, a pandemia nos atinge impondo cenários distópicos, de projetos demolidores como Escola Sem Partido, Escolas Cívico Militares, Homescholling, Notório Saber, Ensino à Distância, fim da demarcação das terras indígenas, devastação das florestas amazônicas, liberação do uso de armas e de agrotóxicos e acionamento de imaginários coletivos passadistas, violentos e insensíveis.
No limite, o que está em questão são os contextos sociais e os processos formativos das juventudes na contemporaneidade. Por isso, Educação & Sociedade convida pesquisadoras e pesquisadores do campo da educação e afins, baseando-se nas Instruções aos Autores, a apresentarem resultados de suas investigações na Seção Especial.
Data de envio: até 30 de abril de 2023.
Normas para submissão: https://www.scielo.br/revistas/es/pinstruc.htm
Publicação: Volume 44
Referências
SODRÉ, Muniz. Astúcias para novos golpes. Folha de S. Paulo. 2022.
Links externos
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