Giuliano Souza Andreoli, doutorando em Sociologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.
Desenvolvida ao longo de 2021 e 2022, a investigação Flamenco Negro: uma análise do espetáculo da Companhia De Arte La Negra Ana Medeiros foi conduzida por um pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com o objetivo de refletir sobre o modo como o racismo e, por conseguinte, as formas de violência através das quais ele opera impactam, hoje em dia, nas práticas em Dança; e como elas produzem, como resposta artística, narrativas ou poéticas da negritude na cena.
O artigo procura relacionar a perspectiva de um coletivo de autores da chamada “nova historiografia do flamenco” com a perspectiva historiográfica do Atlântico Negro. Nessa discussão, é constatado que, embora a origem da arte flamenca remonte ao sul da Espanha, especificamente à região da Andaluzia, o Flamenco tem influências de várias culturas, incluindo a moura, cigana, judaica, africana e afro-americana. Assim, o trabalho discute como a mistura de danças e ritmos afrodiaspóricos no flamenco pode ser vista como parte da experiência coletiva da diáspora negra, em uma dimensão transnacional.
Figura 1. Espetáculo Flamenco Negro, da Companhia de Arte La Negra Ana Medeiros. Artistas: Ana Medeiros, Gabriela Vilanova, Patricia Correa, Rose Correa, Bianca Benevenutto e Jemima Ruedas. 20 de novembro de 2021, Porto Alegre, Brasil.
Procurando evitar a análise isolada da obra de arte, separada do conjunto das relações sociais que a produziram, o estudo procurou, também, adotar uma proposta metodológica ainda pouco explorada em reflexões sobre as práticas desse tipo nas artes da cena no Brasil, que consistiu na combinação da pesquisa social com a metodologia de análise do espetáculo.
A pesquisa demonstrou que o espetáculo “Flamenco Negro”, apresentado no Brasil desde 2021, ao abordar a influência afrodiaspórica no Flamenco e utilizar referências de outras danças e músicas relacionadas à cultura negra atlântica, rompeu com concepções fechadas e tradicionalistas sobre essa arte. Com isso, trouxe à tona a importância da valorização dessa expressão artística como forma de resistência e afirmação cultural negra. Além disso, o espetáculo reafirmou o protagonismo do corpo negro na cena de dança e, ao tratar dos temas do racismo, da resistência e da identidade negra, se tornou uma parte vital de um processo de tomada de consciência racial para as próprias bailarinas negras envolvidas no processo.
Referências
GILROY, P. O Atlântico Negro: modernidade e dupla consciência. Rio de Janeiro: Editora 34, 2001.
GOLDBERG, K.M. Sonidos Negros: on the blackness of flamenco. Dance Chronicle [online]. 2014, vol. 37, no. 1, pp. 85-113 [viewed 09 February 2024]. https://doi.org/10.1080/01472526.2014.877316. Available from: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/01472526.2014.877316
GOMES, A.G. and CRUZ, J. O Flamenco Negro: a elegância e a graça da espanhola com a vivacidade da brasileira. In: LÓPEZ-GALLUCCI, N.M. (Org.). Estamos Aqui: debates afrolatinoamericanos em perspectiva Brasil Argentina – volume 2. Juazeiro do Norte: Universidade Federal do Cariri, 2022.
HALL, S. Da Diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2003.
Links externos
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Flamenco Negro (Ana Medeiros): https://www.youtube.com/watch?v=vW4vasuvciM&t=3643s
Flamenco Negro – Cia de arte La Negra Ana Medeiros: https://www.youtube.com/watch?v=fJEsZXyojW4
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