Mateus Henrique Amorim Moura Rocha, pesquisador, Cátedra Oscar Sala, Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP), São Paulo, SP, Brasil.
Não nos damos conta, mas estamos eternamente nele: o mundo das mídias digitais criou a figura do “cronicamente on-line” e não são poucas as manobras e instrumentos utilizados pelas plataformas para que o olhar se direcione a todo momento às telas. Mesmo sem depender da mídia física, jornais e meios de comunicação tradicionais enfrentam fortes obstáculos para se manterem relevantes na era digital, o que pode resultar em consequências danosas à democracia.
Para investigar a relação conturbada entre as plataformas digitais e o jornalismo tradicional, Rogério Christofoletti, autor do artigo Ameaças das plataformas digitais ao jornalismo: contributos para a regulação, publicado no periódico Estudos Avançados (vol. 39, no. 113, 2025), baseado na literatura especializada, avaliou o teor dos apoios das Big Techs ao setor jornalístico, como também a efetividade dos investimentos e incentivos feitos por essas empresas para dirimir os resultados deletérios à subsistência dos jornais.
O artigo, ao traçar as ações das Big Techs em prol da moderação de conteúdo on-line, sintetiza alguns dos programas mais relevantes de fortalecimento do jornalismo profissional e combate à desinformação: Google News Iniciative (GNI) e o Meta Journalism Project (MJP). Ambos promovem capacitações e treinamentos profissionais, fornecem produtos e soluções tecnológicas às redações, como também financiam iniciativas de checagem de dados.
Apoiado em Nilsen e Ganter (2022) e Bell (2021), o autor argumenta que tais iniciativas, embora superficialmente benéficas, refletem um arcabouço de riscos para o setor jornalístico, na medida em que exacerba as assimetrias de poder entre setores, favorece uma maior dependência tecnológica para com as ferramentas das Big Techs, além da possível perda de independência editorial com a progressiva influência capital destas empresas no meio. Ademais, o ensaio elucida que tais apoios, muitas vezes financeiramente insuficiente, servem para abrandar a opinião pública frente a essas empresas, objetivo crucial quando a regulação das plataformas é pauta mundialmente.
Por fim, consoante as mobilizações internacionais, o Brasil trilha esforços para regular as relações ruidosas entre os setores da mídia. Exercícios como o Projeto de Lei (PL) n. 2.630/20, “PL das Fake News”, e o PL n. 2.370/19, ambos suspensos, mostram a força do lobbying e poderio político das plataformas para evadir a regulação de suas atividades, assim como ilustram possíveis riscos à democracia. A sobrevida do jornalismo tradicional perpassa pelas novas oportunidades e pela clareza dos limites entre os setores, ainda que seja um caminho pernicioso.
Para ler o artigo, acesse
CHRISTOFOLETTI, R. Ameaças das plataformas digitais ao jornalismo: contributos para a regulação. Estudos Avançados [online]. 2025, vol. 39, no. 113, e39113289 [viewed 5 May 2025]. https://doi.org/10.1590/s0103-4014.202539113.017. Available from: https://www.scielo.br/j/ea/a/8hHNLM7tdB5HBvYQr5tNd3L/
Referências
BELL, E. Do Technology Companies Care About Journalism? In: SCHIFFRIN, A. (ed.) Media Capture: how money, digital platforms, and governments control the news. New York: Columbia University Press, 2021
NILSEN, R. K. and GANTER, S. A. The power of platforms: shaping media and society. Oxford: Oxford University Press, 2022
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