Deborah Cotta, doutoranda no Programa de Pós-graduação em Educação: Conhecimento e Inclusão Social, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (PPGE/FaE/UFMG). Belo Horizonte, MG, Brasil.
Fernando César Silva, professor adjunto, Faculdade de Educação da UFMG, Belo Horizonte, MG, Brasil.
Lúcia Helena Sasseron, professora associada, Faculdade de Educação da USP, São Paulo, SP, Brasil.
A ideia de que a atividade científica é social vem fomentando práticas no ensino de ciências para a promoção da interação entre os estudantes e o(a) professor(a) com normas e práticas da ciência, materiais e conhecimentos. A ausência de pesquisas que estudam os domínios do conhecimento no Ensino Superior e o interesse em ampliar as compreensões e discussões sobre o domínio social do conhecimento foi o que motivou a pesquisa apresentada por Fernando Silva e Lúcia Sasseron no artigo Entre normas e rotinas da Química Orgânica: o trabalho com os domínios do conhecimento científico, publicado no volume 25 da Revista Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências.
Para os autores, a perspectiva do ensino de ciências como prática social só se sustenta quando os domínios social, conceitual, epistêmico e material são acessados por professores(as) e estudantes. A discussão sobre as características dos domínios social, epistêmico e conceitual do conhecimento científico foram propostas por Duschl (2008) e do domínio material por Stroupe (2014).
Fernando Silva e Lúcia Sasseron analisaram as interações discursivas entre professora e estudantes ao longo de duas aulas de Química Orgânica II ministradas em uma universidade pública. Os domínios do conhecimento científico mobilizados pela professora foram identificados e apresentados ao longo das interações entre ela e os estudantes. A professora utilizou livros, slides e o quadro branco, e os autores destacam a presença constante de representações, tais como estruturas químicas, equações e mecanismos de reação durante as aulas.
Os resultados da análise indicaram que o domínio epistêmico surgiu em poucas situações, e os domínios mobilizados com mais frequência foram o conceitual e o material. O domínio social esteve presente especialmente nos momentos de uso das representações e foi caracterizado pelo estabelecimento de normas e rotinas da ciência pela professora sem a abertura para a participação e negociação dos estudantes.
Os autores destacam os domínios social e material em suas discussões e análises. Os modos como a professora mobiliza o domínio social são problematizados a partir das ideias de Longino (1990; 2002) sobre as normas sociais do conhecimento científico, que exigem o estabelecimento de padrões públicos de análise, e de Goodwin (2008; 2010) de que os critérios definidos pela comunidade de Química Orgânica foram utilizados pela professora para estabelecer a compreensão dos estudantes sobre os conceitos e processos. Sobre o domínio material, os autores identificaram que a professora utilizou as representações como objetos técnicos em suas aulas, vinculando a representação com seus contextos de produção, sem, no entanto, propor modificações ou problematizações.
Assim, este trabalho tem potencial para contribuir com o Ensino de Química, uma vez que levanta discussões sobre o uso das representações vinculadas aos seus contextos de produção e aos processos investigativos que podem ser desdobrados, assim como permite reflexões sobre o currículo de Química Orgânica no Ensino Superior. Para a pesquisa da área de Educação em Ciências, o artigo problematiza a caracterização dos domínios social e material de modo que possam ser desenvolvidas a fim de potencializar a participação dos estudantes em interações e negociações durante as aulas.
COTTA, D., SILVA, F.C and SASSERON, L.H. Mobilização de domínios do conhecimento científico em aulas pode potencializar participação de alunos [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2023 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2023/10/03/mobilizacao-de-dominios-do-conhecimento-cientifico-em-aulas/
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