Rosana Areal de Carvalho, professora pesquisadora do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil.
O artigo Um escafandrista entre os anatolianos: os escritos de Primitivo Moacyr, publicado no periódico Educação em Revista, investiga as condições de produção do livro inaugural de Primitivo Moacyr, intitulado “O ensino público no Congresso Nacional. Breve Notícia”, que reúne suas crônicas publicadas no Jornal do Commercio em 1915. Funcionário da Câmara dos Deputados e responsável pela organização dos Documentos Parlamentares, Moacyr lançou mão dessa posição para se colocar no cenário da imprensa brasileira e no ambiente intelectual, tratando de um tema que ganhava projeção e sobre o qual pouco ou quase nada havia de estudos: o debate sobre o ensino público entre os parlamentares.
Apresentamos as condições materiais do escrito, da organização do conteúdo frente às publicações anteriores nas páginas do Jornal do Commercio, conectado aos trabalhos de Moacyr na coleção “Documentos Parlamentares”. O contexto de produção da escrita moacyrniana emerge do cenário delineado pelas redes de sociabilidade.
Sua obra tem sido objeto de nossas pesquisas há pelo menos uma década, quando iniciamos por conhecer a trajetória do autor, tratando-o como um intelectual imerso em redes de sociabilidade políticas, educacionais e sociais. Não dispondo de um acervo pessoal, utilizamos como fonte principal a imprensa jornalística e de entretenimento. As análises foram desenvolvidas sob o arcabouço dos trabalhos da história da educação na interface com a história dos impressos, da imprensa, do livro e da leitura, produzidas pela historiografia internacional e nacional, e de contribuições teórico-metodológicas da história política de Sirinelli (2003).
Imagem: arquivo pessoal da autora.
Dentre as condições aqui apresentadas, destacamos o trabalho de Moacyr como redator dos debates parlamentares e a relação entre os homens da Câmara, das letras e do jornalismo brasileiro. As redes de sociabilidades nas quais estava inserido garantiram produtivos vínculos sociais e profissionais, e a tensão política em torno do governo Hermes da Fonseca alimentava as críticas às reformas educacionais, em especial à Reforma Rivadávia, um dos assuntos abordados no livro.
Moacyr era presença assídua nas atividades promovidas pelas associações intelectuais, apesar de não ter se filiado a nenhuma delas. Frequentou outros espaços de debates, entre almoços, jantares e cafés. O arquivo da Câmara dos Deputados foi a principal fonte de pesquisa para o conteúdo de suas crônicas. Um escafandrista em meio aos anatolianos, dândis e aos reformadores da instrução pública brasileira. Reunir as crônicas no suporte livro inscrevia Moacyr no cenário intelectual, garantindo uma permanência que o jornal diário não oferecia.
CARVALHO, R.A., MACHADO, R.R. and MOURA, M.C.C.S. O Ensino Público no Congresso Nacional: de uma Breve Notícia à Edição Comentada. 1. ed. Belo Horizonte: Memorabilis, 2021, vol. 1, pp. 488.
SIRINELLI, Jean-François. Os intelectuais. In: RÉMOND, R. (dir.). Por uma história política. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 2003.
CARVALHO, R.A. Crônicas de Primitivo Moacyr revelam o panorama das reformas educacionais no início do século XX [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2024 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2024/08/02/cronicas-de-primitivo-moacyr/
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