Alisson Flávio Barbieri, Professor Titular do Departamento de Demografia e do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil.
Raquel de Mattos Viana, Pesquisadora da Fundação João Pinheiro (FJP), Belo Horizonte, MG, Brasil.
Vanessa Campos de Oliveira Soares. Pesquisadora do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil.
Raquel Aline Schneider, Pesquisadora do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil.
A relação entre população e ambiente tem sido objeto perene de estudo na demografia, desde os impactos do crescimento e tamanho populacional sobre a oferta de alimentos e a releitura de Malthus pelos neomalthusianos ao longo do século XX até a sua relação com padrões de produção e consumo (BARBIERI, 2011).
Entretanto, a complexidade dos problemas ambientais contemporâneos tem gerado desafios para a compreensão das dimensões humanas e das respostas a esses processos. A rigor, algumas consequências das transições demográficas em curso, como envelhecimento populacional e padrões de mobilidade (ZELINSKY, 1971) e de morbimortalidade (OMRAN, 1971), interagem com as complexas transformações ambientais globais (BARBIERI; PAN, 2022). Estes fenômenos colocam um desafio à demografia: como compreender os danos ou impactos de desastres sobre as populações a partir de conceitos, teorias e instrumentos de análise demográfica?
O artigo Contribuições teóricas para uma demografia dos desastres no Brasil (Rebep, vol.39, 2022) propõe, a partir da pergunta colocada anteriormente, uma revisão da literatura que tem aproximado a demografia e as pesquisas em desastres em um campo de estudos sobre demografia dos desastres.
A revisão de conceitos como desastre, risco, vulnerabilidade e resiliência serve como base para a proposição de um marco teórico que discute as inter-relações entre (1) as respostas demográficas; (2) os tipos de desastres; (3) as condições de vulnerabilidade socioambientais pré-existentes e; (4) a adaptação das estratégias domiciliares e individuais.
As respostas demográficas (1) representam como os componentes da dinâmica demográfica respondem aos desastres ou são condições subjacentes para o nível e intensidade dos desastres. Tais respostas assumirão especificidades e um potencial agravo (ou minimização) dos impactos conforme o tamanho da população, o seu estágio nas transições populacionais e suas condições socioambientais preexistentes.
Os tipos de desastres (2) podem ser definidos de acordo com a sua relação tempo–magnitude: um evento de início súbito (inundações ou rompimento de barragens) e outro gradual (seca e degradação do solo). O tempo-magnitude do evento é fundamental para definir a resposta sociodemográfica de um domicílio e seus indivíduos, ruptura ou a emergência de estruturas demográficas, que dependem também da percepção social sobre a severidade do evento.
As condições de vulnerabilidade socioambientais preexistentes (3) dependem de arranjos e características contextuais e institucionais (BLACK, et al, 2011; ADGER, ADAMS, 2013). Autores como Leighton (2011) e Warner et al. (2011) sugerem que impactos ambientais como secas, degradação do solo e desertificação não são, normalmente, a causa única da mobilidade populacional como uma estratégia adaptativa envolvendo uma diversidade de fatores individuais, domiciliares e contextuais. Frankenberg, Laurito e Thomas (2015) ressaltam que as respostas dos três componentes da dinâmica demográfica dependem não apenas da natureza dos desastres, mas também das políticas e programas implementados antes e depois dos desastres.
A adaptação das estratégias domiciliares e individuais (4) refere-se à resposta disponível e factível aos desastres, diante da natureza destes e da estrutura demográfica. A forma de adaptação irá, ex-post, afetar as condições socioambientais subjacentes.
Além disso, a validação do marco teórico passa por sete princípios que articulam os conceitos centrais em demografia e pesquisas em desastres, quais sejam: a multidimensionalidade; a heterogeneidade populacional; territorialidade; temporalidade; percepção social dos riscos; mensuração e políticas de adaptação e construção de planejamento.
Por fim, o artigo salienta que a demografia é fundamental para criar ou aperfeiçoar metodologias, políticas públicas e capacidades de gestão e planejamento para lidar com os desastres, contribuindo para consolidar uma perspectiva científica que antagonize discursos de “naturalização” dos desastres.
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Para ler o artigo, acesse
BARBIERI, A.F., et al. Contribuições teóricas para uma demografia dos desastres no Brasil. Rev. bras. estud. popul. [online]. 2022, vol. 39, e0227 [viewed 24 February 2023]. https://doi.org/10.20947/S0102-3098a0227. Available from: https://www.scielo.br/j/rbepop/a/nQcGsKmrNV6dmKF4wZDxgDK/
Links externos
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