A dor da automutilação como recurso desesperador para aliviar a angústia de jovens estudantes

Gianna de Lara, Psicóloga, Universidade de Santa Cruz (UNISC), Santa Cruz do Sul, RS, Brasil.

Logo do periódico Educação e PesquisaO artigo Automutilação na adolescência e vivência escolar: uma revisão integrativa da literatura mostra que o sofrimento psíquico de alunos em ambiente escolar é comum e que, por vezes, está associado à automutilação. De acordo com Reis (2018), partindo de uma perspectiva psicológica que denomina o fenômeno como automutilação, o objeto que recebe o corte é o próprio corpo do sujeito, e este corpo é “constituído e atravessado pela linguagem” (CUKIERT, 2004, pp. 233).

A partir de dados coletados na Revisão Integrativa da Literatura, destacaram-se 13 artigos das bases de dados SciELO e Scopus, do acesso ao Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Os documentos utilizados foram artigos nos idiomas inglês ou português, publicados dentro dos últimos dez anos e na área de estudo da psicologia. Após a seleção do material, os estudos passaram por leitura completa e análise de conteúdo com o intuito de identificar as informações principais de acordo com o tema em questão.

Foto: dois braços estendidos sobre um fundo branco. Há marcas de cortes cicatrizados na parte interna do braço.

Imagem: ShutterStock.

A realização desta Revisão Integrativa da Literatura permite observar a importância do tema automutilação, pois há um número expressivo de artigos publicados, totalizando 1.666. Por outro lado, pesquisas que relacionam especificamente “automutilação”, “escola” e “professor” são incipientes, pois a busca nas bases de dados alcançou somente 16 documentos, dos quais 13 foram avaliados como de acordo com a temática. Esses dados revelam a necessidade de pesquisas que relacionem automutilação na adolescência, o contexto escolar e a preparação dos professores para abordar tais situações.

A hipótese principal apoiou-se na teoria de que a palavra, o gesto, a vivência e as atitudes como um todo, tanto individual como coletivamente, surgem nesse contexto como fatores geradores da aceitação de suas questões psíquicas e de ocasionadores do ato de se automutilar. Àquele que se automutila, qualquer ação é menos dolorosa do que a dor interna que os perturba e os angustia. Portanto, a força ou mesmo a coragem para enfrentar tais situações está nas relações humanas.

A família, a escola e a sociedade são pontos de referência para a maturidade e aceitação do seu eu, assim, para não mais existir apenas a pulsão da morte, e sim ser gerador da pulsão da vida. A escola e os professores precisam estar atentos aos sinais da automutilação, tais como uso de blusas de frio em altas temperaturas, isolamento e sintomas de baixa autoestima. Educação e saúde andam lado a lado, e a escola é um espaço com potencial para contribuir nos processos de intervenção precoce que garantem a qualidade de vida aos adolescentes, evitando o extremo da automutilação.

Referências

CUKIERT, M. Considerações sobre corpo e linguagem na clínica e na teoria lacaniana. Psicol. USP [online]. 2004, vol. 15, no. 1-2, pp. 225-241 [viewed 29 March 2023]. http://doi.org/10.1590/S0103-65642004000100022. Available from: https://www.scielo.br/j/pusp/a/nRhfWGh4sJLp6QMcvVbKHwQ/

REIS, M.N. Automutilação: O Encontro Entre o Real do Sofrimento e o Sofrimento Real. Polêm!Ca [online]. 2018, vol. 18, no. 1, pp. 50-67 [viewed 29 March 2023]. https://doi.org/10.12957/polemica.2018.36069. Available from: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/polemica/article/view/36069

Para ler o artigo, acesse

LARA, G., SARAIVA, E.S. and COSSUL, D. Automutilação na adolescência e vivência escolar: uma revisão integrativa da literatura. Educ. Pesqui. [online]. 2023, vol. 49, e249711 [viewed 29 March 2023]. https://doi.org/10.1590/S1678-4634202349249711por. Available from: https://www.scielo.br/j/ep/a/BQzSdhJ48JZ48DbDqtwLynf/

Sobre Gianna de Lara

Gianna de Lara, psicóloga, pós-graduanda em psicologia escolar e educacional pela Faculdade Dom Alberto. Realizou curso de capacitação e aperfeiçoamento em terapia cognitivo comportamental, estimulação e avaliação (2020). Foi bolsista de ensino PROBAE (2019) Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul, Brasil.

Links externos

Educação e Pesquisa – EP: https://www.scielo.br/j/ep/

Educação e Pesquisa – Revista da Faculdade de Educação da USP: http://www.educacaoepesquisa.fe.usp.br/

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

LARA, G. A dor da automutilação como recurso desesperador para aliviar a angústia de jovens estudantes [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2023 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2023/03/29/a-dor-da-automutilacao-como-recurso-desesperador-para-aliviar-a-angustia-de-jovens-estudantes/

 

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