Bräulio Marques Rodrigues, pesquisador, Universidade Federal do Pará (UFPA), Belém, PA, Brasil.
No artigo Quem enfrentar um monstro deve tomar cuidado para não se tornar outro: Peter Sloterdijk e a negação da Teoria Crítica, publicado no periódico Trans/Form/Ação (vol. 48, no. 4, 2025), o autor Bräulio Marques Rodrigues propõe uma análise crítica aprofundada sobre a relação entre a filosofia de Peter Sloterdijk e a tradição da Teoria Crítica. A partir do diagnóstico de Sloterdijk sobre o estatuto político da teoria na filosofia contemporânea alemã, o autor examina como Sloterdijk rejeita a centralidade da negatividade e da consciência infeliz, conceitos fundamentais na abordagem de pensadores como Jürgen Habermas e Axel Honneth.
Em contrapartida, Sloterdijk propõe uma reformulação da crítica social baseada na autoafirmação timótica e na lógica da dádiva, resgatando elementos da tradição nietzscheana para reformular a relação entre teoria, política e subjetividade. O artigo investiga essa oposição por meio de uma análise comparativa entre Sloterdijk, Habermas e Honneth, destacando as implicações políticas e sociais do deslocamento da crítica da ideologia para um paradigma afirmativo.
Neste artigo, parto da Crítica da Razão Cínica, de Sloterdijk, para discutir como a Teoria Crítica se baseia na dor e na negatividade como fundamentos para a emancipação social. Exploro as diferenças entre a abordagem de Habermas, que valoriza a racionalidade discursiva, e a de Sloterdijk, que propõe uma crítica pautada no thymos, na autoafirmação e na superação do ressentimento. Além disso, examino a polêmica entre Sloterdijk e Habermas, especialmente a respeito do papel do Estado de bem-estar social e das relações entre justiça social, redistribuição econômica e liberdade individual.
Aprofundo minha análise nas críticas de Sloterdijk à concepção tradicional de justiça social e à redistribuição estatal, explorando como sua proposta de uma “economia da dádiva” busca substituir a tributação compulsória por um sistema de contribuições voluntárias, fundamentadas no orgulho e na autoafirmação dos cidadãos. Discuto como essa abordagem se insere dentro de um debate mais amplo sobre o papel do Estado e das elites na construção de uma sociedade mais justa, além de considerar as objeções levantadas por Axel Honneth, que argumenta que um modelo baseado apenas na generosidade espontânea pode perpetuar desigualdades estruturais.
Imagem: Peter Sloterdijk
Também investigo a visão de Sloterdijk sobre a evolução histórica da Teoria Crítica e sua transformação ao longo do tempo. A crítica à “consciência infeliz” como motor da emancipação social e a defesa de uma postura afirmativa são exploradas em contraposição à tradição habermasiana, que enfatiza a racionalidade comunicativa como meio para a superação dos conflitos sociais. Examino como Sloterdijk reinterpreta o conceito de crítica filosófica, afastando-se do paradigma da denúncia e se aproximando de uma ética baseada no fortalecimento do sujeito e na construção de um ethos social mais dinâmico e participativo.
Além disso, discuto as implicações dessa nova abordagem para o pensamento contemporâneo, questionando se a proposta de Sloterdijk representa um avanço na crítica social ou se corre o risco de legitimar desigualdades ao deslocar o foco da transformação estrutural para a ação individual. Convido o leitor a refletir sobre os limites e as possibilidades da crítica filosófica em um cenário de crise das ideologias e de reconfiguração das relações entre política, subjetividade e economia.
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RODRIGUES, B.M. Quem enfrentar um monstro deve tomar cuidado para não se tornar outro: Peter Sloterdijk e a negação da Teoria Crítica. Trans/Form/Ação [online]. 2025, vol. 48, no. 4, e025045 [viewed 30 April 2025]. https://doi.org/10.1590/0101-3173.2025.v48.n4.e025045. Available from: https://www.scielo.br/j/trans/a/6FrT9jkyBP3qyddvBZgTfpS/
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